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Covid-19 descontrolada mata bebês e crianças no Brasil; como protegê-los?

A pediatra Ana Escobar diz que é preciso reforçar cuidados com os pequenos e explica como a doença pandêmica os afeta

Por Artur Alvarez
Atualizado em 27 Maio 2024, 20h21 - Publicado em 19 abr 2021, 10h59
Bebês: lista de nomes preferidos pelos pais brasileiros
 (Marcello Casa/Agência Brasil/Divulgação)
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A pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil vitimando principalmente os mais idosos, mas bebês e crianças pequenas também estão se infectando e morrendo devido à doença.

Segundo dados do DataSUS, desde o início da pandemia até 8 de março de 2021, 779 crianças com até doze anos morreram de Covid-19 no Brasil. Dessas, 622 foram crianças entre 0 a 5 anos e 420, bebês com até um ano. Esse último número representa cerca de dez vezes mais mortes para essa faixa etária do que nos Estados Unidos, que têm maior população e taxa de natalidade.

No período, ao menos 11 628 pacientes de 0 a doze anos precisaram ficar internados e 8 407 deles correspondiam a crianças de 0 a 5 anos. Aproximadamente uma em cada quatro dessas crianças precisou ir para uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Diferentemente dos números acima, segundo o Painel de Excesso de Mortalidade no Brasil, ao menos 899 bebês com menos de 1 ano morreram em 2020 no Brasil vítimas de Covid-19. O dado foi divulgado pela organização de saúde Vital Strategies.

A médica pediatra Ana Escobar, professora na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, diz que os adultos precisam tomar cuidado para não infectar as crianças e que o aumento de casos da doença nessa faixa etária é proporcional à população brasileira.  

De modo geral, o que é importante saber sobre a Covid-19 em bebês?

A gente entende que os bebês podem ser infectados principalmente pelas vias respiratórias, mas também pelo contato direto com as mães, no momento do parto, por exemplo. Por isso é necessário ficar de olho nas mães que têm Covid, para reduzir chances de infecção.

O mais importante é alertar as pessoas a respeito da possibilidade de o vírus do Sars-Cov-2 infectar também bebês para que possam protegê-los melhor. Mas é necessário dizer que o número de casos e mortes aumentou porque houve aumento para todo mundo. Não houve aumento desproporcional em bebês e crianças. 

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Com o descontrole atual da pandemia, todos os cuidados têm que ser aumentados. É preciso reforçar o que funciona, que é a máscara, o isolamento social e a higiene das mãos.

Os bebês têm mais dificuldade ou facilidade de serem infectados pelo coronavírus do que adultos? E crianças?

A informação que temos em relação aos bebês vale também para as crianças. Para o coronavírus entrar nas células e fazer a infecção, ele usa sua proteína spike (semelhantes a “espetos”, que ficam na superfície) em proteínas presentes no organismo humano [a ACE2 ou a NPR1], receptores para o vírus. 

Com isso, teoricamente, crianças e bebês, que supostamente têm uma quantidade menor de receptores em seu corpo para a proteína do vírus, seriam expostos a uma carga viral menor. Tendo uma carga viral menor, a gente entende que a intensidade da infecção seria menor também. Então, muito provavelmente é por isso que as crianças e os bebês acabam desenvolvendo quadros menos intensos de Covid.

O que acontece é que neste momento da pandemia as pessoas estão muito mais acometidas, o que significa que crianças e bebês também estão proporcionalmente mais acometidos. E muito provavelmente esse aumento no número de casos, de internações e de óbitos decorre disso. É importante salientar esse fato porque não há indícios que as novas variantes causem mais infecções especificamente em crianças e bebês. 

Quais as chances de um bebê desenvolver sintomas graves?  Quais as complicações de ter um sistema imunológico em formação ainda?

Nos bebês, a infecção pode ser um pouco pior porque eles ainda não têm seu sistema imunológico maduro, então qualquer infecção em bebê pequeno, não só Covid, é uma situação de risco maior.

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E quais são os perigos de um bebê contrair a Covid-19?

Tudo depende da intensidade da infecção e das defesas do bebê. Então, se o bebê é exposto a uma carga viral muito grande, seu sistema imunológico pode não responder da forma desejada, o que é ruim. Um agravante pode ser quando se trata de um bebê prematuro ou mais frágil.

Quais são os sintomas da Covid em bebês e como os pais conseguem detectar uma suspeita de infecção no filho? E os sintomas de urgência?

Muitas vezes, os bebês têm sintomas meio incaracterísticos para as doenças. Então, sintomas para ficar de olho podem ser quando o bebê está recusando alimentação, choroso, muito mole, respirando um pouquinho rápido ou apresenta cianose labial [em que o lado do lábio fica mais escuro que o normal]. Tudo isso significa que o bebê não está bem, são sinais de que o bebê tem que ser avaliado, portanto, a recomendação é levá-lo o mais rápido possível ao médico. Às vezes o bebe nem tem febre, por isso é sempre bom nesta fase de pandemia ficarmos mais atentos em relação a isso. A urgência pode ser a respiração acelerada do bebê ou até uma dificuldade para respirar. O ritmo respiratório do bebê diz muito também sobre como ele está.

Quais as chances de recuperação de um bebê que contrai a Covid-19?

As chances de recuperação dependerão da intensidade da infecção. Mas a mortalidade de bebês e de crianças é muito baixa. Aproximadamente 0,21% das mortes por Covid no país são de crianças de 0 a doze anos se pegarmos os 779 óbitos registrados pelo DataSUS e dividirmos pelos 360 mil óbitos totais. A mortalidade geral das crianças ainda é baixa.

No que os tratamentos e métodos diferem para os bebês? Tem algo específico?

Não diferem, os tratamentos são basicamente os mesmos. Temos que cuidar das funções vitais dos bebês, o chamado tratamento de suporte à vida. É preciso garantir um aporte de oxigênio adequado para as necessidades de bebê. Aí como esse oxigênio é administrado no bebê depende da necessidade, pode ser um cateter no nariz, oxigênio dentro da incubadora ou até a ventilação mecânica e intubação, se necessário. E depois a gente tem que garantir todos os aportes de água e eletrólitos, o famoso soro, para garantir o funcionamento correto de todos os órgãos do bebê. Não existe nenhum tratamento específico.

Recentemente, vimos em Registro o quadro de um bebê que pegou Covid aos 51 dias de vida, ficou grave e só teve alta após 25 dias de internação. Ainda assim, ele terá que lidar com sequelas. Um bebê que superou a Covid tem mais possibilidade de ter sequelas? 

Ainda não temos esses dados nem estudos científicos para dizer que houve algum tipo de sequela nesses bebês decorrente da Covid, até porque a pandemia é relativamente recente. E, sinceramente, não há sequela mais provável. É necessária a avaliação do quadro geral caso a caso. O zika vírus causa microcefalia no bebê, mas para o coronavírus não existe nenhum determinante dessa natureza.

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Com um ano de pandemia e variantes mais infecciosas, os pais têm que tomar ainda mais cuidados para que seus filhos não se infectem? Quais?

Eu acho que todas as pessoas têm que tomar todos os cuidados e ter muita cautela, independentemente da faixa etária. O vírus é perigoso e já nos mostrou que quando nos descuidamos ele pode produzir variantes, que perpetuam sua sobrevivência e em versões mais virulentas, que se disseminam mais rapidamente. Por isso não há outra saída, as pessoas têm que se proteger com as medidas que comprovadamente são eficazes, são elas distanciamento social, uso de máscara e higiene das mãos. Isso tudo todo mundo tem que fazer em todas as idades.

Com mais casos de crianças e bebês morrendo por Covid, as orientações sanitárias para as crianças seguem a mesma do início da pandemia, que dispensavam o uso de máscara, ou mudaram? Qual a orientação atual?

Eu concordo com a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em que acima de 2 anos todas as crianças devem usar máscaras. Com menos de 2 anos realmente é impossível manter a criança de máscara, mas, acima dessa idade, já há uma maior compreensão e elas já conseguem ficar de máscara. Eu comprovo essa realidade no dia a dia do consultório.

No que as mães devem atentar para proteger seu bebê em idas ao pediatra ou a hospitais?

Consulta médica é uma situação que vale a pena sair de casa, então, tem que fazer isso tomando todos os cuidados, com elevador, uso de máscara, distanciamento, uso de álcool em gel. Eu sempre falo para os pais que quando é uma criança de carrinho, é possível utilizar aqueles protetores de chuva de plástico em volta do carrinho, que já serve como uma proteção. Quando é bebê muito pequeno também é possível colocar um pano sobre seu rosto, por exemplo aquelas fraldas de pano, que também funcionam como máscara. Entende-se que os consultórios dispõem de um ambiente de desinfecção adequado para receber mãe e bebê.

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