Alvo de processo na Corregedoria da Câmara Municipal por usar uma frase racista que vazou nas caixas de som do plenário há um mês, o vereador Camilo Cristófaro (Avante) terá seu futuro político julgado por colegas nas próximas semanas.
Depois que disse “Não lavarem a calçada… é coisa de preto”, Camilinho, como é conhecido por seus pares e até por adversários, vem sendo objeto de diversas manifestações, inclusive com carros de som na frente do Legislativo, no Viaduto Jacareí.
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Um desses protestos contou com a presença do presidente da Casa, Milton Leite (União Brasil). “Fui ofendido pelo ato de racismo praticado pelo vereador. Como presidente, vou manter a minha isenção, respeitando todos os direitos dele, mas vou trabalhar para a cassação de seu mandato”, disse Leite, em áudio enviado em um grupo de vereadores.
Embora tenha o mesmo peso dos colegas em uma votação nominal, Milton Leite é uma das pessoas mais influentes da política paulistana e em um vídeo, gravado ao lado do prefeito Ricardo Nunes (MDB), disse que vai “mandar o Camilo embora”.
Enquanto tenta se defender administrativamente, Cristófaro é alvo de um processo criminal por abuso de autoridade. Como presidente da CPI da Pirataria, ele fez uma ação em um shopping popular na região da Rua 25 de Março e foi acusado de arrombar um boxe sem autorização judicial. A Polícia Civil concluiu que ele não poderia ter feito o que fez e o indiciou. O caso está na Justiça, ainda sem decisão sobre se a denúncia será ou não aceita. Em caso positivo, ele, que nega o abuso, se tornará réu.
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Em outra ação, a empresária Hwu Su Chiu Law, conhecida como Miriam e esposa de Law Kin Chong, que foi acusado no passado de ser o maior contrabandista do Brasil, afirma ser alvo de calúnia, injúria racial e ameaças.
Durante a visita de seu advogado ao vereador, para despachar questões pendentes de análise sobre uma convocação sua para depor na comissão, Miriam foi xingada pelo parlamentar. “Ela é uma filha da puta. Ela não é empresária, não. Ela é uma naja que te encanta e pica… Vocês não viram nada, eu vou destruir esses shopping centers.”
Procurado, Camilo Cristófaro, que pediu desculpas pela fala racista, não respondeu ao pedido de entrevista.
Nos últimos cinco anos, Camilinho vem acumulando encrencas, agressões e confusões dentro e fora da Câmara. Em 2017, dois meses depois da posse, ele foi acusado pela então vereadora Isa Penna (hoje deputada estadual pelo PCdoB e que foi alvo de importunação sexual por seu colega Fernando Cury, do União Brasil) de tê-la chamado de “vagabunda”, “cocô de galinha” e “terrorista”. Na sequência, teria empurrado a parlamentar.
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Em ambos os casos ele disse que isso não ocorreu. Três meses depois e sem poder negar a cena, que foi filmada nos corredores da Câmara, Camilo jogou o celular de um assessor do vereador Eduardo Suplicy (PT) no chão.
Eleito em 2016 com 29 603 votos, Camilo se fez conhecido por filmar radares escondidos, ciclovias que não estavam interligadas e o que mais lhe chamasse a atenção, sempre contrário à atuação do então prefeito Fernando Haddad (PT). Com sotaque “macarrônico” e o slogan “Se a sua verdade não for a minha verdade…”, levantou a bandeira do trânsito e foi reeleito quatro anos depois, apesar de cerca de 6 000 votos a menos do que na eleição anterior.
Depois do petista, seu alvo preferido foi o tucano João Doria, eleito prefeito há seis anos com apoio amplo de outros partidos, inclusive o de seu então PSB (ele foi desfiliado recentemente, a pedido, depois das falas racistas). Assim que a legenda desembarcou da gestão do PSDB, Camilo passou a mirar na figura pessoal de Doria.
Em um dos vídeos, ele mostrou uma praça na região do Ipiranga coberta por mato alto. Para ilustrar a cena, ele levou, acredite, uma dúzia de cabritos, que foram soltos no espaço. “A cidade está a tal ponto abandonada que eu trouxe as minhas meninas, as minhas cabritas, para pastar aqui no Heliópolis. Estão aqui a Dengosa e nossos bebês.”
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Na ocasião, Camilo disse que a surreal cena pôde ser feita graças à ajuda de um amigo, que lhe forneceu o transporte dos animais. “Elas ficam comendo o capinzal que o Doria deixou pela cidade. São Paulo está um caos e eles não estão nem aí para a cidade”, afirmou à Vejinha na época.
Depois da história das cabritas,Camilo foi processado por Doria, chamado de “Pinóquio” pelo parlamentar. O caso foi julgado improcedente e o ex-prefeito foi condenado a pagar 7 500 reais de honorários e de custas. Coube recurso e a ação ainda permanece em tramitação (na segunda instância).
Ainda no campo judicial, na última semana, o Ministério Público pediu a quebra do sigilo fiscal do vereador, sob a acusação de enriquecimento ilícito. Segundo a denúncia, ele fez movimentações financeiras incompatíveis com sua renda.
A Justiça negou a quebra, dizendo que o parlamentar nunca se negou a abrir sua vida financeira. O promotor do caso fez pesquisas para saber se Camilo possui aviões ou barcos, mas só encontrou sua coleção de dezesseis Fuscas.
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Publicado em VEJA São Paulo de 8 de junho de 2022, edição nº 2792