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Memória

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Uma viagem no tempo às décadas passadas por meio de suas histórias, costumes e curiosidades.

Memória: a maestrina Naomi Munakata, regente do coral do Municipal

Musicista talentosa nasceu na cidade japonesa de Hiroshima e veio para o Brasil ainda bebê; causa da morte aos 64 anos foi Covid-19

Por Arnaldo Lorençato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 abr 2020, 06h00 - Publicado em 3 abr 2020, 06h00
Naomi Munakata, regente da OSESP e professora da Escola Municipal de Música de São Paulo: vítima da pandemia de coronavírus  (Karine Basilio/Veja SP)
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Uma das pessoas mais sensíveis do universo da música clássica que tive a oportunidade de conhecer, a maestrina Naomi Munakata, de 64 anos, entrou para a lamentável estatística dos mortos em consequência do coronavírus. Meu primeiro contato com Naomi foi logo depois que ela passou a reger o coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), em 1995. Nessa época, além de escrever sobre gastronomia, eu cobria a seção de concertos da Vejinha. E, como ela, era um apaixonado por vozes. Repórter perguntão, questionava, por exemplo, quais eram as dificuldades em fazer aquela massa de gente cantar em alemão obras de compositores como Mahler. “É preciso prestar atenção à fonética”, dizia, com uma tranquilidade exemplar, a musicista talentosa que nasceu na cidade japonesa de Hiroshima (dez anos depois da devastação pela bomba atômica), veio para o Brasil ainda bebê e deu os primeiros passos entre claves de sol e de fá orientada pelo pai, Motoi Munakata.

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Coro Sinfônico da Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp): regido por Naomi Munakata de 1995 à 2013 (Divulgação/Divulgação)

Nos rápidos encontros que tinha com Naomi no grandioso edifício projetado por Cristiano Stockler das Neves e Samuel das Neves para ser a Estação Júlio Prestes e transformado na Sala São Paulo, surgiu a ideia de fazermos uma apresentação com cantores líricos juntando árias de ópera e comida. Pensando em uma bela imagem para começar, propus a ela que tivéssemos uma narradora envolta em uma nuvem de farinha. “Isso não pode, Arnaldo. O máximo que vai acontecer é ela engasgar”, ensinou com serenidade a especialista formada em composição e regência na Faculdade de Música do Instituto Musical de São Paulo. Esse projeto, infelizmente, não foi adiante. Naomi permaneceu até 2013 na Osesp. “Com o coro da orquestra, ela participou de importantes gravações, em especial da regência do CD Canções do Brasil, com composições de Aylton Escobar, Ca- margo Guarnieri, Marlos Nobre e Villa- Lobos”, diz o compositor e professor Leonardo Martinelli.

Dedicou-se ao ensino e, em 2016, assumiu o Coral Paulistano Mário de Andrade, do Teatro Municipal. Durante os ensaios de Aída, que abriria a temporada de óperas de 2020, Naomi sentiu os primeiros efeitos da doença. A Covid-19 não era uma gripezinha. Ela se internou no Hospital Alemão Oswaldo Cruz em 16 de março. Faleceu dez dias depois, horas após o colega Martinho Lutero Galati de Oliveira, que foi regente do mesmo coro antes dela. Este texto referenda a memória não apenas de Naomi, mas das mais de 200 pessoas que morreram até agora. Não há remédio melhor do que a quarentena. Fica em casa, São Paulo.

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 8º de abril de 2020, edição nº 2681.

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