Testamos a monitoria de sete mostras em cartaz na cidade
Na maioria dos museus os guias estavam bem treinados, mas também encontramos equipes despreparadas e ausência de atendentes e de material explicativo
A experiência de percorrer uma exposição não depende apenas das obras. As equipes educativas dos museus podem (e devem) oferecer informações que contribuem para o entendimento da mostra. Por essa razão, circulamos por oito montagens para testar a orientação dada ao público.
Na maioria das instituições os atendentes estavam bem treinados, com destaque para o Museu de Arte Moderna (MAM) e o Itaú Cultural. Neste segundo endereço, além do acompanhamento dos guias, há a opção de realizar um tour em vídeo com um iPod. As imagens contêm explicações sobre todas as salas em português, em inglês ou em libras.
Já na Oca, que abriga Transit_SP, encontramos um time despreparado. Em nossa primeira visita, uma semana após a abertura, não havia guias para comentar as obras. Eles foram contratados há apenas duas semanas e, mesmo assim, não receberam treinamento. Outros espaços, como a Pinacoteca, não disponibilizam monitoria para exposições temporárias. Confira abaixo a avaliação completa:
- Transit_SP: Apesar de trazer importantes obras africanas contemporâneas ao Brasil, não preparou uma equipe para atender o público logo após sua abertura, na Oca. Uma semana depois da inauguração, alguns monitores da exposição O Imaginário do Rei – Visões sobre o Universo de Luiz Gonzaga, no mesmo local, circulavam pelo andar da coletiva africana, mas pouco sabiam sobre as obras. Segundo uma educadora que preferiu não se identificar, a organização contratou atendentes há apenas duas semanas e não houve treinamento prévio. “Tudo o que digo aos visitantes é de repertório próprio”, disse. Nas duas visitas realizadas por VEJASÃOPAULO.COM, não havia material de divulgação nem monitoria. A assessoria de imprensa da exposição informou, no entanto, que a organização disponibilizou folders nos últimos dias e que os guias foram treinados pelo curador Daniel Rangel.
- O Imaginário do Rei – Visões sobre o Universo de Luiz Gonzaga: Instalada no primeiro piso da Oca, não trata propriamente da vida de Gonzagão. É um apanhado de obras de diversos artistas sobre o sanfoneiro. O educativo está bem preparado para percorrer o salão composto por criações de 63 convidados. Além do acompanhamento, um folder é recheado de imagens e traz um texto introdutório do curador Bené Fonteles. Os guias recebem os visitantes espontâneos, mas a equipe também agenda visita monitorada pelo telefone (11) 5081-0859, para grupos com mais de dez pessoas. Conheça as principais obras escolhidas por Fonteles aqui.
- Lucy Citti Ferreira: As obras de Lucy Citti Ferreira (1911-2008), que foi aluna do Lasar Segall, encantam os visitantes em uma sala da Pinacoteca do Estado, mas há poucas informações sobre as telas e desenhos. Os quadros são acompanhados apenas por uma legenda, com título e ano. Não existem flyers com informações sobre a artista ou educadores. O espaço também não trabalha com visitas monitoradas, nem por agendamento, em exposições temporárias. Segundo a Pinacoteca, como elas estabelecem relações com o acervo do museu, são trabalhadas dentro das visitas educativas realizadas na mostra Arte no Brasil: uma história na Pinacoteca de São Paulo. A obra de Lucy Citti Ferreira, por exemplo, é citada quando o monitor fala sobre a obra de Segall. Por isso, apenas algumas mostras temporárias recebem atendimento específico na instituição.
- Lucian Freud – Corpos e Rostos: O Masp não disponibiliza acompanhamento a visitantes espontâneos na individual de Lucian Freud (1922- 2011). Para ter monitoria, é preciso montar grupos com mais de quinze integrantes e fazer o agendamento pelo telefone do próprio museu. Apesar da restrição, o excelente material de apoio oferece informações suficientes para que o frequentador não deixe a mostra com dúvidas. A instituição também preparou encarte e instruções sobre as principais obras em adesivos nas paredes. Logo na primeira sala, o frequentador fica sabendo que a tela Jovem com Rosas (1947/48) é um retrato de Kitty Garman, primeira esposa do artista. No texto, a curadoria explica que a rosa representa simbolicamente a gravidez da moça. A vida pessoal de Freud aparece na última seção, com fotos dele trabalhando, como no retrato da Rainha Elizabeth, em 2001. Por fim, um vídeo de 29 minutos traz depoimentos do artista.
- Maria Martins – Metamorfoses: A equipe do MAM se mostrou bem preparada. O acompanhamento da mostra é importante para explicar a sujetividade do trabalho de Maria Martins (1894-1973), inspirado no existencialismo, no homem e na natureza. Em Yemanjá e Iracy, a artista usou elementos da mitologia da Amazônia. Os educadores explicam a origem desses símbolos, tanto para visitantes espontâneos, como para grupos agendados – o que pode ser feito pelo telefone do próprio museu. Além do atendimento, logo na entrada, recebe-se um folder com uma pequena introdução sobre a exposição.
- Mestres do Renascimento: A mostra já atraiu mais de 200 000 pessoas com 57 obras de um dos movimentos artísticos mais influentes da história. E o CCBB investiu em atividades educativas. Além das visitas guiadas (que podem ser agendadas por telefone), monitores circulam pelos quatro andares do prédio para tirar dúvidas individuais. De manhã, entretanto, eles costumam ficar ocupados com os grupos agendados. No dia de nossa visita, havia educadores em apenas dois andares. Apesar disso, eles foram capazes de explicar a ideia da exposição e falar sobre os principais nomes do período, como Michelangelo, Ticiano, Tintoretto e Botticelli. Uma boa surpresa: como costuma concentrar longas filas, o espaço preparou uma série de intervenções do lado de fora. Em uma das performances, funcionários encenam um baile usando roupas do século XVI. Conheça as dicas de um dos curadores da coletiva.
- Waldemar Cordeiro: O Itaú Cultural apresenta um ótimo educativo em vários aspectos. Para o visitante espontâneo, é só pedir orientação na entrada que um monitor irá acompanhá-lo pela individual do italiano radicado no Brasil. Bem preparados, eles são funcionários do próprio espaço e iniciam os estudos de cada mostra exibida com meses de antecedência. Caso todos estejam ocupados, uma solução são os iPods com vídeos que explicam cada etapa da mostra. Em um iPad, há a mesma descrição em libras. O espaço ainda oferece ônibus gratuito a escolas públicas que levarem os alunos, além de atividades e oficinas. Para grupos maiores, há agendamento.