No lado ímpar, condomínios de luxo modernos guardados por seguranças de terno. No lado par, charmosos casarões que resistiram ao tempo, mesinhas na calçada e garçons uniformizados. Em seus 1 000 metros de extensão, a Rua Tupi, no chamado Baixo Higienópolis, pertinho do Estádio do Pacaembu, abriga oito restaurantes bacanas e uma confeitaria — sem contar os bufês self-service, a padaria, as pizzarias delivery… Um novo restaurante deve ser inaugurado ali ainda neste mês. Juntos, eles fazem da rua uma espécie de Torre de Babel da gastronomia. Há, entre outros, o argentino Pobre Juan, o mediterrâneo De La Paix, o judaico Nur e o alemão Harry Pisek. Ao mosaico, somou-se em outubro do ano passado um japonês, o Nozuki. Em abril, outra novidade, o italiano Villa Cioè abriu suas portas no número 564. “Apostamos na forte vocação gastronômica da vizinhança”, afirma Renato Caparica, administrador da casa. Sem experiência no ramo, os sócios estavam à procura do ponto ideal para pôr o projeto em prática. Encontraram meio por acaso o casarão dos anos 20 que hoje abriga o restaurante, de inspiração toscana. “Precisava de uma boa reforma, mas era perfeito.”
Mesmo localizada na região central, a Rua Tupi quase não tem trânsito. Conseguiu fazer seu clima pacato sobreviver à chegada dos restaurantes badalados. “É uma rua muito charmosa”, acredita o chef marroquino Daniel Marciano, que abriu o De La Paix dez anos atrás. “Aqui, como em Paris, consigo ter mesinhas na calçada em um ambiente despretensioso e seguro. Isso seria mais difícil no Itaim Bibi, onde moro.” Em 2006, Marciano inaugurou o Nur, especializado em culinária judaica, no mesmo quarteirão. Dois anos depois, passou a servir somente receitas kosher, com o objetivo de agradar à comunidade judaica que vive nas redondezas. Ainda neste mês, outro representante kosher, o Rimon Bistrô, começa a funcionar na casa de número 496.
Clientela fiel. É esse o outro fator que mantém o interesse crescente pela região. “Os moradores do bairro têm uma rotina: gostam de sair a pé e comer bem perto de casa”, diz Caparica. Primeira a se instalar por ali, a Casa das Massas comprova a tese. “Tem gente que vem aqui desde que abrimos, em 1987”, conta Karina Rocha, administradora do negócio ao lado do pai, Marcos Aurélio da Rocha. Ex-funcionário da cantina Roma, na Rua Maranhão, ele juntou dinheiro “a vida toda” para montar o próprio restaurante. Determinado a continuar no bairro onde era conhecido — e com pouco dinheiro no bolso —, optou por alugar uma casinha na então vazia Rua Tupi. “Quando chegamos não havia nada: nem os prédios nem os restaurantes”, lembra Karina.
Hoje, não custa tão barato se instalar na Tupi. Segundo Adi Zegman, dono de uma consultoria imobiliária na própria rua, o valor do aluguel de uma casa localizada ali é compatível com o de imóveis em outras áreas de Higienópolis, a exemplo da Rua Mato Grosso, onde estão os restaurantes AK Delicatessen, Becco 388 e Anita. No início do ano passado, a quantia mensal pedida por um sobrado de 500 metros quadrados (com três andares, um deles no subsolo, como é a maior parte das construções) era de 3 000 reais. Atualmente, cobram-se pelo menos 1 000 reais a mais. “Há quem peça até 6 000 reais”, afirma Zegman. Mas a valorização imobiliária não tem espantado os comerciantes. Muito menos a chegada em peso da concorrência. “Ganho mais clientes a cada novo restaurante aberto”, comemora Karina, da Casa das Massas. “A Tupi virou uma espécie de Rua Amauri.”
O argentino chegou às redondezas em 2008
Especialidades mediterrâneas e adega no porão
Contemporâneo, abre de quinta a domingo
Filial paulistana do tradicional restaurante alemão de Campos do Jordão
Nesta casa judaica, todos os pratos são kosher
Aberto em outubro, é o primeiro japonês do pedaço
Serve massas de fabricação própria desde 1987
Muito procurada por quem quer tomar um café da tarde
Inaugurado em abril, traz sugestões da região da Toscana
496
Rimon Bistrô
Também judaico, deve abrir ainda neste mês