Com restrições do governo, jantar vira happy hour
Como o setor gastronômico reagiu nas últimas duas semanas, do endurecimento das medidas pelas autoridades à suspensão das ordens
Por Saulo Yassuda
As portas precisam estar fechadas às 8 da noite, horário em que, num passado próximo, muitos clientes nem haviam pedido o Uber para ir ao restaurante. “Esse período mais restrito acabou com o nosso jantar”, lamenta o empresário Juscelino Pereira, sócio do italiano Piselli, nos Jardins, entre outros endereços.
Para estimular a freguesia a aparecer mais cedo, passou a oferecer um petisco a quem pede um drinque e uma taça de vinho aos que comem um prato.
De acordo com os decretos do governo, desde 25 de janeiro os estabelecimentos deveriam encerrar as atividades às 20h, de segunda a sexta, e não receber mais o público aos fins de semana, pelo menos até o domingo (7).
Na quarta (3), porém, o governador João Doria revogou o decreto que colocava todo o estado na Fase Vermelha do plano de flexibilização econômica em horários específicos, cancelando as medidas complementares. O recuo se deu após protestos do setor. A queda do número de internações por Covid-19 foi a principal razão alegada pelas autoridades.
Em resumo, os sábados e domingos retornam, mas o jantar até às 20h continuaria. Mas, nesta sexta, após o fechamento desta reportagem, Doria anunciou uma nova mudança. A Grande São Paulo retorna, a partir do sábado (6), à Fase Amarela, em que que restaurantes são permitidos a funcionar até as 22h. “Vamos continuar fevereiro inteiro com a promoção”, promete Pereira.
Outra representante da área que se mexeu durante esses dias mais duros foi a chef Bel Coelho, que toca o novo Cuia, misto de café e restaurante na livraria Megafauna, sob o Copan, no centro. A cozinheira lançou o Help Hour, serviço especial no fim da tarde para incentivar a presença do público a ir mais cedo aos estabelecimentos, que foi adotado por outros lugares, como o Le Jazz Brasserie. Bel serve petiscos como o pastel de queijo Mandala e cebola caramelada (R$ 33,00 a porção).
O Mocotó, na Vila Medeiros, seguiu rumo diferente: passou a receber frequentadores só no almoço. Se o freguês quisesse, por exemplo, petiscar os famosos dadinhos de tapioca (R$ 29,90 a dúzia) no jantar, deveria pedir delivery.
A Speranza, na Bela Vista e em Moema, decidiu inicialmente operar só para entregas e retiradas nesses dias de Fase Vermelha, pois atendem na maioria dos dias só à noite, mas os sócios voltaram após insistência de clientes. “Em vez das 18h, abrimos a partir das 17h”, diz Denis Arita, gerente operacional. “É muito corrido o horário. Você sente o desespero na cara das pessoas.”
É para não realizar um serviço tão acelerado que o chef Pier Paolo Picchi cancelou um jantar que ocorreria no Picchi, no Jardim Paulista, na quarta passada (3), junto do chef Edson Yamashita, do japonês Ryo. “Muita gente ia levar não sei quantos vinhos… Eu não ia conseguir fazer esse evento com dez pratos em duas horas”, afirma.
Durante os últimos dias, houve casos de desrespeito ao decreto. A lanchonete Ponto Chic liberou os salões de duas unidades no sábado (30) e no domingo (31). “Estamos lutando pelos empregos, pela sobrevivência da empresa e resolvi protestar”, justificou o proprietário Rodrigo Alves.
Vejinha apurou que, com a repercussão, a Vigilância Sanitária vai autuar os endereços. Entre os dias 25 e 31 de janeiro, o órgão realizou na Grande São Paulo 1 131 inspeções e 53 autuações em restaurantes, 25 delas na capital. “A maior parte das irregularidades foi extrapolar o horário de funcionamento e o não uso de máscara”, diz Maria Cristina Megid, diretora do Centro de Vigilância Sanitária.
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