Show de humor de Fábio Porchat tem ingressos esgotados até junho
Seu espetáculo de stand-up já foi assistido por 16 000 pessoas na cidade que se tornou o polo do gênero no país e tem mais de 20 atrações do tipo em cartaz
Gargalhar é tarefa fácil em São Paulo, ainda que nem sempre a vida na cidade tenha lá muitos motivos para o riso. A capital paulista está repleta de peças de humor em cartaz, sobretudo shows de stand-up, capazes de fazer muita gente carrancuda ficar frouxa de tanto rir. Não faltam teatros que, antes reservados apenas às chamadas peças “dramáticas”, se abriram ao gênero — nos principais espaços, há mais de vinte apresentações do estilo em exibição (clique aqui para ver a lista) —, e os clubes de comédia, que atraem um público mais iniciado no assunto, continuam um sucesso. De cara limpa, sem interpretar personagens ou contar piadas consagradas, os comediantes (alguns mais engraçados que outros, é verdade) se põem a proferir textos autorais, em geral sobre temas cotidianos. “São Paulo é o polo do stand-up no Brasil e o lugar onde muitos nomes iniciaram”, afirma o comediante Fábio Porchat, 39, em cartaz de sexta a domingo no Teatro das Artes com Histórias do Porchat, um dos grandes sucessos da temporada.
Até o último dia 16, 16 000 espectadores haviam assistido ao show, que estreou em 3 de março na cidade. Os ingressos, que custam entre 120 e 140 reais, estão esgotados até o meio de junho. Para as sessões daquele mês, já se foram quase 70% dos bilhetes reservados para os dias 16 a 18. Mas aí vai um pequeno alento: a peça, que já passou por cidades como Rio de Janeiro e Lisboa, vai ganhar sessões extras aos sábados, às 18h, a partir de 17 de junho, e deve ficar em cartaz até novembro.
A apresentação mal começa e o público que ocupa as 760 poltronas do teatro do Shopping Eldorado já dá gargalhadas. A estrela da noite acaba de subir ao palco — o figurino é básico: camisa azul-marinho, calça de sarja, tênis — e Porchat dá as diretrizes da noite, explicando que não liga para que o fotografem. Um aviso prosaico que, feito por ele, magnetiza risos. Logo em seguida, dá oi para a avó Maria Alice, que o assiste numa das fileiras daquele domingo. E, antes de começar o texto em si, chama ao palco uma senhora na plateia que, ele descobre, nunca havia pisado em teatro. “É uma risada a cada doze segundos”, contabiliza o comediante. “Stand- up é muito imediato, uma metralhadora de piadas.”
Durante mais de uma hora, Porchat conta “causos” de suas viagens pelo globo — ele passou por mais de sessenta países —, bem costuradas. São episódios como a massagem recebida na Índia, o piriri no Nepal e o encontro com gorilas em um safári africano. Parte do tempo é ainda reservada para ouvir sobre as andanças dos espectadores pelo mundo, complementadas com mais histórias fora do script. Trata-se de uma peça espirituosa, sem grosserias ou piadas embebidas em preconceito, como ocorre em alguns dos shows do gênero.
“As pessoas estavam um pouco cansadas de brigar, de falar de política, de polêmica. Queria um standup leve, para a família toda esquecer os problemas”, diz o ator, que também é sócio-fundador da produtora Porta dos Fundos. “Não preciso dar opinião em tudo.” Porchat estava longe dos palcos desde 2017. “Era para dar uma paradinha de leve e de repente veio a pandemia”, brinca.
Retorna, agora, ao teatro enquanto goza de um novo momento na carreira: o sucesso como apresentador de Que História É Essa, Porchat?, exibido pelo canal GNT — na quarta (26), o programa volta a ser exibido pela Globo. “Hoje tem gente que vai ao teatro para ver standup e gente que vai para ver o ‘cara do programa’”, admite ele, também ex-host do Programa do Porchat (2016- 2018), na Record.
Além das apresentações, as vindas desse morador do Rio à cidade têm outra razão: as gravações de Evidências do Amor, filme dirigido por Pedro Antônio Paes, produzido pela Warner Bros. Pictures em associação com a Framboesa Filmes. Porchat estrelará a comédia romântica com a cantora Sandy — as filmagens são feitas entre a capital e Campinas. “Mesmo quando não estou em cartaz, vou a São Paulo, sei lá, uma vez a cada duas semanas trabalhar ou ver a família”, conta o carioca, que se mudou com um mês de vida para a metrópole, onde viveu até os 19 anos — o pai, também de nome Fábio Porchat, é morador da cidade até hoje.
“Meus amigos de infância são todos de São Paulo”, diz Porchat, que estudou a vida escolar toda no Colégio Nossa Senhora do Morumbi. “Foi em São Paulo que perdi minha virgindade, dei meu primeiro beijo, vi minha primeira peça”, enumera. Foi na capital que, em 2002, rolou o lendário episódio com Jô Soares (1938-2022), quando o então estudante da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Porchat, na plateia do Programa do Jô, pediu em um bilhete para interpretar um texto de sua autoria inspirado na série Os Normais — e não é que Jô deixou? Foi uma epifania para o jovem adulto. “Foi onde tudo começou.”
Quando está na capital, Porchat costuma comer na cantina Famiglia Mancini (“Sou desses”) e frequentar os teatros (“Tem muita peça”). Também gosta de ir atrás “do que está acontecendo”. No último sábado, por exemplo, fez uma postagem no bar moderninho Miúda, na Barra Funda. “O que não fiz ainda é ir ao novo Museu do Ipiranga. Fui com a escola, logicamente. Até o final do ano, eu vou.”
ROTEIRO | Shows de stand-up em cartaz em teatros de São Paulo
O stand-up é coisa antiga no Brasil. Essa invenção dos americanos já tinha, desde os anos 60, representantes nacionais como José Vasconcellos, Chico Anysio e Jô Soares. Nos anos 2000, houve uma retomada do gênero com o lançamento de shows como Comédia em Pé, no Rio — do qual Porchat fez parte —, e o Clube da Comédia Stand-up, com nomes como o veterano Marcelo Mansfield, junto de Rafinha Bastos e Oscar Filho, entre outros.
Esse espetáculo teve temporada num dos bares mais antigos do gênero na cidade, o Beverly Hills (hoje Beverly Comedy), em Moema, endereço ainda na ativa depois de idas e vindas, tocado pelo humorista Luiz França. O lugar faz parte da cena dos clubes de comédia que recebem apresentações quase exclusivamente de stand-up (conheça aqui comedy clubs da capital paulista). São muitas vezes casas comandadas por gente da área — Patrick Maia dirige o Clube do Minhoca e Danilo Gentili abriu o My Fucking Comedy Club, por exemplo. Porchat fazia “ensaios” abertos do espetáculo atualmente em cartaz em alguns desses estabelecimentos em 2021. “Eu aparecia de surpresa”, conta.
Os clubes de comédia proporcionam uma experiência mais intimista e, em geral, recebem uma galera mais iniciada no assunto (embora abertos a todos). Acompanhando o sucesso dos humoristas, os teatros maiores também estão dando cada vez mais espaço para o estilo. Um dos pioneiros foi o Teatro Renaissance, em Cerqueira César, que há quase dezesseis anos segue apinhando a sala de 440 lugares nas madrugadas de sexta para sábado e, posteriormente, de sábado para domingo com o Comédia ao Vivo.
O show recebe diferentes nomes por noite, entre eles Marcelo Marrom, que não poupa nem a intérprete de libras na plateia, e Bruna Louise, para a qual até menu degustação de restaurante rende piadas divertidas.
Bruna segue em temporada solo com seu show no Teatro Opus (600 lugares), no Shopping Frei Caneca, outro porto seguro dos espetáculos de humor de cara limpa — atualmente, há quatro opções do gênero em cartaz ali. De 2022 até agora, a casa reuniu mais de 100 000 espectadores nos shows e peças de comédia. Aproveitando o bom momento, em maio o teatro lança a Comedy Party. Todas as sextas, DJs vão animar o foyer, e o público poderá beber e petiscar antes, durante e depois das apresentações de Bruna, às 22h30, e Murilo Couto, que estreia em 12 de maio, às 23h59.
“O público do shopping é muito ligado em humor”, acredita Lucas Mansor, gerente administrativo e programador cultural do Teatro das Artes, no Shopping Eldorado, que abriga Porchat e mais outras duas peças risonhas. “O Fábio Rabin lotou as salas aqui por dez anos”, conta ele sobre o humorista, que migrou para o concorrente do Frei Caneca. “Os espetáculos, se não esgotam, ficam com média de 90% de lotação.”
Ter boa bilheteria é fundamental para o stand-up. “As peças de teatro tradicionais conseguem patrocínio, a gente não”, diz Luiz França, do Beverly e mestre de cerimônias do Comédia ao Vivo. Apesar da falta de injeção de recursos, os artistas não necessitam de investimentos vultuosos. “O stand-up traz público, é fácil de produzir, dá dinheiro e o teatro adora”, resume Porchat. “É outro tipo de estrutura e investimento mais focado em mídia”, complementa Mansor.
Sim, para fazer comédia e ter poltronas ocupadas, é quase obrigatório ter uma rede social de vídeos divertidos para divulgar o trabalho. “Tudo que a gente postou acabou distraindo muito as pessoas durante a pandemia. Eu mesma tripliquei meu número de seguidores nas redes sociais no período”, diz Bruna Louise, hoje também com especial solo na Netflix e uma das mulheres em destaque num circuito ainda predominantemente masculino.
Com o fim das restrições sanitárias, comediantes e programadores de teatro começaram a notar queque o público do stand-up cresceu de 2020 para cá. “Na pandemia, as pessoas começaram a ver muitos vídeos de humor, e aí quiseram assistir ao vivo”, diz França. “Sempre fomos bons na venda de ingresso, mas depois da pandemia, com esses fenômenos dos espetáculos de humor, houve um boom”, afirma Mansor, do Teatro das Artes.
Apesar de démodé, ainda existe uma rixa entre o teatro “tradicional” e o stand-up. “Hoje em dia eles (atores, produtores e diretores) ficam bravos porque tem muito show de stand-up nos teatros e em horários nobres”, dispara França. Mas há outras formas de ver a questão. “O stand- up é um caminho de entrada muito legal ao teatro, para quem não tinha o costume de ir ver um espetáculo num sábado à noite”, opina Bruna. Porchat concorda. “É um ótimo renovador de público”, acredita. “E esse é um bom momento para reunir as pessoas e fazer algo que não fazíamos há tempos: rir junto.”
E TEM MAIS | Gargalhadas na faixa
A Rota do Riso propõe um roteiro de espetáculos de humor gratuitos em centros culturais. Esse projeto da Secretaria Municipal de Cultura vai rolar todo último sábado de cada mês até o fim do ano, sempre em um espaço diferente. A estreia é no dia 29, no Centro Cultural Olido, com shows do comediante Diogo Portugal e da drag queen Silvetty Montilla. Para os próximos meses, já estão confirmados nomes como Fábio Rabin, Jhordan Matheus, Diguinho Coruja e Jansen Serra. A edição seguinte será no Centro Cultural Penha, em 27 de maio. Centro Cultural Olido. Avenida São João, 473, Centro. Sábado (29), 21h. Grátis. ♿ prefeitura.sp.gov.br/cultura.
LISTA | Conheça comedy clubs da capital paulista
Publicado em VEJA São Paulo de 26 de abril de 2023, edição nº 2838