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Janaína Paschoal, a advogada possuída pelo impeachment

Devota de São Jorge e com cartela de clientes que inclui Chiquinho Scarpa, ela se surpreende com a fama e convive com uma família de petistas

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 16h14 - Publicado em 9 abr 2016, 00h00
Janaína Paschoal
Janaína Paschoal (Rodrigo Dionísio/)
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Janaína Paschoal, de 41 anos, despacha em um escritório de 78 metros quadrados nos Jardins. É sócia do negócio ao lado de duas irmãs. No espaço, dividido em três salas e de decoração simples em tons de cinza, branco e marrom, trabalha principalmente em casos tributários e crimes econômicos. Seu cliente mais famoso é o playboy Chiquinho Scarpa. Nesse ambiente, a advogada não gesticula, mantém o tom de voz inalterado e pouco muda as expressões do rosto.

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É difícil imaginar que se trata da mesma mulher que na última segunda (4) incendiou o auditório da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, no centro, onde se formou e da qual integra o corpo docente. Na ocasião, durante um ato pró-impeachment de Dilma Rousseff, ela discursou de forma inflamada, girando a bandeira do Brasil e disparando frases como “Vamos acabar com a República da Cobra!”.

Janaína 1
Janaína 1 ()

Sua palestra se tornou um dos assuntos mais comentados do Twitter na semana passada, e o vídeo viralizou no YouTube, com mais de 500 000 visualizações. Em um dos famosos memes que surgiram, sua atuação foi sincronizada com a música The Number of the Beast, da banda Iron Maiden. Parecia mesmo uma cantora de heavy metal agitando os fãs. “Acompanhei de longe a repercussão. Preferia que estivessem comentando as questões políticas”, diz. Na área musical, aliás, ela curte coisas bem mais tranquilas que o rock pauleira. “Prefiro Pink Floyd e Dire Straits.”

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O assumido tom exasperado foi, entre outras coisas, uma resposta à “disseminação do pensamento marxista nos corredores da faculdade”, em suas próprias palavras. “Muitos dos meus colegas de trabalho são petistas e tenho sofrido muita pressão, foi um momento de extravasar”, explica. “Podem criticar a forma, mas não o conteúdo.” Se não angariou lá grande popularidade entre os seus colegas, a apresentação de Janaína pelo menos rendeu elogios de alguns estudantes. “Chamá-la de louca é reduzir a sua coragem”, opina a diretora do Centro Acadêmico XI de Agosto da USP, Beatriz Gonzaga.

Janaína 3
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O recente discurso faz parte de uma escalada do ativismo político da advogada. Ao lado de juristas como Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr., ela é coautora do pedido de impeachment, protocolado na Câmara em outubro do ano passado. “Nossa fundamentação é ampla, questiona pedaladas fiscais e desvios do petrolão”, explica. “Acredito que todos deveriam cair, de Dilma a Lula.”

A participação na ação rendeu convites para programas de TV e rádio. Nessas ocasiões, com câmeras e gravadores ligados, sua postura, geralmente tranquila, se transfigura, o que acaba atraindo tanto admiradores quanto detratores. Esses últimos chegam a acusá-la de discursar bêbada ou sob o efeito de drogas. “Também já disseram que eu estava com a Pombagira’”, lembra. “Como não tenho página no Facebook nem no Twitter, fico por fora.”

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Janaína 2
Janaína 2 ()

Ela é a mais velha de quatro irmãos de uma família de classe média do Tatuapé, na Zona Leste. O pai é psicólogo aposentado, e a mãe, dona de casa, ambos espíritas. “Admiro o kardecismo, sou devota de vários santos, como São Jorge, só não acredito em duendes”, brinca Janaína. Aos 13 anos, ela arranjou um emprego de recepcionista em uma escola de inglês para estudar de graça no local. Aos 17, passou no vestibular da USP. Ironicamente, seu primeiro estágio na área foi no escritório do criminalista Roberto Podval, advogado do ex-ministro José Dirceu.

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Casada com um amigo de infância, com quem namora desde os 15, mora nos Jardins e tem dois filhos. Apesar de ter recebido ameaças por e-mail por causa de suas posições, mantém uma rotina pacata, que inclui aula de pilates. A vaidade poderia ser maior, mas ela sofre de alergias. “Não passo esmalte há quinze anos.” A primeira lembrança política remonta a 1985, quando morreu Tancredo Neves. “Eu chorava copiosamente diante da TV”, recorda.

 

Apesar do assédio crescente, Janaína não teve interesse em filiar-se a um partido. O próprio neto de Tancredo, Aécio Neves, tentou levá-la para o PSDB. Ela declinou da proposta tucana, como também fez com as do PV e do Partido Novo. E garante estar habituada a conviver com as diferenças de pensamento. “A família in-tei-ri-nha do meu marido é petista e levo numa boa.”

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https://youtube.com/watch?v=Ky6_Lg4qZMU

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