A capital está prestes a ganhar uma nova integrante de seu circuito cultural literário. É a livraria Aigo, que abrirá as portas no Bom Retiro na próxima quinta-feira (27). O foco são livros que celebram as comunidades de imigrantes da cidade, principalmente do bairro em questão, onde há forte presença coreana.
A novata agrega ao movimento de disseminação de livrarias de rua especializadas, na direção oposta da crise enfrentada pelas grandes marcas, que têm como exemplo recente o fechamento da Livraria Cultura no Conjunto Nacional, na Paulista.
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A Aigo ocupa um espaço de 60 metros quadrados no térreo do Centro Comercial do Bom Retiro, construído na década de 1960 e projetado por Lucjan Korngold, um arquiteto judeu-polonês que migrou para o Brasil em 1940.
Uma das propostas da loja condiz com o local em que nasceu: curadoria literária com o objetivo de dar visibilidade a populações sub-representadas no mercado editorial, em temas como gastronomia, arte, arquitetura e infância. “O projeto veio da falta que sentíamos no bairro de um espaço do tipo”, conta Agatha Kim, sócia-fundadora junto de suas amigas Paulina Cho e Yara Hwang. “A gente nasceu e cresceu aqui e, em quase quarenta anos, nunca vimos uma livraria.”
A loja vende obras em português e nas línguas originais, de cerca de 100 editoras. Mais do que a venda de livros, a ideia é movimentar o bairro com lançamentos e eventos, como encontros com tradutores. “Queremos que seja um lugar de encontro de diferentes comunidades”, acrescenta Yara.
Para Agatha, o modelo de pequenas livrarias é o caminho a ser seguido. “É o único jeito de fazer frente ao comércio eletrônico”, afirma. “São lugares que permitem o encontro dos leitores com livros, livreiros e a comunidade em volta. Isso já acontece em mercados mais maduros, como nos Estados Unidos e na Europa”, acrescenta.
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No caso da Miúda, focada em livros para a infância, localizada na Pompeia, a experiência presencial tem mais uma vantagem. “Por serem obras voltadas para crianças, temos muito a questão da materialidade do objeto, de encostar, de se encantar”, comenta Tereza Grimaldi, criadora ao lado de Júlia Souto.
Pautadas pela bibliodiversidade, elas trabalham com mais de 100 editoras de todo o país, além de atuarem na formação de professores e realização de feiras do livro em colégios como Santa Cruz e São Domingos. Embora não falem abertamente sobre vendas, estimam que uma média de 25 famílias visitem o espaço todo sábado — que é o dia mais movimentado.
Outras livrarias de rua na região central são a Megafauna, focada em diversidade, que fica no térreo do Copan, a Gato Sem Rabo, com foco na autoria feminina, localizada na Vila Buarque, e a Eiffel, especializada em arquitetura e urbanismo, na República. A primeira abriu em 2020, a segunda em 2021 e a terceira em dezembro do ano passado.
“Essas livrarias estão crescendo de uma forma bem significativa”, afirma Leo Wojdyslawski, proprietário da Eiffel. “Não consigo vender pelo mesmo preço do e-commerce, mas ofereço uma experiência totalmente diferente.
Publicado em VEJA São Paulo de 26 de julho de 2023, edição nº 2851