Em agosto de 2011, Geraldo Alckmin anunciou um plano para tirar da estagnação a malha metroviária da capital. Não bastasse a inauguração tardia, no início da década de 70, o sistema avançava até então em ritmo lento, a uma taxa inferior a 2 quilômetros por ano. A promessa do governador era acelerar consideravelmente a média. “Vou entregar 30,7 novos quilômetros de metrô até 2014”, afirmou na época. Passados mais de três anos da promessa, o resultado é decepcionante. Pouco mais de 9 quilômetros saíram do papel (menos de um terço do projeto), o que aumentou para 78,3 quilômetros a malha.
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Na hipótese mais otimista, o restante ficará pronto somente em 2018. Os planos oficiais preveem ainda a construção de outros 38,3 quilômetros até 2020. Com isso, o sistema chegaria nessa data à extensão de 147 quilômetros. Mas o histórico recente das obras é problemático. O mais novo imbróglio envolve o empreendimento da segunda fase da Linha 4 – Amarela. Ele compreende cinco novas estações, em um investimento estimado em 568 milhões de reais: Fradique Coutinho (a única já entregue), Oscar Freire, Higienópolis-Mackenzie, São Paulo-Morumbi e Vila Sônia.
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No começo de fevereiro, Alckmin admitiu que havia um problema com o consórcio espanhol Isolux Corsán, responsável por aquele trecho. Segundo o governador, a empresa não tinha fôlego financeiro para finalizar os trabalhos, daí a demora na sua conclusão. A primeira previsão era que eles ficariam prontos no fim de 2013. Depois disso, em comum acordo, esse prazo acabou sendo esticado para 2015. Já se sabe, no entanto, que será impossível terminar tudo antes de 2018. Devido aos problemas, o Metrô fala em rescindir o contrato com a Isolux Corsán.
Os executivos da companhia negaram por meio de uma nota oficial que o consórcio esteja com problemas de caixa para entregar a segunda fase da Linha Amarela e jogaram a culpa do atraso no Metrô, que não teria entregado até hoje a versão final do projeto daquele trecho. Como exemplo, citam o caso da Estação São Paulo-Morumbi, que não teria recebido nem 70% das plantas prometidas. “Tivemos de fazer readequações nas estações previstas, mas todas as informações devidas já foram entregues ao consórcio”, rebate Walter Castro, diretor de engenhariae construções do Metrô.
Na semana passada, a reportagem de VEJA SÃO PAULO percorreu o canteiro de obras em diferentes dias e horários e constatou que os trabalhos estão paralisados, com funcionários de mãos atadas, sem material para realizar os serviços e com ordem para esperar o término da discussão entre o consórcioe o governo. Uma reunião estava agendada para a última sexta-feira (27) a fim de tentar pôr um ponto final no caso. Na véspera do encontro, o rompimento do convênio era tido como a hipótese mais provável nos bastidores do Metrô. Se isso ocorrer, o governo será obrigado a pagar uma multa de cerca de 100 milhões de reais pela rescisão docontrato e fazer uma nova licitação, o que empurraria o término das obras para 2018, na melhor das hipóteses.
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A confusão mexe também com a vida dos moradores da região. O comerciante Franz Ambrósio, síndico de um prédio na Rua Piauí, em Higienópolis, lembra que, em 2002, ocorreu a primeira sondagem de terreno na esquina de sua rua, em frente à futura Estação Higienópolis-Mackenzie. Desde essa época, ele convive com rachaduras na área social do edifício, afundamento de solo na garagem e um prejuízo de 80 000 reais, necessários para fazer todos os consertos. Sua recompensa viria com a comodidade de ter o metrô na porta de casa. “Hoje tenho de conviver com um canteiro abandonado e nenhuma obra pronta”, reclama.
De acordo com especialistas na área de infraestrutura de transportes, os problemas ocorridos no metrô paulista se repetem na maioria das obras públicas brasileiras. “Na ânsia de seguir um calendário político, o gestor passa por cima da elaboração de um projeto executivo benfeito, que evitaria surpresas no meio do caminho”, explica Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral. Em outras palavras, enquanto correm para cortar a faixa de inauguração de uma obra, os políticos costumam negligenciar o planejamento. Para se ter uma ideia da lentidão do nosso avanço no metrô, enquanto o governo de São Paulo entregou, desde 2011, pouco mais de 9 quilômetros, a cidade de Dubai concluiu a construção de 74,6 quilômetros nos últimos seis anos. Não bastassem os problemas que envolvem a expansão, os usuários do sistema convivem com falhas constantes nos trilhos (uma pane grave a cada três dias) e a superlotação. Mais de 4,7 milhões de pessoas utilizam diariamente o metrô e, nos horários de pico, estações como as da Linha3 – Vermelha registram oito pessoas por metro quadrado,quando o limite internacional para o conforto dos passageirosé de até seis por metro quadrado. Os paulistanos merecem um serviço melhor.