No dia 20 de março de 2020, chegava às bancas a primeira edição da Vejinha que trazia a pandemia de Covid-19 como o assunto principal da capa. Era um guia para ajudar os paulistanos a suportar a quarentena que entraria em vigor na semana seguinte.
Naquela altura, a capital registrava as primeiras vitimas da doença e o governo anunciava o fechamento de escolas e serviços não essenciais (confira na linha do tempo). Um ano — e 22 capas dedicadas ao tema — depois, a cidade tem 673 443 casos, 19 741 mortos e 86% dos leitos de UTIs ocupados.
E essa triste soma está longe de terminar. “Nada indica que o quadro vá melhorar nos próximos dias”, diz Edson Aparecido, secretário de Saúde do município. “Hoje, não temos alguns problemas que tivemos na primeira onda, como a falta de EPIs ou o desconhecimento da doença. Mas a população não tem a mesma adesão à quarentena que teve no início”, afirma.
Nas páginas a seguir, VEJA SP relembra declarações de personagens que marcaram esse período, faz um balanço dos restaurantes que a cidade perdeu, reencontra o jovem de Paraisópolis que estampou uma capa no início da quarentena e, por fim, reproduz uma coleção de flagras de aglomeração que ajudam a explicar por que São Paulo enfrenta uma segunda onda de Covid-19 ainda mais grave que a primeira.
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Bruno Covas, prefeito, em 9/11/20
Ana Maria Diniz, explicando a doação da família fundadora do Pão de Açúcar, em 20/5/20
Mauro Aguiar, diretor do Bandeirantes, sobre os privilégios dos alunos, em 28/10/20
Edu Lyra, da rede Gerando Falcões, em 22/4/20
Jamila Ferrari, coordenadora das Delegacias da Mulher, sobre a alta nas queixas, em 29/4/20
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, em 19/6/20
Rubens Ricupero, diplomata, em 27/5/20
Costanza Pascolato, que nasceu na Itália e tem lembranças do primeiro conflito mundial, em 22/4/20
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DE VOLTA À FAVELA
Em março do ano passado, VEJA SÃO PAULO destacou a foto de Marcus Vinicius dos Santos para mostrar as dificuldades do isolamento social em Paraisópolis.
Qual a atual situação da pandemia no bairro?
No início, até por me virem na revista, os moradores acataram bem o isolamento. O tempo passou, o governo afrouxou as regras e o pessoal voltou para a rua. Rolavam até bailes funk. Hoje, a AMA do bairro está lotada.
As doações caíram?
Muito. A gente chegou a distribuir 3 000 marmitas por dia na comunidade. Agora são por volta de 500. Hoje (15) uma senhora veio debaixo de sol pedir uma marmita, e tive de dizer que tinha acabado. Fiquei muito triste.
Você morava com mais dezenove pessoas. Como está a situação na casa?
Eu me mudei para a casa de um amigo por um tempo, até mandarmos nossos pais para um sítio no Maranhão. Estou de volta. Somos 22, porque nasceram duas bebês. Quatro de nós recebiam o auxílio emergencial, agora estamos sem a ajuda. Como sou cuidador de idosos, fui vacinado. É um alívio.
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BAIXAS NA GASTRONOMIA
La Frontera
Um dos primeiros restaurantes gastronômicos a fechar na pandemia, a charmosa casa com janelões em Higienópolis serviu a última refeição em março do ano passado.
Namga
Fechado desde maio, era um dos únicos endereços da cidade com menu tailandês
Marcel
Nascido em 1955 no centro, passou aos cuidados de Jean Durand no fim dos anos 60 e nunca mais saiu das mãos da família.
Teve vários endereços, até se fixar no térreo de um hotel nos Jardins, em 1994. Famoso pelos suflês, revelou o talento do chef Raphael Despirite, neto de Durand. Fechou em julho passado.
Bierquelle
Fora do circuito gastronômico badalado, a casa de Interlagos servia pratos alemães de qualidade. Despediu-se do público em julho de 2020.
Micaela
A casa de cozinha brasileira preparada com técnicas espanholas modernas fechou em janeiro de 2021. O chef e proprietário Fábio Vieira, premiado como revelação pelo COMER & BEBER em 2014, disse que “as incertezas da pandemia complicaram muito o negócio”. Hoje, ele está à frente da cozinha dos cafés Santo Grão.
Mundo Pão do Olivier
Primeiro foi a unidade da Vila Nova Conceição, que durou apenas cinco meses. Neste mês, a matriz da padaria de Olivier Anquier, perto da Praça da República, encerrou as atividades. “Vivemos um desmoronamento daquilo que construímos”, lamentou o chef e apresentador.
ASSIM SURGE A SEGUNDA ONDA
Os flagras de desrespeito ao distanciamento social foram tema de diversas reportagens ao longo do ano
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DATAS QUE A CIDADE NÃO VAI ESQUECER
26/2/20 – O vírus desembarca
Um homem que tinha viajado para a Itália e estava internado no Hospital Albert Einstein testa positivo para o coronavírus
5/3/20 – Transmissão local
São Paulo confirma os primeiros dois casos de pacientes que se infectaram no país, sem terem viajado ao exterior
12/3/20 – O primeiro luto
Uma mulher de 57 anos morre em um hospital da Zona Leste (antes, portanto, do caso do Sancta Maggiore, em 16/3)
16/3/20 – Escolas fechadas
Os colégios municipais e estaduais da capital suspendem as aulas presenciais, afetando 4,5 milhões de alunos
23/3/20 – Quarentena
Passa a valer o primeiro decreto de restrição de circulação no estado, que vem sendo atualizado de lá para cá
6/4/20 – Hospitais de campanha
A primeira estrutura emergencial para tratar doentes da Covid-19 é inaugurada no Estádio do Pacaembu, com 200 leitos
20/5/20 – O megaferiado
O estado antecipa as folgas de Corpus Christi, Consciência Negra e Revolução de 1932 para aumentar o isolamento social
6/7/20 – Alívio passageiro
Após 104 dias, a cidade reabre bares, restaurantes e salões de beleza com restrições de ocupação e horários
9/10/20 – Fase verde
São Paulo entra na fase mais leve da quarentena e reabre com restrições parques, eventos, cinemas e teatros
17/1/21 – Chega a vacina
A enfermeira Mônica Calazans, 54, se torna a primeira pessoa a receber a CoronaVac após a liberação do imunizante
3/3/21 – Volta ao início
Após recorde de internações, o governo restringe novamente o funcionamento de comércios e serviços no estado
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Publicado em VEJA São Paulo de 24 de março de 2021, edição nº 2730