Em busca de atingir meta de vacinação contra gripe, cidade amplia acesso
Capital paulista está em alerta de risco para casos de síndrome respiratória aguda grave

Durante o mês de junho, nove estações de metrô e CPTM e doze terminais de ônibus da capital receberam pontos de imunização contra o vírus da influenza. Desde 2020 sem atingir a meta de vacinação — que prevê 90% de adesão entre os grupos prioritários (pessoas com mais de 60 anos, crianças de 6 meses até 6 anos e gestantes) —, a cidade, apesar dos esforços para ampliar o acesso ao imunizante, conseguiu aplicar somente pouco mais de 2,8 milhões de doses, o equivalente a 46,66% da cobertura prevista.
“A população não está com a percepção de perigo perante o vírus da gripe, mas ele pode agravar doenças inflamatórias e cardiovasculares nos grupos de risco. Estudos apontam que em até sete dias da infecção há chance elevada de evento cardiovascular grave, como um infarto agudo do miocárdio ou um acidente vascular cerebral. Sempre ressalto que a vacina é uma proteção cardíaca”, explica Melissa Palmieri, analista da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), órgão da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Nesse cenário, a capital segue no nível de risco (acima do limar alto de incidência) de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Boletim InfoGripe. Segundo os dados do informe, foram notificados 308 novos registros na 24ª semana epidemiológica, entre os dias 8 e 14 de junho. Os números da doença começaram a crescer no outono, quando saíram de 297, na primeira semana de abril, para 457 ocorrências entre os dias 4 e 10 de maio, o ápice da incidência neste ano. Desde o dia 29 de dezembro — início da medição neste ano epidemiológico —, já são 6 506 casos na capital.
“Estamos no início de uma queda de ocorrências e hospitalizações por SRAG em todas as faixas etárias na cidade. Nas crianças pequenas, isso ocorre pela diminuição das infecções por vírus sincicial respiratório (tipo comum e altamente contagioso que costuma afetar pulmões e vias aéreas), e nos demais grupos acompanha a redução das infecções por influenza, que é o principal agente infeccioso da temporada. Mas a incidência continua alta”, afirma Tatiana Portella, do Programa de Computação Científica da Fiocruz e do InfoGripe.

Ainda de acordo com a pesquisadora, a principal causa do decréscimo é a imunidade adquirida pela população já infectada, o que diminui o número de pessoas suscetíveis. “É preferível que a população tenha imunidade induzida, ou seja, por vacina, que protege justamente contra esses casos graves. O que podemos verificar no futuro, caso a cobertura ideal não seja atingida, é uma alta natural das hospitalizações”, alerta Tatiana.
A imunização contra o vírus da gripe, que é altamente mutável, é feita anualmente através do envio de cepas por inúmeros laboratórios no mundo para a Organização Mundial da Saúde (OMS) que, então, define a composição da substância. Na cidade, ela segue disponível para toda a população acima de 6 meses em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e, aos sábados, nas Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs)/UBSs Integradas, no mesmo horário.
Infectologista no hospital Emílio Ribas, Rosana Richtmann aponta ainda os riscos de coinfecção em pacientes nesta época do ano. “É o período ideal para os vírus respiratórios, porque eles sobrevivem mais tempo em temperaturas mais baixas. Outro fator é que nosso sistema imunológico fica mais debilitado no frio. Os cílios das mucosas, por exemplo, perdem a capacidade de filtrar microrganismos, o que favorece a entrada deles”, diz a médica. Por isso, crianças que ainda estão construindo a defesa do corpo tendem a contrair bronquiolite, a inflamação das vias aéreas dos pulmões, em decorrência das infecções virais. “A criança fica extremamente vulnerável, então é preciso que os pais e responsáveis escolham bem os locais de circulação, ventilem os ambientes fechados e vacinem todos no entorno”, orienta Melissa, da Covisa.

Outro grupo sensível são os idosos, que precisam ter ainda mais atenção à alimentação e, em especial, à hidratação, por conta da perda do termostato que ocorre nessa faixa etária. “Pessoas alérgicas também precisam redobrar o cuidado, mantendo estabilidade na temperatura e umidade nos locais fechados, limpando os ambientes de ácaros e fungos e evitando agentes irritantes como fumaça de cigarro, produtos de limpeza e poluição”, indica a analista.
Publicado em VEJA São Paulo de 4 de julho de 2025, edição nº 2951