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Refugiados ministram cursos de idiomas e cultura

O projeto em São Paulo conta com uma equipe de quinze professores que ensinam inglês, espanhol e árabe

Por Gabriela Boccaccio
Atualizado em 1 jun 2017, 16h44 - Publicado em 17 jul 2015, 19h37
Abraço Cultural
Abraço Cultural (Acervo BibliASPA/ Salim Mhanna/)
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No pátio da BibliASPA, no bairro de Santa Cecília, é possível ouvir um leve burburinho. Da janela de uma das salas de aula ecoa o som de uma música árabe. Em outra, um depoimento sobre a importância do pão. No fundo, ingredientes como tomates e cebola são cortados e dispostos em uma mesa com velas. Muitos que passam por perto não conseguem imaginar que isso na verdade é uma aula. O projeto Abraço Cultural nasceu em março deste ano e oferece cursos de línguas ministrados por refugiados políticos. O valor do curso é de 400 reais.

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Idealizada pelo Atados, plataforma social de voluntariado, a ideia surgiu no ano passado durante a Copa dos Refugiados, quando foi constatado que muitos dos participantes falavam mais de três idiomas. O Instituto de Reintegração do Refugiado no Brasil estabeleceu uma parceria e ajudou na seleção e indicação dos professores. Cada refugiado ganha 40 reais por hora de aula dada. 

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Blandiny Ferrari, uma das coordenadoras pedagógicas do Abraço Cultural, conta que os professores abraçaram imediatamente o projeto. “Eles passaram por situações muito difíceis. Sentimos que podemos trazê-los a uma vida mais normal”. 

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Para Guylian Bedoya, que ensina francês, as aulas são uma maneira de lembrar de sua cultura. “Falamos sobre música congolesa na semana passada, senti muita falta de meu país”, afirma o antigo professor de finanças públicas e direito fiscal que fala oito línguas. 

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O projeto inicial, concebido em março, foi um curso de férias com um mês de duração. A ótima recepção por parte dos alunos animou a equipe de voluntários, que prevê novas turmas para agosto. As aulas são ministradas na BibliASPA, Escola da Cidade e na SP Escola de Teatro. 

As modalidades oferecidas são: inglês com foco em cultura árabe ou africana, francês com foco em cultura africana, espanhol com cultura latina e árabe. As atividades acontecem três vezes por semana e têm duas horas e meia de duração. As turmas possuem dez alunos em média, o que facilita a troca de experiências com os dois professores de cada disciplina. 

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Fernanda Martins, estudante de direito, encontrou no curso de língua árabe uma oportunidade de crescer profissionalmente. “Quero estudar direito internacional”, afirma. Francis Michelli Teixeira, aluna de inglês intermediário com foco em cultura africana, pretende aprofundar não somente seu conhecimento na língua, mas também adquirir um conhecimento cultural com as histórias de seus professores. 

Jovens estudantes e trabalhadores experientes ocupam as carteiras da sala de aula. O ensino da língua acompanha trocas culturais. Já os professores aprendem português e cultura brasileira.

Na aula de inglês intermediário com foco em cultura africana, os professores Wessam Alkourdi, da Síria, e Alphonse Nyembo, do Congo, trazem elementos de seus países de origem. Os estudantes mostram diferentes tipos de samba e ensinam alguns passos de dança. Logo, o dabke, típica dança árabe, contagia os alunos que formam um círculo e ensaiam alguns movimentos.

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Enquanto isso, na aula de árabe, os professores sírios Talal Altinawi e Ahmad Serieh preparam faláfel e tabule para falar sobre culinária. Os estudantes apontam para os ingredientes e repetem cuidadosamente os nomes. A cada prato servido, o agradecimento “shukran”. Os participantes se aglomeram no pátio da BibliASPA e logo recebem a companhia da turma de inglês com foco em cultura árabe. Os professores carregam um tambor e formam uma roda para que todos possam dançar. A aula termina em uma grande confraternização.

Talal é engenheiro mecânico e saiu da Síria um ano e meio atrás para fugir da guerra que assola seu país. Chegou a exercer sua profissão no Brasil, mas hoje em dia mantém um pequeno negócio de comida síria. Sua filha Yara, de 10 anos, ainda carrega um leve sotaque de seu país de origem, uma das poucas coisas que lhe resta da lá. “Eu não sinto saudade da Síria porque não tem mais Síria”, conta.

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