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Vinho e Algo Mais

Por Por Marcelo Copello Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Especialista na bebida, Marcelo Copello foi colunista de Veja Rio. Sua longa trajetória como escritor do tema inclui publicações como a extinta Gazeta Mercantil e livros, entre eles "Vinho e Algo Mais" e "Os Sabores do Douro e do Minho", pelo qual concorreu ao prêmio Jabuti
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A passagem do tempo e as diferentes safras de vinhos

A safra define a qualidade da bebida e depende de vários fatores como a uva, o trabalho do homem e as técnicas empregadas

Por Marcelo Copello
23 ago 2024, 06h00
vinhos-rótulos
Rótulos: a importância da passagem do tempo (Divulgação/Divulgação)
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O tempo tem sido um dos maiores temas da religião, filosofia e ciência, mas defini-lo de uma forma incontroversa até hoje foi impossível. A visão mais encantadora a respeito me foi dada pela arte literária, no livro Sonhos de Einstein, de Alan Lightman. Em cada capítulo da obra, o tempo passa (ou não passa) de maneira diferente, oferecendo uma rica visão sobre o avanço temporal.

A passagem do tempo se evidencia em datas como aniversários. Quando olho uma fotografia antiga e, em vez de sentir que o tempo passou para mim, tenho a sensação inversa: eu sempre serei o “eu do presente”, a foto é que envelheceu. O ser humano contemporâneo é múltiplo, vive vários papéis, semelhante a um conjunto de garrafas em uma adega, cada uma com seu próprio tempo. Um beaujolais de 2020 pode estar velho ao completar um ano, enquanto um Porto vintage 2000, mais antigo, ainda está jovem.

Os gregos antigos tinham duas divindades para o tempo: Kronos, o cronológico, e Kairos, o momento oportuno. Hoje, o tempo é simbolizado por instrumentos como o relógio, regidos por Kronos, esquecendo um pouco de Kairos. No vinho, cada safra mostra Kairos, o tempo certo de colher as uvas. A safra é crucial ao escolher um rótulo, determinando sua qualidade, que depende da matéria-prima (uva), do trabalho do homem e das técnicas empregadas. Nem todos os vinhos melhoram com o tempo. A expectativa de vida varia, alguns duram poucos meses, outros até um século.

Os de guarda são aqueles que se prestam ao longo envelhecimento em garrafa, mantendo-se por mais de dez anos. Fatores que conservam os líquidos incluem teor alcoólico, taninos, acidez e doçura. Abrir uma garrafa antiga é como receber uma mensagem de uma geração passada. O vinho ensina paciência e a importância de esperar o momento certo, transformando a degustação em uma experiência qualitativa e inesquecível.

Podemos olhar para uma carta de vinhos em um restaurante como quem vê um “menu do tempo”. Como disse H. G. Wells, podemos viajar em uma máquina do tempo apenas manejando um saca-rolhas. Ao longo de um mesmo jantar, é possível ir para frente e para trás. Aperitivo no presente, com um Rosé de Provence 2022. Voltamos ao passado na entrada, com um champanhe Millésime 2008.

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Continuamos passeando no primeiro prato com um branco 2023. Depois o principal com um tinto 1998, para encerrar lá atrás, no ano de nosso nascimento, com um Porto colheita 1965. Em resumo, o vinho nos ensina sobre o tempo, paciência e a sabedoria de esperar, valorizando o momento ideal de degustação. Ao entender o tempo do vinho, aprendemos a apreciar o valor do tempo em nossas vidas, construindo uma relação mais profunda e significativa com passado, presente e futuro.

Don Melchor Cabernet Sauvignon 2020 Ícone da Concha y Toro, elaborado com 92% cabernet sauvignon, 6% cabernet franc, 1% merlot e 1% petit verdot, com quinze meses em barricas francesas, 71% novas. Rubi escuro violáceo. Aroma complexo, com frutas negras bem maduras, muitas especiarias da madeira, ervas. Paladar estruturado, macio, com taninos doces, acidez equilibrada, 14,6% de álcool. Já acessível, mas com ao menos mais quinze anos de potencial de guarda. R$ 1 199,90, na Evino.

Convento Oreja Crianza 2018 Vinícola Convento de Oreja, em Ribera del Duero, na Espanha. 100% tempranillo, com doze meses em barricas francesas. Rubi-granada escuro. Aromas complexos de frutas vermelhas maduras, tabaco, balsâmicos, especiarias, tostados, café, baunilha. Encorpado, taninos redondos, 15% de álcool. Para agora ou mais cinco anos. R$ 312,82, na Wine.

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Hands of Time 2018 Da histórica vinícola Stag’s Leap, do Napa Valley, Califórnia. Feito com 71% cabernet sauvignon e 29% merlot, com dezesseis meses em carvalho francês. Rubi escuro. Aromas de cassis, amora, violeta, chocolate, baunilha. Paladar de médio-bom corpo, com 14% de álcool, equilibrado e macio. Pronto para beber ou para cinco anos de guarda. Hands of Time é um tributo aos enólogos que fizeram ou fazem parte da história de sucesso da vinícola. R$ 779,90, na Grand Cru.

Land of Malbec Malbec 2023 Do grupo argentino Fecovita. Elaborado com 100% malbec de Mendoza. Rubi violáceo, com três meses em barricas francesas. Aroma fresco, de frutas vermelhas, com toques de especiarias e baunilha. Paladar leve, fresco, com taninos para consumo imediato. R$ 54,90, na Evino.

Publicado em VEJA São Paulo de 23 de agosto de 2024, edição nº 2907.

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