“Espaço Além” é o novo filme de Marina Abramovic gravado no Brasil
A artista sérvia passou por seis estados em busca de diferentes experiências espirituais
Marina Abramovic passou como um furacão por São Paulo, no ano passado. Com a marcante exposição Terra Comunal, a artista sérvia não só atraiu multidões para o Sesc Pompeia como levou paulistanos dos quatro cantos da cidade a fazer uma verdadeira imersão no seu método performático, durante os dois meses em que a mostra ficou em cartaz. Um ano depois, esta que é uma das maiores artistas do mundo volta a apresentar mais um trabalho de relação profunda com o Brasil, agora em forma de filme. Espaço Além – Marina Abramovic e o Brasil estreia hoje nos cinemas, e afirma que a relação da artista com o país vai muito além do que se imagina.
No documentário, dirigido por Marcos del Fiol, Marina e a equipe passam por Goiás, Distrino Federal, Bahia, Minas Gerais, Paraná e São Paulo na procura por diferentes experiências espirituais. Desde o começo de sua carreira, nos anos 1970, a artista performática vem trabalhando com a dor física: chibatadas nas próprias costas, batidas intermitentes do seu corpo contra uma parede ou longos minutos com o dedo numa chama são algumas das várias ações emblemáticas e doloridas que ela já vez. “O que não consigo suportar é a dor sentimental” conta ela, nos primeiros minutos do longa. E assim, ela visita João de Deus, toma ayahuasca e participa de rituais de candomblé, para tentar entender de que maneira diferentes grupos e crenças enfrentam a dor.
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“Meu maior problema foi namorar dois artistas”, conta Marina em entrevista coletiva na terça (10), no Shopping Iguatemi. “Namoro entre artistas sempre acaba em muita concorrência e incompreensão”, explica. Depois da longa e sofrida relação com Ulai – que participou de muitas de suas brilhantes performances -, teve o coração partido pela segunda vez, pelo namorado que a deixou por outra mulher. “Eu chorava em todos os lugares: no supermercado, comprando leite, no taxi, no avião”. Foi só depois de quatro anos, durante a viagem no Brasil, que pôde por um fim no período de sofrimento: “Vou completar 70 anos em novembro e nunca estive tão feliz”, conta.
No filme, os limites entre a performance, a arte e a transcendência se confudem. Os rituais documentados de perto (aliás, uma ótima chance para ver cenas de cultos sobre o qual só se ouve falar), são experiências energéticas e espirituais parecidas com o que a artista vem buscando durante sua carreira. Afinal, o trabalho de Marina com o equilíbrio da mente e do corpo é quase transcendental (não tente reproduzir o que ela faz na sala da sua casa).
“Eu amo o Brasil, é um lugar especial e surpreendente”, conta a artista. Em sua primeira visita ao país, em 1989, conheceu Serra Pelada, no Pará. Ela passou a se intressar pelo local depois de ver a série de fotos clicadas por Sebastião Salgado. Pesquisou diversos cristais e as influências da carga enérgica destas pedras no corpo e na mente. Em 2012, dois anos após a megaexposição do MoMA, intitulada A Artista Está Presente, decidiu realizar a viagem que resultaria em mais um filme. Diferente do primeiro longa, em que o foco principal são as dificuldades em fazer uma performance, Espaço Além retrata suas inspirações e anseios.
É nos últimos sete minutos do filme – durante as cenas gravadas no ano passado, na mostra Terra Comunal, do Sesc – que ele revela seu grande objetivo (não se preocupe, isso não é spoiler): mostrar que qualquer um pode fazer uma performance. O Método Abramovic, conjunto de exercícios propostos pela artista para que o público interagisse com cristais energéticos, trouxe momentos de silêncio, energia e concentração para a barulhenta São Paulo. Qualquer interessado podia, naquelas cirscunstâncias, realizar uma performance. “Foi aí que passei a entender que ‘A artista está presente’ não funciona mais”, conta Marina. “Mais cedo ou tarde vou morrer e meu legado vai ficar”.