Memória: Mario Tatini (1928-2020), fundador do restaurante Tatini
Grande na elegância e na delicadeza, restaurateur que sofreu de mal de Parkinson durante 23 anos morreu nesta quinta (4) aos 92 anos
Sinônimo de elegância ao conduzir seu restaurante, Mario Tatini morreu hoje (4) aos 92 anos. Ele fazia parte de uma antiga escola desse ramo da gastronomia que vem desaparecendo: a dos grandes restaurateurs, os donos de restaurante que sabem receber sem ser invasivos e fazer o cliente se sentir na sua própria casa. Uma arte.
Mario vinha de uma família ligada à gastronomia, que desembarcou no porto de Santos em 1953. Nessa época, era um rapagão de fina estampa, já dedicado às artes de receber e da boa mesa. Mas quem conduzia os negócios era seu pai, Fabrizio. Com o nome de Don Fabrizio, o restaurante funcionou de 1954 a 1979 na Avenida Ana Costa.
Desde o início, porém, Fabrizio percebeu que sua culinária refinada também seria apreciada na capital. Em 1957, chegava a São Paulo. Liderado por Fabrizio e sua mulher, Santa Maria, os filhos Mario, Athos, Yolanda, Dino e Aradan se dedicaram ao restaurante, que foi vendido em 1982.
Dos irmãos, só o primogênito permaneceu no ramo. Mario abriu, em 1983, o Tatini, que chegou a ter três endereços, dois deles com uma peculiaridade: ocupavam o térreo de flats. Pouco tempo depois, abriram em Alphaville. A partir de maio 1999, as atividades se concentram apenas na unidade da Rua Batatais, 558, no Jardim Paulista.
Nessa casa, Mario dividia a condução do salão e da cozinha com o filho, Fabrizio Neto. Entre os pratos de sucesso, está o linguine nel grana padano e fettuccine à don, variação do molho papalina acrescido de tirinhas de presunto cru salteado na manteiga com ovo batido. Certamente, quando o restaurante reabrir após o fim do isolamento social, os clientes não sentirão falta da receita feita com esmero, mas do grande anfitrião que foi seu fundador.
Mario Tatini sofreu de mal de Parkinson durante 23 anos e morreu de insuficiência cardíaca. O filho Fabrizio conta que o pai “fazia fonoaudiologia, fisioterapia e seu paladar continuou exigente. Mas, sua delicadeza infinita não mais lhe permitia fazer críticas aos alimentos que lhe eram servidos. Dizia para minha mãe: ‘hoje não estou com fome’. Um exemplo de pai, amigo, professor, companheiro, patrão. Um homem honrado.” O restaurateur deixa a viúva Gisela, os filhos Paola, Thais, Andrea Claudia e Fabrizio, os netos Júlia Andrea, Pedro Mario, Thiago e André Fabrizio e as bisnetas Cecília e Sophia. Sua história ficou registrada no livro A Receita de Mario Tatini, escrito por Teresa Cristófani Barreto em 2004. Seguindo a tradição familiar, o neto Thiago montou o restaurante Casimiro, no edifício Santos Augusta, distante uma quadra da Avenida Paulista.
Há alguns anos, sondei Fabrizio se Mário poderia ir à premiação de VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER. Ele explicou que não porque a doença incomodava demais o pai. Seria a oportunidade de o ter reconhecido como personalidade gastronômica do ano por tantos serviços prestados ao segmento. Fica aqui a minha homenagem.
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