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OLÁ,

Psicólogo dá aulas expressas de filosofia nas ruas

Diego Macedo se especializa em ensinar as pessoas no centro

Por VEJA SÃO PAULO
Atualizado em 5 dez 2016, 14h07 - Publicado em 5 set 2014, 23h00

Durante a semana, por volta das 11 horas, cerca de setenta pessoas formam fila em frente à unidade da Rua 25 de Março do restaurante popular Bom Prato, especializado em vender refeições por 1 real. Um rapaz de 25 anos acha que a turma por ali também tem fome de filosofia. Enquanto manuseia uma lousa e um pincel atômico, passa a evocar na frente dos novos pupilos ensinamentos de alguns dos cânones do pensamento ocidental, entre eles o grego Platão e o alemão Nietzsche, disparando frases como “pedir ajuda é anular a nossa própria força”.

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As palestras duram cerca de dois minutos. O mestre não se aprofunda em temas complexos e prefere abordar conceitos universais, como a raiva e o amor. Responsável por essa aula inusitada, Diego Macedo começou o trabalho voluntário no mês passado. Formado em 2013 em psicologia pela Universidade Católicade Petrópolis (RJ), ele vai ao Bom Prato pelo menos três vezes por semana. Fica no local pouco mais de uma hora em cada uma dessas ocasiões. A ideia da “filosofia express” surgiu ao acompanhar a apresentação de artistas de rua no centro. “Vi um homem tocando violão e quis oferecer o que sei”, conta.

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A escolha do local ocorreu por um motivo prosaico. “Eu já frequentava o restaurante”, afirma Macedo, que desembarcou em São Paulo em maio, vindo do Rio de Janeiro. Durante suas curtas intervenções na calçada, algumas pessoas, desconfiadas, seguem caminho, mas outras se acomodam em volta para ouvir. Várias são moradores de rua. “Entendo de filosofia”, diz um deles, um senhor de 59 anos que se apresenta como “Diamante Negro”. É a deixa para Macedo direcionar sua oratória. “O diamante é precioso como a pérola: ela surge a partir da defesa da ostra, que transforma a invasão de um parasita em uma bonita pedra.”

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Seu próximo passo será profissionalizar o negócio. Após batizar o projeto de Escola de Rua, ele o inscreveu em julho na plataforma de financiamento coletivo Catarse: a promessa é dar uma aula a cada 100 reais arrecadados. Como já amealhou quase 3 500 reais pelo sistema, garantiu três sessões semanais pelos próximos três meses em locais como o Bom Prato, praças do centro e estações do metrô.

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Papo-cabeça

Algumas citações usadas durante as palestras

› Angústia: “É a ausência de alguma experiência que precisa ser vivida, um pedido de aventura. Cabe a cada pessoa enxergar como uma possibilidade de liberdade”.

› Dúvida: “Uma vida sem questionamentos não merece ser vivida. Quando nos perguntamos a respeito da realidade, entendemos melhor o mundo ao nosso redor”.

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› Raiva: “A falta de controle é a sua principal causa. Nós mesmos somos os responsáveis por guardar ou não esse sentimento”.

› Piedade: “Pedir ajuda é anular a nossa própria força. Fazendo isso, deixamos de acreditar que podemos lutar para realizar o que queremos”.

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