Dos clichês românticos, um jantar no Era Uma Vez um Chalezinho… é talvez o mais inescapável para os casais paulistanos. Talvez seja a arquitetura suíça com muita madeira, o piano tocado ao vivo, a fondue fumegante ou os pombinhos de madeira que repousam na janela (sim, existem pombinhos). Algo parece dizer que uma visita ali é necessariamente uma declaração de amor.
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Em quase trinta anos vividos em São Paulo, porém, eu havia escapado do programa de casal. Havia.
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Na última sexta (18/5), com um friozinho de 18°, decidi que estava na hora de terminar esse jejum. Na verdade, quem decidiu foi meu chefe, na reunião de pauta. “Vamos testar um jantar romântico no Era Uma Vez um Chalezinho…?”, ele disse. Vamos, claro. “Mas você tem que ir com o namorado e contar tudo depois.” Ok. Seria um trabalho em dupla, então.
Ainda na redação, às 21h20, liguei para o restaurante para perguntar qual era o tamanho da espera, quase sempre demoraaada. Surpreendentemente, não havia filas naquela hora. Liguei para o namorado, que adorou a ideia: “Não conheço lá, vamos!”. Como a vida de jornalista tem seus entraves, só consegui chegar ao endereço instalado nas subidonas do bairro do Morumbi às 22h55.
Ao chegar, a hostess nos explicou o sistema de funcionamento da casa: as fondues de carne ao óleo só são servidas no jardim, por causa do cheiro de fritura. As de queijo e carne no vinho são servidas no salão interno. Eis o primeiro susto: você precisa decidir o que comer antes mesmo de se sentar. Sabe aquela hora de fazer charme olhando o menu? Esqueça. Como o cheiro de fritura não chega a ser, digamos assim, afrodisíaco, a opção foi por uma mesa interna. Tempo de espera: 40 minutos.
O sistema de chamada para o atendimento é bem moderno.Você deixa o seu celular com a hostess e recebe um SMS. Pode então acompanhar quantas pessoas tem na sua frente e também desvendar curiosidades sobre a casa. Segundo as otimistas expectativas dos proprietários, o Chalezinho já foi palco de 9000 pedidos de namoro, 82200 primeiros encontros, 206000 carinhos, 38000 declarações de amor e 503 casamentos.
Para os homens com medo de compromisso, essa perspectiva deve assustar (e muito). Só isso explica a quantidade de casais em clima de briga por lá. Da área de espera, é possível ver a fonte no centro do jardim, os arbustos com luzinhas de Natal e alguns namorados em pé de guerra. Uma reclamava do frio, outro nem tirou o boné para comer, um terceiro sequer olhava para a esposa…
Mas eles não eram a maioria, ufa! Ao caminhar até o banheiro (cuja porta trazia o escrito “Branca de Neve”, em oposição aos “Sete anões” da porta masculina), pude ver casais sentados lado a lado, de mão dadas, espetando o pão italiano no garfinho para dar na boca do companheiro. Existe amor em SP.
Exatos 35 minutos depois da chegada, fomos chamados. O garçom acende e coloca sem muito jeito uma lamparina no centro da mesa. “Olha isso, tem corações nas cadeiras! E nas janelas! Meu Deus!”, me disse o namorado. Entendo que o excesso de açúcar já soa falso, antes mesmo do jantar.
Escolhemos a fondue (sim, essa palavra é feminina) chalezinho. A descrição fala muito, mas diz pouco: “Para elaborar esta receita, o Chalezinho e a Président foram buscar nos alpes franceses os melhores queijos, o resultado foi uma fondue muito leve e com muita elasticidade o que lhe proporcionará sabores inusitados e surpreendentes.” É feita dos queijos emmental, gruyère e estepe, nos explicou o garçom. Custa R$ 159,20, para dois.
A pedida chega à mesa rápido, quase em velocidade industrial, acompanhada de pães que não estavam lá muito fresquinhos, tinham a casca um tanto amolecida. Pedi também uma porção de batata bolinha à parte (R$ 19,70). A perfumada mistura de queijos não estava tão quente de princípio. Quando atingiu a temperatura ideal, nem eu, nem ele, aguentávamos mais comer queijo. Quem inventou que fondue é romântico tinha um sistema digestivo de avestruz, fato.
Para acompanhar o prato, o vinho era obrigatório. Simpático, porém estranhamente vestido como segurança (com fone de ouvido e tudo), o sommelier sugeriu o tinto Terrazas Reserva Malbec, oferecido por R$ 125,00. Na loja Rei dos Whisky’s & Vinhos, em Moema, a mesma garrafa sai por R$ 79,00. Fechei os olhos e pedi. “Que bom que vocês escolheram esse rótulo. Vocês vão ganhar de brinde duas taças de plástico personalizadas”, disse o sommelier. Por esse preço, poderia ser pelo menos de vidro, não é?!
Para fechar a noite, uma sobremesa. A fondue de chocolate meio amargo acompanha abacaxi, banana, uva, morango e “segredos”. A palavra elevou sua expectativa? Calma, são só biscoitos wafer e champagne.
A surpresa mesmo chega na hora da conta. Contabilizado o couvert artístico (R$ 9,80 por pessa), as águas (R$ 5,93 a garrafa), o estacionamento com manobrista (R$ 22,00) e o serviço, o total somou R$ 487,00. O garçom ficou horrorizado quando eu puxei a carteira para pagar. Na certa, pensou que a falta de cavalheirismo tinha estragado o jantar.
Nem de longe. Encarar 40 minutos de espera, tolerar a música romântica, não fazer cara feia para todos os corações e pombinhos da decoração e compartilhar comigo o assombro com o valor da conta, isso é amor na realidade, capaz de superar qualquer expectativa.❤