De segunda a sexta pela manhã, uma pequena aglomeração se forma em frente ao imóvel onde funciona o Instituto Ações Sociais Vó Tutu. São moradores da vizinhança na Vila Brasilândia, periferia da Zona Norte, em busca de alimento. Para quem sabe o que é a fome, um alento. São distribuídos diariamente 2 000 pãezinhos no formato de macias bisnaguinhas assadas na tarde anterior junto de 300 litros de chá — na quarta, são 2 600 unidades (400 vão para o projeto Pãozinho Solidário).
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O nome por trás dessa ação generosa é o de Maria Paulina Avelino Marques da Silva, 71. A proposta de amparar quem precisa é antiga e se fortaleceu na pandemia. Pouco antes de a crise sanitária ser decretada, Vó Tutu, como é conhecida, tinha realizado um sonho de empreendedora. Ela, que ganhava a vida cozinhando em eventos e vendendo comida para fora, conseguiu, com a ajuda dos filhos, montar um restaurante na Freguesia do Ó, que durou apenas três meses. Sem saber o que fazer, ouviu um sopro, uma inspiração sugerindo que ela fizesse pão para doação.
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Com o dinheiro que tinha na conta, preparou a primeira fornada com 200 unidades amassadas com as próprias mãos e assadas no forno da casa onde mora até hoje, no piso de baixo do espaço transformado em organização social. No segundo dia, havia mais de cinquenta pessoas em busca das bisnaguinhas. Sem recursos para continuar, a solução veio do neto Thalys, de 8 anos na época, que sugeriu gravar um vídeo pedindo colaborações, prontamente editado pelo irmão dele Mayan, quatro anos mais velho. “Estava muito nervosa, fiz um vídeo muito tosco, que ele jogou nas redes sociais. No outro dia, foi uma loucura, tinha fila de gente querendo ajudar, doando farinha, fubá…”, lembra.
Uma das pessoas a notar as ações de Vó Tutu foi Paola Carosella, primeira premiada em causa social, em 2019, ao assistir ao vídeo e participar, com Ana Paula Padrão, de uma ação promovida pelo dentista Felipe Rossi, da ONG Por1Sorriso, na Brasilândia. Dona de uma voz potente, Paola pediu doações e, assim, Vó Tutu ganhou os equipamentos profissionais. Em 2021, Vó Tutu, que já tinha recebido outros equipamentos de Luciano Huck, apareceu no Domingão com Huck e foi contemplada com uma reforma do espaço.
Não acredite, porém, em requinte. A padaria é um lugar simples, e a batalha é diária, na qual ela tem a ajuda, em particular, da filha Vânia, presidente do instituto, e da nora Edilaine, responsável pela produção dos pães, uma vez que Tutu tem pinos no pé esquerdo e não pode permanecer muito tempo de pé. Ela agora também dá aulas em entidades como o Tonkiri, ensinando a receita do pãozinho. E segue garantindo o café da manhã para mais de 100 famílias por dia.
Publicado em VEJA São Paulo de 29 de setembro de 2023, edição nº 2861.
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