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Moradores pedem reabertura de hospitais na Zona Oeste para tratar Covid-19

Sorocabana, na Lapa, só tem dois dos sete andares utilizados; Panamericano, no Alto de Pinheiros, está fechado

Por Fernanda Bassette
Atualizado em 27 abr 2020, 21h52 - Publicado em 26 abr 2020, 16h47
Hospital Sorocabana
Hospital Sorocabana (Antonio Zagato/Reprodução)
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Moradores da região da Lapa, na zona oeste de São Paulo, estão se mobilizando para pedir para a prefeitura a reabertura do Hospital Sorocabana, que encerrou as atividades há dez anos e antes funcionava no coração da Lapa exclusivamente para atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O hospital, que tem sete andares, chegou a funcionar com 150 leitos públicos e atender uma média de 20 mil pessoas por mês. Todos os leitos foram desativados após a crise financeira da entidade que administrava o local.

À época, o governo do estado retomou a posse da área e, por meio de um decreto publicado em 2016, cedeu o uso do local para a Prefeitura de São Paulo pelo período de 20 anos. Promessas de reforma e de reabertura do hospital foram feitas, mas até hoje a unidade hospitalar continua fechada. Cinco dos sete andares do prédio estão ociosos e nos dois primeiros funcionam três unidades de saúde municipais: uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial); um Hospital Dia da Rede Hora Certa (que faz atendimentos de baixa complexidade) e um CER (Centro Especializado de Reabilitação) para atendimentos ortopédicos. Outros andares do hospital estão servindo de locação para séries de TV.

A reivindicação da população pedindo a reabertura da unidade é antiga, mas tem ganhado força nas últimas semanas por conta da pandemia do novo coronavírus, que atinge todo o país. Por conta disso, membros do Conselho Participativo Municipal da Lapa entregaram um ofício ao prefeito Bruno Covas e ao governador João Doria no final do mês passado requerendo a inclusão do Hospital Sorocabana nos planos de contingência e combate à doença. O documento foi assinado por 57 conselheiros municipais. O comitê também enviou um ofício ao Ministério Público Estadual, pedindo a mesma coisa.

“A luta pela reabertura do hospital sempre existiu, mas o movimento se intensificou por causa do coronavírus. A prefeitura construiu hospitais de campanha no Pacaembu e no Anhembi e o Sorocabana que está pronto, apenas precisando de reformas pontuais, sequer foi considerado”, afirmou Antonio Zagato, coordenador do conselho municipal da Lapa.

De acordo com Zagato, que acompanhou uma vistoria no local em 2018, o Sorocabana não tem problemas estruturais sérios. “A rede municipal de saúde está correndo o risco de entrar em colapso. O Sorocabana pode não ter condições de receber pacientes graves com coronavírus, que precisem de UTIs, mas talvez possa ser o ideal para pessoas com sintomas leves ou até mesmo outras doenças”, avalia. De acordo com ele, um abaixo-assinado em prol do hospital que está circulando nas redes sociais já atingiu cerca de 6.000 assinaturas.

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Por meio de nota, a Prefeitura de São Paulo informou que a área onde se localiza o Hospital Sorocabana pertence ao governo do estado e, por isso, fica inviável fazer mais investimentos do município além dos que já foram feitos. Diz ainda que os equipamentos do antigo hospital permanecem no local desde o encerramento das atividades e fazem parte da massa falida, que segue sob questionamentos na Justiça.

A prefeitura confirmou que são feitas algumas gravações para séries nas áreas desativadas, mas diz que elas não atrapalham o atendimento e são sempre acompanhadas por um responsável. O pagamento não foi feito em dinheiro, e sim em serviços de melhoria, como reparos em telhados e janelas.

Com relação à inclusão do hospital nos planos de combate ao coronavírus, a Prefeitura informou que ampliou a rede de atendimento e já conta com três unidades de hospitais de campanha: o do Pacaembu, com 200 leitos de média e baixa complexidade (sendo oito leitos de UTI); o do Anhembi, que está sendo implementado de forma gradual e terá 1.800 leitos (sendo que 887 já foram entregues, sendo 64 de UTI); e o Hospital Municipal da Bela Vista, unidade com 124 leitos, sendo 29 de UTI; serviço que será referência no atendimento de pessoas em situação de rua após a pandemia.

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Hospital Panamericano

 

Outra unidade que hoje pertence à rede pública estadual de saúde e está abandonado é o antigo Hospital Panamericano, que fica em Alto de Pinheiros, também na zona oeste da capital. A unidade pertencia ao extinto plano de saúde Samcil, que faliu e está em liquidação judicial desde 2011. O governo investiu R$ 37 milhões para desapropriação do imóvel e, em 2014, o então governador Geraldo Alckmin anunciou que no local iria funcionar um hospital vinculado ao Hospital das Clínicas de São Paulo exclusivamente para atendimento de traumas. Inclusive funcionaria na unidade a sede do grupo de resgates e atenção às urgências e emergências (Grau).

À época, a unidade privada possuía ao menos 16 leitos de UTI geral e oito leitos de UTI coronariana, além de cinco salas cirúrgicas. Os 19 membros do Conselho Participativo Municipal da Subprefeitura de Pinheiros também mandaram ofícios para as secretarias de saúde municipal e estadual no final do mês passado pedindo a inclusão desse hospital nos planos de combate ao Covid-19, mas ainda não obtiveram resposta.

“Solicitamos a inclusão do Hospital Panamericano nos planos de contingência da pandemia do coronavírus, pois esse hospital pertence ao Estado mas continua fechado. Ele se adequa às normas hospitalares, existe um projeto de reforma, mas nunca saiu do papel”, afirmou Regis Mendes Gabriel, coordenador do conselho de Pinheiros.

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Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que “a prioridade é garantir segurança e atendimento aos pacientes do SUS, incluindo os com coronavírus, e que o antigo Hospital Panamericano não possui, hoje, estrutura adequada para tal finalidade”. Informou ainda que qualquer implantação de serviço assistencial no local requer projeto de reforma e melhorias das condições físicas. “Como intervenções deste porte demandam meses, não são condizentes com a necessidade de ativação de serviços em caráter emergencial necessários ao contexto da pandemia do novo coronavírus. Assim, a opção pela implantação de hospitais de campanha adequados para assistência e com maior agilidade para execução e ativação.” O governo do Estado está construindo um hospital de campanha no Ibirapuera com 240 leitos de baixa complexidade e 28 leitos de estabilização, além de consultórios médicos e tomografia.

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