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Hulda Bittencourt e os trinta anos da companhia de dança Cisne Negro

Nascida em Santa Cruz do Rio Pardo, no interior do estado, mas criada na capital, Hulda sonhava ser bailarina desde criança

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h25 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Ainda permanece vivo na memória da bailarina Hulda Bittencourt o dia em que sua escola foi tomada por rapazes altos e fortes, com uniformes da faculdade de educação física. Era 1977, e os alunos da Universidade de São Paulo procuraram a dança como atividade extra. “Eu me vi diante de pernas peludas e com uma musculatura totalmente diferente da que tinham as garotas com quem trabalhava”, lembra. Depois do inusitado encontro, Hulda sentiu-se inspirada a criar a Cisne Negro Cia. de Dança, cuja trajetória é contada no livro Cisne Negro – 30 Anos de Dança (Editora Retrato, 144 páginas, 98 reais), escrito pela pesquisadora Cássia Navas. “Jurava que não daria conta de ensinar rapazes, mas percebi que podia unir o vigor dos esportistas à técnica das bailarinas clássicas.”

Nascida em Santa Cruz do Rio Pardo, no interior do estado, mas criada na capital, Hulda sonhava ser bailarina desde criança, quando sua mãe costumava levá-la aos espetáculos em cartaz. Nos anos 50, começou a freqüentar as aulas da bailarina russa Maria Olenewa. Na época, Hulda trabalhava em um banco e fazia figuração em coreografias da TV Tupi. “Era pobre, precisava de dinheiro, mas as aparições na TV irritavam o Edmundo”, diz ela, com um sorriso largo. O empresário Edmundo Bittencourt, com quem se casaria em 1960, fez com que ela desistisse da TV e, por mais de quatro décadas, foi seu grande incentivador no balé. “Ele compreendia minha paixão, tanto que investiu seu patrimônio para montar a escola”, lembra ela, viúva há três anos.

As duas filhas do casal, Giselle e Dany, não se desviaram do caminho. Giselle, tal como o pai, responde pela administração da escola. Dany herdou a vocação materna de bailarina e coreó-grafa. “Eu tinha 13 anos e um dançarino abandonou a turnê”, conta Dany. “Ficou aquele buraco no palco e, como eu sabia todos os passos, nunca mais saí de cena.” Foi ela a primeira protagonista do balé natalino O Quebra-Nozes, recriado há 24 anos, cuja nova montagem pelo Cisne Negro estréia na quinta (13). Modesta, Hulda, aos 73 anos, afirma que pouco fez para transformar seu Quebra-Nozes em uma duradoura tradição paulistana. “O público é que, como eu, acredita nos sonhos”, afirma. “Nunca fui uma grande bailarina, mas sempre tive alma de artista e conquistei o que quis.”

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