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OLÁ,

MC Daleste: da ostentação à tragédia

Astro emergente do funk da capital é assassinado no palco durante um show

Por João Batista Jr. e Juliana Deodoro
Atualizado em 5 dez 2016, 15h49 - Publicado em 12 jul 2013, 20h01

Nascido na favela Jau, na Penha, Daniel Pellegrine cresceu em uma casa de três cômodos e sem banheiro. Dividia o espaço com os pais e os irmãos. Nos últimos tempos, virou para muitos garotos do bairro um símbolo de ascensão social, graças a uma bem-sucedida carreira de funkeiro.

Com o nome artístico de MC Daleste (homenagem à sua região de origem), começou gravando com celular e máquinas fotográficas suas composições, vistas e compartilhadas entre os adolescentes da periferia na internet. As principais eram do estilo “funk ostentação”, com exaltação de grifes, carrões e mulheres. Em um trecho da letra de Quem é?, diz: “Eu vim pro baile só pra ver ela rebolando até o chão. / Usa Dolce & Gabbana. / Ela tem grana pra gastar”.

Nos últimos dois anos, fazia cinco espetáculos em um sábado em casas de shows da periferia da capital e no interior. Cobrava um cachê entre 5 000 e 8 000 reais. Com isso, faturava até 200 000 reais por mês.

Essa trajetória foi interrompida tragicamente às 22h40 do último sábado (6), quando uma bala disparada da plateia atravessou o abdômen de MC Daleste, provocando sua morte menos de duas horas depois. Aos 20 anos, o funkeiro havia acabado de começar um show no bairro de San Martin, na periferia de Campinas.

O impacto do projétil derrubou na hora o artista, e a cena chocante, registrada pelos celulares de fãs que estavam gravando a apresentação, repercutiu muito nas redes sociais na semana passada. Daleste saiu do palco perdendo muito sangue. Mesmo assim, no caminho para o hospital, estava consciente e, ao chegar lá, pediu ao amigo Renato Coelho que o fotografasse na maca. “Depois vamos rir disso tudo”, disse. Coelho não topou. Pouco tempo depois, colegas anunciavam sua morte pelo Facebook.

Daleste tinha uma equipe de sete funcionários, entre eles seu irmão Rodrigo. Após uma noitada de cinco shows, voltavam para casa com 30 000 reais em dinheiro vivo. “Tinha vezes em que eu atingia 250 quilômetros por hora no carro para dar conta da agenda corrida”, lembra Marcelo Souza, cunhado que exercia a função de motorista.

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Daleste era o caçula de uma família com outros três irmãos. Na favela onde moravam, ele sofreu muito ao ver a mãe imóvel na cama por dez anos devido a complicações de um derrame. Deusimar, que morreu em 2009, apoiava os planos do filho para sair da pobreza: virar funkeiro. Aos poucos, Daleste deixou as produções amadoras de lado, investindo cerca de 70 000 reais na gravação de clipes com helicóptero e cenas em banheiras ao lado de garotas voluptuosas (as chamadas “marias-pancadão”).

O garoto que na infância não tinha dinheiro para comprar Big Mac, seu sanduíche preferido, ficou com cacife suficiente para bancar alguns luxos. Comprou carrões (um Porsche Cayenne e um Dodge Journey) e adquiriu na planta um apartamento de três dormitórios no Tatuapé, para onde pretendia se mudar. Na última Páscoa, gastou cerca de 10 000 reais em ovos de chocolate para distribuir na vizinhança. Gostava de camisas da Lacoste, anéis grandes, correntes e óculos dourados.

Ele ia com frequência a Campinas, onde as letras de “proibidão” (funks que enaltecem facções criminosas e atacam policiais) eram as mais pedidas. Somente na noite fatídica o MC faria mais três apresentações na região. “Ele era muito querido na área”, conta o produtor Rogério Rodrigues, responsável pela contratação de artistas para o San Martin.

Até o fim da tarde da última quinta (11), a polícia ainda tateava em busca de pistas para chegar ao assassino. Uma das hipóteses levantadas pelo delegado Rui Pegolo, da Divisão de Homicídios da Delegacia de Investigações Criminais de Campinas, seria um desacerto por causa do pagamento antes do show, o que é negado por Rodrigues. “Entreguei os 5 000 antes da apresentação. Ele foi contratado para cantar por trinta minutos”, garante o produtor. O CDHU San Martin tem 2 400 apartamentos e cerca de 13 000 moradores.

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O bairro seria um dos principais redutos do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Campinas. Outra possibilidade levantada pela polícia é a de crime passional, já que Daleste andava sendo muito assediado pelas fãs.

Marcada pelo Facebook, uma manifestação ocorrida na última terça (9), em frente ao Shopping Center Penha, reuniu cerca de 500 pessoas, entre parentes, fãs e amigos. Boa parte dos presentes usava uma camisa com o rosto de Daleste. Havia muitas adolescentes, vindas de lugares distantes como Diadema e Jaçanã, que cantavam suas músicas em voz alta. Algumas tinham canções do funkeiro no ringtone do celular e choravam.

DA FAVELA AOS PALCOS

A origem, o estilo e a carreira do artistada Zona Leste

Nome: Daniel Pellegrine, conhecido como MC Daleste

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Estado civil: era noivo de Erika Teixeira

Natural de: favela Jau, na Penha

Família: filho de um marceneiro e de uma dona de casa que morreu pelos desdobramentos de um derrame. Tinha três irmãos

Meios de transporte: Porsche Cayenne, Dodge Journey e Fiat Dobló

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Estilo: há cinco anos, entrou no funk cantando “proibidão”, com letras de apologia do crime. Depois, migrou para o “funk ostentação”.

Bordão: “Minha vida mudou da água para o champanhe”

Faturamento: de 120 000 a 200 000 reais por mês. Chegava a fazer doze shows entre sábado e domingo

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