A malbec é uma cepa originária do sudoeste francês. Teria nascido em Bordeaux há alguns séculos, mas desenvolveu-se mais na região francesa de Cahors, onde é chamada “côt” e tem estilo mais austero. A malbec foi trazida para a Argentina pelo agrônomo francês Michel Pouget, que fundou em 1853 a Quinta Normal de Agricultura, primeira escola de agronomia do país em Mendoza. Dez anos depois, a praga filoxera iniciou sua devastação nos vinhedos da Europa e depois em todo o mundo.
A Argentina é um dos poucos países junto do Chile e do Chipre isentos de filoxera. Desta forma, enquanto a malbec era dizimada pela praga na França, ela iniciava sua trajetória de expansão na Argentina, ao mesmo tempo em que, no final do século XIX, a vitivinicultura argentina experimentou um desenvolvimento exponencial com a chegada dos imigrantes italianos e mais franceses.
Em 1962, pouco mais de 100 depois de ser trazida ao país, a malbec se tornou a cepa mais plantada da Argentina, com mais de 58 000 hectares de vinhedos, ou 22,5% do total nacional. Logo depois, em 1974, aconteceu a primeira exportação de um vinho varietal de malbec com destino aos Estados Unidos.
Outros marcos importantes da malbec foram, em 1991, a criação da D.O.C. Lujan de Cuyo (em Mendoza), primeira denominação de origem da América do Sul implementada para impulsionar e proteger o desenvolvimento da uva em nível global. Hoje, a malbec é cultivada em todas as províncias argentinas, mas é em Mendoza que ela predomina, onde se concentra com 85% da área plantada do país.
Embora se preste a uma diversidade de estilos, desde rosados, espumantes, passando por tintos jovens e frescos, a malbec que conquistou os brasileiros tem perfil parrudo. O malbecão padrão seria um vinho de cor muito escura, em tons violáceos, com aromas de fruta negras maduras, como ameixas e amoras, e uma típica nota floral de violetas.
No paladar, seria encorpado, macio, com taninos maduros e aveludados, com acidez moderada e passagem por carvalho novo. Caiu nas graças de consumidores do mundo inteiro e ganhou até um dia para chamar de seu, o 17 de abril, desde 2011.
Mas brasileiros, em especial os paulistanos, fãs incondicionais da bebida, podem dizer que todo dia é dia de malbec. Saúde!
Humberto Barberis Gran Reserva Malbec 2017 Da Bodega Barberis, de Lujan de Cuyo, em Mendoza. 100% Malbec com catorze meses em barricas. Rubi escuro violáceo. Aroma intenso, com fruta bem madura e madeira na frente, ameixa preta, chocolate, baunilha, tabaco. Paladar encorpado, boa estrutura de taninos doces, acidez correta. Típico e bom malbec argentino. Sugiro decanter uma hora. R$ 194,00, na Wine.
Progreso Malbec-Syrah 2020 Da Fecovita, maior grupo vinícola da Argentina. Um blend de malbec com syrah, sem passagem por madeira. Cor vermelha rubi, entre clara e escura. Aroma fresco e frutado, com notas de frutas negras, como cereja e amora. Paladar médio corpo, com 13,6% de álcool. R$ 119,90, na Evino.
Clos de Los Siete 2020 A vinícola Clos de los Siete, do famoso enólogo francês Michel Rolland, fica no Vale de Uco. Elaborado com 55% malbec, 16% merlot, 15% cabernet sauvignon, 9% syrah, 3% petit verdot e 2% cabernet franc. Rubi-granada escuro. Aroma frutado e amadeirado, com cereja preta, chocolate, especiarias. Paladar de bom corpo, macio, taninos doces, equilibrado. R$ 188,12, na Wine.
Publicado em VEJA São Paulo de 19 de abril de 2024, edição nº 2889
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