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OLÁ,

Moradores dos Jardins reclamam do barulho de estabelecimentos

Música alta, conversas e buzinas de carro azedam a relação entre moradores e empreendimentos da região

Por Ricky Hiraoka
Atualizado em 5 dez 2016, 15h44 - Publicado em 9 ago 2013, 17h44
barulho jardins (1)
barulho jardins (1) (Rodrigo Zorzi/)
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Em novembro do ano passado, a bibliotecária Carmen Botelho começou a usar protetores auriculares na hora de dormir. Segundo ela, o acessório foi incorporado ao look noturno para amenizar o volume da música ambiente do vizinho de seu prédio na Rua Padre João Manuel: o Bistrot Bagatelle, moderninho e badalado restaurante inaugurado há nove meses.

Perto da meia-noite, as luzes do salão do estabelecimento diminuem e um DJ transforma o lugar em uma balada. “Quero vender meu apartamento e ir para um pedaço mais tranquilo”, desabafa Carmen. Sua filha, a dentista Maria Raquel Botelho, também sofre na hora de tentar pregar os olhos. Toda noite, ela leva o colchão do quarto para a sala do apartamento em busca de sossego.

Outros moradores do edifício engrossam o coro de queixas. No fim de julho, munido de cartazes e panelas, um grupo deles postou-se na porta do Bagatelle pedindo silêncio. De acordo com um dos participantes, o empresário Rodrigo Mendes, pouca coisa mudou. “O pior barulho é o que os funcionários fazem lá pelas 4 da manhã, quando jogam o lixo na rua. Acordo com o som de garrafas quebrando-se”, conta.

A astróloga Vera Costa diz que vive hoje em estado permanente de inferno astral. “Certa vez, em um ato de desespero, joguei ovos em quem estava na calçada falando alto”, confessa.

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Problemas parecidos ocorrem atualmente em vários outros pontos dos Jardins. Entre os anos 80 e o início dos 90, o bairro foi um dos epicentros da ferve-ção paulistana, com várias boates localizadas ali, como o Gallery, reduto de festas e shows memoráveis na Rua Haddock Lobo.

Aos poucos, as casas noturnas migraram para o Itaim Bibi e para a Vila Olímpia. Nos últimos anos, porém, o agito voltou à cena com a inauguração de filiais de restaurantes estrangeiros e bares frequentados por uma turma jovem. Como efeito colateral do revival, os problemas de convivência entre baladeiros e moradores reapareceram.

Por mês, o Psiu, órgão municipal responsável pela fiscalização da poluição sonora, registra 281 ocorrências na área, taxa que está entre as maiores da capital. Um dos incomodados é o procurador de Justiça Nelson Lacerda, que mora em um edifício na Rua da Consolação. Nas redondezas funciona o Número. Depois de ver a esposa adotar calmantes para dormir, Lacerda perdeu de vez a paciência. Reuniu outros moradores do seu prédio e dos endereços próximos e fez um abaixo-assinado contra o bar.

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O documento foi entregue à Promotoria do Meio Ambiente, que deve emitir um parecer sobre o caso nesta semana. “O local tem uma pista de dança no subsolo que toca música eletrônica altíssima de terça a sábado”, acusa Lacerda. Marcos Campos, responsável pelo negócio, minimiza os problemas.

“Não somos uma balada. Temos um lounge que é fechado para pequenas comemorações”, explica. “Descobri que incomodávamos há pouco mais de um mês, quando me procuraram para tratar do assunto.” A casa passará em breve por uma reforma para reforçar o isolamento acústico. “Quando iniciarmos as obras, tudo estará resolvido em noventa dias”, promete.

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O Boteco D4 e o restaurante Mori Sushi também figuram entre os campeões de reclamações. Grande parte das queixas gira em torno da combinação formada por música alta, freguesia escandalosa e carros parados em lugares indevidos, atazanando o já bastante complicado trânsito do bairro. “A região dos Jardins é uma zona mista, temos alvará para funcionar de madrugada e respeitamos os limites do som. Querer silêncio absoluto aqui é como exigir sossego na Times Square”, critica Juliana Lustosa, sócia do D4, inaugurado em agosto de 2012.

Essa postura beligerante, no entanto, é uma exceção entre os empresários. A maioria está tomando medidas para tentar melhorar a convivência com os vizinhos. Recentemente, a direção do Mori Sushi solicitou ao estacionamento contratado que aumentasse o número de manobristas responsáveis por atender seus clientes a fim de evitar o congestionamento de veículos na porta, o que desencadeava as inevitáveis buzinadas ao longo da noite.

O Bagatelle trocou a empresa de valet, além de ter instalado vidros mais grossos em portas e janelas e reforçado a manta acústica que cobre o teto. As obras custaram 200 000 reais, mas ainda não foram suficientes para apaziguar totalmente a vizinhança.

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Zona de conflitos

As reclamações dos moradores e as medidas tomadas para apaziguar a vizinhança

Problemas: música no volume acima do permitido madrugada adentro, clientela que fala e ri muito alto quando sai para utilizar o fumódromo durante a noite, fregueses que estacionam o carro na frente da garagem dos edifícios, o que congestiona as ruas e provoca barulho de buzinas, e sujeira nas calçadas.

Ações dos moradores: abaixo-assinado contra os bares e restaurantes, denúncia de perturbação do sossego no Psiu e organização de protestos na frente dos locais causadores de problemas.

Medidas dos estabelecimentos: reforma para aumentar o isolamento acústico do teto, instalação de vidros mais grossos em portas e janelas, orientação para os frequentadores controlarem o volume da voz quando forem usar o fumódromo, contratação de valet que consiga atender a um grande número de veículos.

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