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O casal por trás do sucesso da série ‘Cangaço Novo’

Criadores de seriado do Prime Video preparam novas histórias enquanto aliam o trabalho à vida de casados

Por Humberto Abdo
8 set 2023, 06h00
Homem com barba e óculos sorri ao lado da esposa, de cabelos lisos castanhos. Ele veste camiseta preta e jeans, ela um suéter branco. Eles estão em uma sala de estar com poltrona de couro claro, quase amarelado.
Eduardo Melo e Mariana Bardan, criadores da série Cangaço Novo. (Flávio Florindo/Veja SP)
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Sucesso de crítica e público, a série Cangaço Novo, lançada em 18 de agosto pelo Prime Video, da Amazon, é uma invenção de um jovem casal de roteiristas paulistanos, moradores de Higienópolis, que demorou uma década para costurar a trama ambientada na cidade imaginária de Cratará. Valeu a paciência. A obra está há duas semanas no topo das “mais assistidas” da plataforma de streaming no Brasil, figurou entre os assuntos mais comentados das redes sociais e, na votação dos usuários do site IMDb, referência no meio audiovisual, é o título mais bem avaliado da O2 Filmes — à frente de produções como Cidade de Deus (2002) e Ensaio sobre a Cegueira (2008).

“Sempre disse que (a série) seria um sucesso, mas era visto como um otimista”, diz Eduardo Melo, 40, que assina o roteiro com a esposa, Mariana Bardan, 35. “O texto deu certo porque foge dos maniqueísmos: um personagem é ora heroi, ora vilão; primeiro aliado, depois inimigo”, ele avalia.

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A parceria surgiu na faculdade. Mariana e Eduardo se conheceram no primeiro dia do curso de Cinema da Faap, em 2008. “Desde o começo, fazíamos tudo juntos, de provas em dupla a seminários”, conta Mariana. Eduardo, por pouco, não tinha virado um engravatado da Faria Lima. Filho de um cearense e uma baiana, ele já era formado em matemática aplicada (além de ter estudado um ano e meio de Física) e havia começado uma carreira em um banco de investimentos, na avenida símbolo financeiro da capital.

“Era bem-sucedido para alguém em início de carreira. Não foi nada simples começar do zero, me arriscar a ser um ‘Berriner’ no território dos ‘Faapers’ ”, ele diz. “Até pouco tempo atrás, meu sogro ainda comentava: ‘mas imagina se estivesse no banco, meu filho…’ ”, ela brinca. “Eu era um dos únicos alunos que trabalhavam para pagar a faculdade”, completa o roteirista.

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Casados há onze anos, Mariana e Eduardo investiram juntos na evolução da carreira. Chegaram a se mudar para Los Angeles, nos Estados Unidos, onde fizeram um curso intensivo de roteiro. “Pedi demissão, vendi o carro e fomos morar em um apartamento de 40 metros quadrados por seis meses”, ele relembra. “Queríamos aprender a fazer uma série nos moldes do mercado americano, mas que ainda fosse brasileira”, afirma.

Cena de série exibe homem de pele bronzeada com olhar cabisbaixo em casebre fechado.
Allan Souza Lima no papel de Ubaldo Vaqueiro. (Amazon Studios/Divulgação)

O resultado é a produção de oito episódios, que tem um inspirado Allan Souza Lima no papel de Ubaldo Vaqueiro (jovem que viaja de São Paulo para o sertão cearense em busca de uma herança) e a brilhante Alice Carvalho como Dinorah, uma incontrolável líder de uma gangue de assaltantes de banco. O elenco tem ainda destaques como Marcélia Cartaxo, Ricardo Blat, Thainá Duarte, Adélio Lima e Rafael Losso.

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“Nosso processo criativo começa no debate: ‘mas e se…’. Até que um resolve desenvolver o texto e mandá-lo para o outro, que depois irá alterá-lo”, conta Mariana. “Somos duas pessoas completamente diferentes que trabalham bem juntas”, ela resume. Para a composição a quatro mãos não desafinar, foi preciso certo desapego. “Tentamos nos manter abertos a mudanças, sem nos apegar ao texto. Isso foi importante, porque tivemos discordâncias desde o início — e durante todo o projeto”, conta Eduardo.

No momento, o casal se divide entre curtir o sucesso e torcer pela confirmação da segunda temporada — ainda não anunciada pelo Prime Video. “Eu desejava essa repercussão. É uma sensação de felicidade contínua”, diz Mariana. Ao mesmo tempo, a dupla registra novas ideias em uma lousa branca pendurada no apartamento de Higienópolis. “São projetos diversos, para diferentes momentos… Um deles é ainda mais megalomaníaco que Cangaço Novo. Seria uma distopia brasileira”, diz Eduardo. Assim como os jovens roteiristas, a audiência torce por novas aventuras de Ubaldo e Dinorah.

Mulher de pela morena aparece encostada em parede branca, sentada com olhar distante. Ao fundo, uma pequena igreja.
Alice Carvalho como Dinorah em cena de Cangaço Novo. (Amazon Studios/Divulgação)
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Publicado em VEJA São Paulo de 8 de setembro de 2023, edição nº 2858

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