Um lugar queridinho dos paulistanos voltará a funcionar no próximo mês. Após dois anos de reforma, a Casa das Rosas abrirá novamente no dia 28 de outubro. O edifício de quatro pavimentos estava fechado para um restauro estrutural das marcas de deterioração, como infiltrações, desgaste de revestimentos do piso, parede e teto e problemas hidráulicos e elétricos. As obras tiveram um custo estimado em 4,2 milhões de reais, dos quais 80% vieram do Fundo de Defesa de Direitos Difusos do Ministério da Justiça e 20%, do governo estadual [após a publicação da reportagem, o governo informou que custeou 100% das obras].
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Mais do que simples reparos, a intenção foi recuperar características originais do imóvel tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Essa atenção pode ser vista nos papéis de parede dos cômodos, que receberam um trabalho detalhado à mão para reproduzir os desenhos antigos.
Houve também uma preocupação em instalar recursos de acessibilidade e reconstituir o acervo do poeta Haroldo de Campos (1929-2003), símbolo do movimento concretista brasileiro, que dá nome à casa. Durante as obras, os mais de 20 000 itens históricos foram transferidos à sede da Poiesis — Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura, que gere o espaço. Eles voltam a ocupar o subsolo do endereço na Avenida Paulista, agora mais protegidos — foi escavada uma vala em torno da construção a fim de promover segurança ao acervo e impedir a umidade do solo.
Renovado, o espaço ressurge com uma proposta de programação cultural ampla, de modo a explorar as intersecções da literatura com outras linguagens da arte. Em um primeiro momento, a exposição Vivências do Novo ocupará os dois primeiros andares do casarão. O térreo vai contar a história da casa, do restauro e da avenida. No primeiro andar, quinze artistas contemporâneos terão espaço para apresentar trabalhos sobre a cidade e o conceito de urbanidade.
“Um dos focos do novo projeto é a própria casa, porque ela também é um acervo”, afirma Marcelo Tápia, diretor da Casa das Rosas. “Temos como conceito o papel da casa como um testemunho das transformações, já que ela resiste em uma avenida que mudou muito e reflete o processo de transformação urbana, cultural e social, porque era uma casa de elite que agora é pública.” Posteriormente, uma mostra de longa duração será inaugurada, além de outras exposições temporárias.
Construída em 1935 pelo escritório de Ramos de Azevedo, a Casa das Rosas abrigou membros da família até 1986, quando foi vendida ao empresário Mário Pimenta Camargo e ao arquiteto Júlio Neves, que construíram um edifício comercial no terreno de modo a arcar com os custos da preservação do imóvel. Em 1991, ela foi desapropriada e passou a funcionar como uma galeria de artes plásticas, até ser fechada para reformas, em 2001. Três anos depois, foi reinaugurada como Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, e assim continua.
A longo prazo, a ideia é que a Casa das Rosas se consolide como um centro cultural e de tendências. “O lugar é um ponto de confluência da literatura e da poesia para pessoas da periferia”, diz Clóvis Carvalho, diretor-executivo da Poiesis. “É uma referência de época nesse grande e importante eixo da cidade, a Avenida Paulista”, afirma Marília Marton, secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo. “Para a cultura na capital, o restauro é um marco importante”, ela completa.
Publicado em VEJA São Paulo de 22 de setembro de 2023, edição nº 2860