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10. Ramos de Azevedo: o arquiteto que remodelou São Paulo

Além do prédio da Secretaria da Fazenda, inaugurado em 1891, ele projetou um segundo, ao lado, para a Secretaria da Agricultura, inaugurado em 1896

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 14 Maio 2024, 09h07 - Publicado em 22 out 2010, 21h49

A obra mais conhecida do arquiteto Ramos de Azevedo fica na Praça Ramos de Azevedo, evoca o nome de Ramos de Azevedo, mas não é do arquiteto Ramos de Azevedo. A obra em questão, o Teatro Municipal, foi projetada pelo italiano Domiziano Rossi, que trabalhava no escritório de Ramos de Azevedo. Nem por isso Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928) deixou de se envolver profundamente no empreendimento, executado por encomenda do prefeito Antônio Prado e inaugurado em 1911. Ele até montou uma tenda no local, para acompanhar pessoalmente os trabalhos, em nome do escritório de engenharia e arquitetura que comandava.

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Ramos de Azevedo nasceu em São Paulo, mas se dizia campineiro. A família era de Campinas e estava apenas de passagem pela capital da província. Depois dos primeiros estudos em Campinas e no Rio de Janeiro, ele seguiu para Ghent, na Bélgica, onde se formou em engenharia, com especialidade em arquitetura. Ao voltar para o Brasil, ei-lo encaixado no lugar certo, na hora certa, com o equipamento certo e as qualidades pessoais certas. O lugar era o eixo Campinas-São Paulo, a hora a da explosão de prosperidade trazida pelo café, o equipamento um diploma de engenheiro-arquiteto expedido na Europa, e as qualidades pessoais o talento para o exercício da profissão somado à facilidade com que transitava nos círculos do poder.

Suas primeiras obras foram em Campinas. Em 1886 ele se transfere para São Paulo e, comissionado pelo governo do estado, enceta uma obra na cidade: um edifício no Pátio do Colégio, destinado à Secretaria da Fazenda. Era o primeiro de um rosário de edifícios públicos e residências privadas que sairiam inicialmente de sua própria prancheta, depois da dos colaboradores. Das residências particulares, majestosos palacetes que construiu para famílias da elite cafeeira, não sobrou quase nada. Quanto aos edifícios públicos, São Paulo lhe fez uma exceção, em sua ânsia derrubadora, e lhe poupou grande parte da obra. Dá para fazer um tour pela cidade, acompanhando-a.

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O início seria no próprio Pátio do Colégio. Além do prédio da Secretaria da Fazenda, inaugurado em 1891, ele projetou um segundo, ao lado, para a Secretaria da Agricultura, inaugurado em 1896. São dois edifícios gêmeos, que hoje acolhem a Secretaria da Justiça. A parada seguinte seria na Praça da República, onde se encontra o prédio feito para a Escola Normal, depois Instituto de Educação Caetano de Campos, inaugurado em 1894, e que hoje abriga a Secretaria da Educação. Ponto alto do tour seria a Avenida Tiradentes. Logo em seu início, incrustado no Parque da Luz, temos o edifício projetado para sediar o Liceu de Artes e Ofícios, hoje sede da Pinacoteca do Estado, inaugurado em 1900. Um pouco adiante na mesma calçada, ergue-se a Escola Estadual Prudente de Moraes, de 1895. Anda-se um quarteirão e, virados para a Praça Fernando Prestes, temos os dois prédios construídos para abrigar a Escola Politécnica, inaugurados em 1898. Um é hoje sede do Arquivo Municipal. O outro acolhe a Faculdade de Tecnologia Paula Souza. Enfim, do outro lado da avenida, temos o quartel do Batalhão Tobias de Aguiar, inspirado nos fortins medievais, inaugurado em 1892.

Todas essas obras obedecem a desenhos do próprio Ramos de Azevedo. A partir daí, ele já se tornara chefe de um empreendimento grande demais para poder cuidar, pessoalmente, dos projetos arquitetônicos. Caso o tour se estique para projetos do escritório, as opções são muitas — o prédio destinado aos depósitos da Estrada de Ferro Sorocabana (1914), depois ocupado pelo Dops, hoje Estação Pinacoteca; a sede dos Correios (1922), na Praça do Correio, prometida para virar centro cultural; o Palácio das Indústrias (1922), que já serviu a várias finalidades, inclusive como sede da prefeitura, antes de abrigar o Museu Catavento; o Mercado Municipal e o Palácio da Justiça, ambos terminados nos anos 1930, depois da morte de Ramos de Azevedo; e, evidentemente, a joia da coroa, o Teatro Municipal. Ramos de Azevedo salpicou São Paulo de edifícios que, em geral enquadrados na escola arquitetônica dita “eclética”, então em voga na Europa, tinham o propósito de conferir ares europeus a uma São Paulo subitamente enriquecida.

 

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