O dia 1º de fevereiro de 1974 começou como qualquer outro para João Simão de Souza. O então bombeiro, na época com 23 anos, estava se preparando para as atividades de educação física no quartel do 1º Grupamento de Buscas e Salvamento do Cambuci quando, por volta das 9h30, o alarme tocou, reportando o incêndio em um prédio na Rua Santo Antônio, na Bela Vista. “Quando cheguei ao local, me assustei. Era fogo bravo”, ele conta.
Tratava-se do antigo Edifício Joelma, atual Edifício Praça da Bandeira. Um curto-circuito no sistema de ar-condicionado causou as chamas, que deixaram pelo menos 181 mortos e mais de 300 feridos. O caso marcou a cidade, não só pela destruição e pelas mortes, mas por expor a falta de segurança das edificações e motivar um novo Código de Obras na Câmara Municipal.
Coube aos bombeiros agir com os poucos recursos disponíveis. “O capitão mandou pegar a escada de gancho e ir retirar as pessoas no beiral. Íamos passando as vítimas entre nós”, narra Simão. “Enquanto isso, outras pessoas estavam pulando, por causa do calor, e passavam perto da gente, caindo na calçada.”
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Em seguida, Simão adentrou o prédio para uma vistoria. “Muitas pessoas mortas. Nas escadas, encontrei um rapaz vivo. Peguei-o no colo e continuei descendo. Lembro que a água que batia nas minhas costas parecia que ia furar o meu corpo, de tão quente. No meio daquele poeirão, escutei um grito de ‘cuidado!’ de um colega e deixei o rapaz cair. Fui perdendo os sentidos e só acordei no hospital”, conta.
Depois, o bombeiro descobriu que uma laje caiu sobre o rapaz e também o atingiu, quebrando seus dentes, clavículas, braços, pernas, três costelas e perfurando seu pulmão. Ele demorou cerca de um ano e oito meses para se recuperar totalmente.
Hoje sargento aposentado, Simão foi um dos homenageados pela Câmara em cerimônia na quinta (1º), em memória das vítimas. Haverá também um seminário sobre prevenção de acidentes na terça (6).
Publicado em VEJA São Paulo de 2 de fevereiro de 2024, edição nº 2878