Quando ingressou no ranking da revista inglesa “Restaurant”, em 2006, o D.O.M., do chef paulistano Alex Atala, ocupava a 50ª colocação na eleição internacional, da qual participam 800 votantes, entre críticos, chefs, restaurateurs e amantes da boa mesa. Como numa surpreendente corrida de obstáculos, o restaurante saltou 43 posições em apenas cinco anos. Desde o anúncio do resultado na última segunda (18) em Londres, passou a integrar o grupo dos dez melhores do globo. Foi indicado ainda como o número 1 da América do Sul. Esta é a primeira vez que o trabalho de um cozinheiro brasileiro alcança tamanha repercussão além do território nacional.
Certamente, foi fundamental para essa ascensão o grande número de es – trangeiros que estiveram no D.O.M. nos últimos anos, em especial a visita de chefs eleitores de outros países, e, claro, o bom marketing pessoal de Atala. Contribuiu ainda para o resultado a qualidade das receitas elaboradas pelo mestrecuca, o mais admirado por seus concorrentes na cidade (e também um dos mais criticados), como revelou a pesquisa inédita publicada por VEJA SÃO PAULO na semana passada. “Não esperava chegar tão alto”, diz ele, disfarçando uma certa imodéstia.
Para que se entenda como funciona essa eleição, os jurados, entre eles este repórter, têm como missão enviar sete votos eletrônicos à sede da publicação inglesa, quatro deles referentes à área onde residem e três a diversas partes do mundo. Os locais escolhidos devem ter sido visitados nos últimos dezoito meses e ser indicados em ordem de preferência. Curiosamente, o topo dessa escolha vem sendo preenchido por casas de cardápio arrojado. Menus clássicos quase não dispõem de chance de aparecer nesse olimpo culinário criado pela revista “Restaurant”.
Pelo segundo ano consecutivo, o campeão é o dinamarquês Noma, dirigido pelo chef René Redzepi. “Fiquei emocionado pelo reconhecimento”, diz. “Estou junto de um grande time de chefs, e é um prazer compartilhar esse prêmio com pessoas como Atala.” Dois espanhóis aparecem na sequência da premiação, o El Celler de Can Roca e o Mugaritz. Joan Roca, sócio com dois irmãos do segundo da lista, afirma que o chef paulistano fez uma aposta valente. “Ele soube entender e interpretar a cozinha de vanguarda”, afirma. Neste ano, o time dos cinquenta melhores traz os mexicanos Biko e Pujol no 31º e no 49º lugares, respectivamente, e o peruano Astrid y Gastón no 42º. Andoni Luis Aduriz, do Mugaritz, alerta para o fato de que até recentemente só havia aval para alta gastronomia vinda da Europa. Para ele, Atala encabeça o grupo de profissionais que estão dando visibilidade a uma cozinha de qualidade até então desconhecida por lá.
O D.O.M. cobra no Brasil preços compatíveis com os de seus colegas internacionais estrelados. Ou seja, altíssimos. Quem pede o menu degustação em oito etapas desembolsa 448 reais com o serviço, mas sem bebidas. Até quinze dias atrás, ele saía por 336 reais. Houve um aumento de 30%, portanto. A equipe da casa garante que isso foi feito antes da divulgação do novo ranking. “O chef incluiu novos pratos”, justifica o maître Robson Marcos Cavalcanti.
O que dizem dele…
René Redzepi, do Noma, em Copenhague, na Dinamarca (1º lugar)“Estou junto de um time de grandes chefs. É um prazer compartilhar esse prêmio com eles e com o próprio Atala.”
Joan Roca, do El Celler de Can Roca, em Girona, na Espanha (2º lugar)
“É um grande cozinheiro que soube entender e interpretar a cozinha de vanguarda. Além disso, tem um perfil carismático.”
Andoni Luis Aduriz, do Mugaritz, em San Sebastián, na Espanha (3º lugar)
“Alex fez uma carreira meteórica e é reconhecido no mundo todo. Está abrindo fronteiras não só para o Brasil, mas para toda a América Latina.”