As bancas mais antigas do Mercado Municipal
Conheça a história do Bar do Mané, do Queijos Roni e de outros três pontos pioneiros abertos em 1933
Inaugurado em 25 de janeiro de 1933, no dia do aniversário da cidade, o Mercado Municipal de São Paulo completa oito décadas neste ano. Ao longo de sua história quase centenária muita coisa mudou: bancas abriram e fecharam, o espaço ganhou projeção internacional e até passou por uma reforma, quando ganhou um mezanino.
Em meio ao turbilhão de cores e aromas, porém, encontram-se algumas barracas octogenárias, que permanecem em atividade até hoje. São negócios em sua maioria familiares, que passaram de pai para filho e hoje estão na terceira ou quarta geração.
Conheça abaixo a história de cinco pioneiros do Mercadão:
Os primos portugueses Jeremias Cardoso Loureiro e Alberto Cardoso Loureiro começaram o embrião da lanchonete na antiga região da Várzea do Carmo, enquanto o Mercadão ainda estava sendo construído. Com a inauguração do espaço, em 1933, a dupla migrou para o boxe14 da rua E.
Durante muitos anos, o lanche mais pedido foi o de copa e salame. Só em meados da década de 1970, quando o comando do negócio passou para Manoel Loureiro, o Mané, filho de Jeremias, que o folclórico sanduíche de mortadela ganhou fama. Para brincar com um cliente que teria reclamado da pouca quantidade de recheio, os funcionários da época lotaram o pão francês com fatias do embutido. E a receita bem-servida fez sucesso.
Atualmente, cerca de 1 000 unidades do sanduba com 250 a 300 gramas de mortadela da marca Ceratti chegam a ser vendidas nos dias de maior movimento. Além da versão clássica (R$ 11,00), o atual proprietário, Marco Antonio Loureiro, neto de Jeremias, faz versões com queijo quente ou salada (R$ 13,00 cada uma).
A lojinha começou em 1933 como fornecedora de carnes para feijoada. Na época, bares e restaurantes da cidade compravam costela, rabo, carne-seca e mais pertences na banca de Paschoal Strifezzi. Diferente da maioria dos pioneiros do Mercadão, que permanecem até hoje nas mãos das mesmas famílias, este boxe foi vendido em 1982 pelo filho do fundador.
Quem assumiu o ponto foi Arnaldo Menegatti. Diante da industrialização dos produtos que antes eram o carro-chefe da vendinha, e consequente queda da demanda, esse terceiro proprietário deu nova direção ao negócio: especializou-se em temperos. Filho de italianos, ele usou os truques culinários que aprendeu com a mãe para desenvolver uma linha com 150 variedades de especiarias.
Para facilitar o dia a dia das donas de casa, ele elabora pessoalmente misturas próprias para condimentar leitão, lombo e pernil, peixes e até vinagrete (R$ 2,50 cada embalagem). Outras opções são cheiro-verde desidratado (R$ 1,50), alho em flocos (R$ 2,50), mix de pimentas (R$ 2,00) e até estragão (R$ 5,00; 25 gramas).
Preservando a tradição da barraca, Menegatti mantém até hoje um pequeno balcão com ingredientes para feijoada. Entre um coentro e uma folha de louro, puxe papo com seu Menegatti. Esse senhorzinho batuta está cheio de histórias para contar.
Quando desembarcou em São Paulo em 1908, o italiano Carlo Chiappetta montou uma banca de secos e molhados no antigo mercadinho da Avenida São João. Assim como muitos comerciantes da época, com a inauguração do Mercado Municipal em 1933, Chiappetta levou o negócio para dentro do espaço.
Lá, ele vendia grãos e molhos, produtos da terra e do mar — em sua maioria importados da Itália e de Portugal. Até hoje, o item mais emblemático deste empório octogenário é o bacalhau Gadus morhua trazido da Noruega. Conforme o tamanho e o corte do peixe, os preços podem variar de R$ 19,00 a R$ 120,00 o quilo.
A administração do boxe que passou de pai para filho hoje está nas mãos de Alfredo e Eduardo Chiappetta, terceira geração da família.
Italiano do sul da bota, Antonio Cavalieri deu início a este açougue especializado em cortes exóticos no fim dos anos 1920, quando comercializava carnes de cabrito, cordeiro e vitelo na movimentada Rua 25 de Março. Com a abertura do Mercadão, o negócio cresceu e, ao longo desses oitenta anos no boxe 27 da rua E, ampliou a variedade de produtos.
Sob direção de Rivaldo Cavalieri, neto do fundador, desde 2002, hoje a lista de cortes inclui ainda javali (R$ 58,00 o quilo), coelho (R$ 23,00), búfalo (R$ 38,00 a R$ 65,00) e faisão (R$ 72,00), entre outras sugestões difíceis de encontrar por aí. Um dos itens mais caros é o fígado de pato, conhecido pelo nome francês foie gras, que custa R$ 230,00 o quilo.
A tradição da família Talarico Peta com os laticínios data de 1889, quando o italiano Pedro Talarico imigrou da Calábria para Minas Gerais e deu início a uma produção artesanal de queijos. Com o passar do tempo o negócio cresceu e, em 1933, chegou ao Mercado Municipal de São Paulo pelas mãos de sua filha, Josephina, e do marido dela, Rocco Peta.
Desde a década de 1990, a marca é comandada por Roque Bruno Tadeu Peta, o Roni, bisneto do fundador. É ele quem toca as três bancas que levam seu nome e também a fábrica de Sebastião da Grama, no interior do estado, que atualmente processa cerca de 15 mil litros de leite por dia.
Apesar de a produção ser bem maior que oitenta anos atrás, os queijos seguem as receitas originais e são feitos na mão, um a um. Há mussarela (R$ 17,00 o quilo), ricota fresca (R$ 7,30), provolone (R$ 24,00), caciocavallo (R$ 24,00) e butirro (R$ 24,00), com manteiga no interior. Orgulhoso do legado de sua família, Roni garante ter as melhores pizzarias da cidade em sua lista de clientes.
Para manter a tradição, ele conserva o boxe da rua D, o mais antigo. A banca da rua F é maior e concentra grande parte das vendas de varejo. Quem desejar comprar no atacado, deve procurar pelo endereço da rua H.