Questões técnicas na rede da região metropolitana de São Paulo podem prejudicar o início de um rodízio de água no curto prazo, ainda que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) já considere essa possibilidade. A instalação de válvulas e de novos reservatórios, além de estudos técnicos mais abrangentes sobre a rede, são itens necessários para que o rodízio não acabe aumentando as perdas de água e, assim, comprometendo seu objetivo, segundo especialistas e fontes do setor.
De acordo com uma fonte próxima da Sabesp ouvida pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a estatal precisa instalar mais válvulas redutoras de pressão nas tubulações para controlar a volta da água na rede que estiver temporariamente seca devido ao rodízio. O objetivo é não correr o risco de perder água no processo. “Também é preciso aumentar a reservação para evitar bombear a água o tempo todo”, diz a fonte, acrescentando que os investimentos para essas medidas não são significativos e que elas podem ser concluídas em um mês.
+ Ciclovias custam mais que o triplo do previsto na cidade
Para o professor de Engenharia Hidráulica da Universidade Presbiteriana Mackenzie Antonio Eduardo Giansante, o processo para viabilizar o rodízio pode ser mais longo que um mês, pois, para realizar essas obras da melhor forma, a Sabesp teria que mapear melhor a rede. “A rede foi correndo atrás da cidade, então em vários locais não se sabe direito como ela chega. É importante colocar válvulas, mas antes disso é preciso ter um conhecimento bom da rede. Isso não é um problema só da Sabesp, é do setor como um todo. Falta cadastro”, afirma.
Segundo Giansante, as obras necessárias não são grandes. “Existem reservatórios pequenos e até mesmo alguns maiores que podem ser comprados. O que eu vejo como desafio é conhecer bem a rede. Você fecha um registro e não sabe direito onde está acabando a água”, aponta o professor. “Seria complicado iniciar um rodízio agora. É possível, mas essa redução de pressão serviu para mostrar como tem coisas que fogem do controle pelo desconhecimento do traçado da rede”, acrescenta.
+ Dilma, Haddad e Alckmin perdem popularidade, diz Datafolha
A Sabesp trabalha desde o ano passado com redução da pressão nas tubulações, o que acaba deixando algumas áreas mais altas da cidade sem água, ainda que a companhia alegue não ser esse o objetivo da medida.
O presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, Alceu Bittencourt, pondera, porém, que existe a possibilidade de um rodízio ser iniciado com a rede atual, ainda que caibam melhorias e que possa haver incerteza. “Válvulas e reservação sempre melhoram a condição do sistema. Mas já foi feito um rodízio anos atrás com uma rede mais simples, com menos válvulas. Pode ser que haja incerteza sobre o efeito por que não se fez isso nos últimos anos”, afirma.
Em 2000, a falta de chuva fez com que os paulistanos abastecidos pelo sistema Guarapiranga vivessem durante três meses com água racionada. O abastecimento ocorria por dois dias, enquanto no terceiro era cortado. O rodízio, iniciado em junho, só terminou em setembro.
Procurada, a Sabesp não quis se manifestar sobre o assunto, alegando não haver nenhuma decisão sobre o rodízio. No entanto, em reunião com prefeitos da região metropolitana na semana passada, o secretário de Recursos Hídricos, Benedito Braga, sinalizou a falta de preparo da rede. Braga afirmou que “pequenas obras serão necessárias” em caso de rodízio, sem entrar em maiores detalhes.
Após a reunião, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse a jornalistas que, segundo Braga, a Sabesp não está preparada para a adoção de rodízio neste momento. “Segundo o secretário, há uma série de medidas preparatórias que impedem a adoção imediata do racionamento. Mesmo que se quisesse fazer agora, a rede da Sabesp não está preparada para isso”, afirmou então.
(Com Estadão Conteúdo)