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Equipes de games da capital investem em centros de treinamento

"Atletas" de <em>League of Legends</em> recebem salário de até 10 000 reais e colecionam fãs

Por Raphael Martins
Atualizado em 5 dez 2016, 14h14 - Publicado em 1 ago 2014, 23h00
Quadro
Quadro (Arte VEJA SÃO PAULO/)
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Criadas apenas para diversão, as primeiras equipes de games de computador surgiram na capital há dez anos. Na época, seus integrantes dividiam o tempo à frente do teclado com o trabalho ou os estudos e embolsavam as singelas premiações distribuídas em campeonatos amadores. Esse cenário mudou radicalmente nos últimos tempos. Após pipocarem na Coreia do Sul, na Europa e nos Estados Unidos em 2012, as chamadas gaming houses desembarcaram em São Paulo no ano passado. Trata-se de centros de treinamento bancados por empresas do mercado, nos quais os “atletas” — geralmente entre 17 e 25 anos — levam o negócio a sério, encarando sessões diárias de até oito horas de jogo em computadores de última geração e internet rápida. Além de receberem salário fixo, os jovens passam a morar nessas casas, com todas as despesas pagas pelos investidores (como alimentação, água, luz e gás).

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Na capital, três equipes adotaram esse modelo. A primeira a inaugurar seu quartel foi a paiN Gaming, que equipou uma casa no Jardim Europa em meados de 2013 para abrigar cinco jogadores e mais cinco profissionais de apoio. Mantido a um custo de 50 000 reais mensais, o local tem área de treino, com máquinas em rede, escritório administrativo e estúdio — ali são produzidos vídeos e fotos que acompanham as notícias do site oficial do grupo. Dois analistas montam estratégias e um telão reproduz replays de partidas passadas.

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A receita se repete nos outros dois centros, com um pouco menos de investimento (cada um com orçamento mensal de 20 000 reais): a Keyd Stars abriu sua base em um apartamento no Tatuapé, no segundo semestre do ano passado, e a CNB e-Sports Club ocupa uma casa no Campo Belo desde março. “Eles têm as horas definidas para os treinamentos, mas muitos continuam praticando por diversão, chegando a completar doze horas por dia no computador”, diz o técnico da Keyd, Renan Philip.

 

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Tratados como estrelas, os craques assinam contrato com multa rescisória. O carioca Felipe Gonçalves — ou brTT, seu apelido no meio — é o mais valioso. Em fevereiro, ele trocou a paiN pela Keyd, com a qual fechou um acordo de dois anos: para tirá-lo dali, é preciso desembolsar 40 000 reais. Entre salário, patrocínios individuais, venda de produtos licenciados de sua marca e a transmissão de jogos (com anúncios pagos), o jovem de 23 anos fatura até 10 000 reais por mês. Sua página pessoal no Facebook tem quase 300 000 seguidores. O gaúcho Gabriel “Kami” Böhm, da paiN, trilha caminho semelhante e já fatura 6 000 reais, fora premiações. “Ganhei 10 000 reais só com a conquista do título de campeão brasileiro do ano passado”, conta.

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O fenômeno deve muito à popularização de League of Legends. Lançado em 2009, o game on-line de estratégia tem um objetivo relativamente simplório: progredir no campo de batalha e destruir a base inimiga. Seu sucesso, no entanto, é estrondoso: tem 67 milhões de usuários, que gastaram 1,3 bilhão de horas até hoje em seus cenários, recorde mundial do segmento. Com tamanho interesse, o que era passatempo se tornou negócio e profissão.

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Para que o público possa acompanhar todos os lances da atuação dessa turma, as empresas do ramo investem em campeonatos com estrutura requintada. No último dia 20, o Espaço das Américas, na Barra Funda, recebeu 3 000 espectadores para a semifinal do Circuito Brasileiro de League of Legends. Transmitido ao vivo pela internet, o evento contava com narrador e comentarista das partidas. Houve até assédio por parte dos fãs (sim, fãs): como um astro de rock juvenil, brTT chegou a ser cercado por um grupo de cinquenta pessoas e distribuiu autógrafos. “Os jogadores influenciam o mercado: ao se associarem a eles, as marcas ganham visibilidade”, conta Leo De Biase, gerente de marketing da Nvidia, fabricante de placas de vídeo que patrocina a CNB e a Keyd. A CNB classificou-se, mas perdeu a decisão nacional no último sábado (26), diante de 8 000 pessoas, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, para a KaBuM! e-Sports, de Limeira. Além dos 55 000 reais de prêmio, o time do interior de São Paulo ganhou o direito de disputar uma vaga para o Mundial da categoria, que será realizado na Coreia do Sul, entre setembro e outubro.

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