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Notas Etílicas - Por Saulo Yassuda

Por Saulo Yassuda Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O jornalista Saulo Yassuda cobre cultura e gastronomia. Faz críticas de bares na Vejinha há dez anos. Dá pitacos sobre vinhos, destilados e outros assuntos

Tradicional bar carioca, Bracarense ganha um “filho” paulistano

Sócio da casa inaugurada em 1961 no Leblon, Kadu Tomé se prepara para abrir o Braca

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Atualizado em 20 jan 2022, 14h04 - Publicado em 23 dez 2021, 06h00
Fachada do Bracarense, um dos bares mais tradicionais do Rio de Janeiro
Endereço sessentão: ponto tradicional no Rio (Divulgação/Divulgação)
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O Itaim Bibi não tem todo o charme do Leblon. Falta, é claro, a praia, o mundaréu de amendoeiras, os lugares abertos até a alta madrugada… Mas um ícone do bairro carioca está para chegar e dar, quem sabe, um ar à la Manoel Carlos às beiras da Avenida Juscelino Kubitschek. Vem aí o Braca, filial não oficial do tradicionalíssimo Bracarense, bar sessentão que é uma instituição no Rio de Janeiro. A abertura ao público está marcada para 15 de janeiro, na Rua Doutor Renato Paes de Barros, 908. “Será uma homenagem ao Bracarense”, define Kadu Tomé, sócio das duas casas. “Não tem como você reproduzi-lo aqui, é único.”

Agora com 39 anos, Kadu trabalha desde os 15 no bar tocado por sua família, ainda que com idas e vindas. Seu avô, o português Arnaldo Tomé, morto em 2013, foi um dos fundadores. O ano divulgado como o de inauguração é 1961, mas antes no lugar já funcionava um pé-sujo sem expressão.

Ambiente ao ar livre com algumas mesas altas e banquetas espalhadas pelo espaço
Projeto do bar: com quintal nos fundos (Divulgação/Divulgação)

O chope gelado, tomado aos litros pela galera que curte dar um rolê por lá logo após o banho de mar — o bar se situa a duas quadras da praia —, fez a fama do endereço, que já abocanhou um sem-número de prêmios, muitos deles de VEJA RIO COMER & BEBER. Rendeu ainda assunto em publicações como The New York Times.

No último 25 de novembro, recebeu o título de Patrimônio Cultural Carioca, concedido pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano. Têm a mesma placa outros clássicos dali, como o Jobi, famoso, ao menos até a pandemia, pelo fim de noite, e a Adega Pérola, com seu balcão de acepipes.

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Com tanta fama, forasteiros não arredam o pé do Bracarense. “Nos fins de semana, 30% do nosso público é paulista e 30%, mineiro”, contabiliza o sócio. Botequeiros profissionais de São Paulo, como Gilberto Abrão Turibus, o Giba, do Bar do Giba, costuma fazer visitas ao point do Leblon, a mais recente delas no início deste mês. “Vou lá desde a época em que não tinha mesa, você sentava em cadeirinhas de praia”, conta. E entrega um segredinho: “Minha empada de camarão, que sirvo às sextas, é inspirada na de lá,  molhadinha”.

Kadu Tomé posa em meio às obras do Braca
Kadu Tomé: o sócio na obra no Itaim Bibi (S.Y./Veja SP)

Essa demanda do outro lado da Dutra alimentou a vontade do empresário carioca de abrir o endereço por aqui. Durante a pandemia, viu oportunidades de negócio surgirem, ainda que os dias não tenham sido fáceis para ele (“aprendemos que não se pode trabalhar ‘no fio da navalha’ nunca”, revela). Para montar o novo negócio, com investimento estimado em 700 000 reais, associou-se ao empresário Augusto Vianna, um dos sócios do Esquina do Souza, premiado como o melhor boteco da cidade por VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER 2021.

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O Braca terá quase o triplo do tamanho do bar carioca: 220 metros quadrados, para 120 pessoas, ante 80 metros quadrados. A reportagem visitou com exclusividade a obra, onde conferiu a varanda em frente, o quintal ao ar livre nos fundos e o salão com piso de porcelanato quebrado, remendado como se fossem caquinhos, e um balcão para a galera se aboletar, como nos melhores botequins do Rio.

A promessa é que o chope será um híbrido entre o carioca — estupidamente gelado e mais leve — e o paulistano — de colarinho hipercremoso. “Não será o ‘xixi’ de anjo carioca”, provoca o sócio Augusto. “Garanto que terá 2 graus a menos que os outros chopes de São Paulo”, rebate Kadu.

Dois copos de chope com os dizeres
Chope: gelado como o carioca e com colarinho cremoso como o paulistano (Tarso Ghelli/Divulgação)
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Para petiscar, não vão faltar sanduíches e bolinhos, como o de bacalhau e o de camarão e catupiry na massa de mandioca, receita que, quando era executada pela ex-cozinheira Alaíde Carneiro, hoje em Belo Horizonte, a alçou ao estrelato boêmio.“O símbolo dos bares paulistas é um bom bolinho de carne, e a gente vai ter um”, promete Kadu, que não ousa servir a pedida no Rio (“não sai”). Um pequeno braseiro, que inexiste no Leblon, será aceso nos fins de semana. “Teremos também um almoço executivo, por ser uma região de muitos escritórios”, complementa Augusto. “É uma operação que nasce no Itaim, mas tem a possibilidade de ir para outros bairros no futuro.”

Kadu pretende se dividir na ponte aérea e já está em busca de um apartamento na capital. Velho conhecedor de bares daqui, ele tem uma nova paixão boêmia, o Bar do Luiz Nozoie, na região da Saúde. Trata-se de um boteco daqueles beeem raiz, nascido em 1962, longe dos pontos mais arrumadinhos do Itaim Bibi, a morada do Braca. Mas a dupla de empresários promete que o clima será de botequim genuíno. “É para vir de Havaianas”, jura Augusto. Em 2008, Kadu disse ao jornal O Globo que “paulista acha que é só pôr um lustre ‘cacho de uva’ e pintar a parede de verde que é boteco”. Será? Depois da declaração, a expectativa para ver como será o Braca à paulista aumenta ainda mais.

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