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O cerco à boca das motos no centro da capital

Polícia desencadeia uma série de ações contra desmanches e comércio ilegal de peças, mas lojas reabrem clandestinamente

Por Adriana Farias
Atualizado em 1 jun 2017, 16h50 - Publicado em 29 Maio 2015, 23h00
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boca das motos-deic-lojas-fechadas (Mario Rodrigues/)
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A região formada pelo quadrilátero das avenidas Ipiranga, São João, Duque de Caxias e Rio Branco ganhou a fama de ser a “boca das motos”, devido a uma concentração de cerca de 400 estabelecimentos desse mercado, entre lojas de veículos, acessórios e peças. O local também é conhecido há tempos por ser um centro de atividades ilegais, a exemplo do mercado negro de compra e venda de produtos roubados.

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O negócio acontece de forma escancarada. Funcionários ficam na porta dos pontos abordando quem caminha pelas calçadas e oferecendo “pechinchas”. Nesse esquema, um pneu de origem suspeita pode sair por um terço do preço de uma mercadoria com nota fiscal. Nos últimos quatro meses, a Polícia Civil vem realizando várias batidas na região na tentativa de moralizar o pedaço. No total, ocorreram no período nove operações, com um saldo estimado de 32 lojas fechadas, cinquenta prisões, 1 200 motos recolhidas e aproximadamente 1 milhão de peças apreendidas, no valor de cerca de 30 milhões de reais.

Na última ação, realizada na quarta (27), três endereços acabaram fechados e uma pessoa foi presa. Entre outros problemas, os locais apresentavam falta de documentação, como o laudo de vistoria dos bombeiros, ambiente de insalubridade e produtos sem comprovação de origem e outros com numeração adulterada. “Esses estabelecimentos são como ninho de ratos”, comparou um dos profissionais encarregados das operações, Jair Barbosa Ortiz, delegado titular da 3ª Delegacia de Investigações sobre Desmanches Delituosos, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).

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“As mercadorias ficam armazenadas em cada metro quadrado, do chão ao teto. Alguns locais possuem passagens secretas que dão para porões e até se conectam com outros estabelecimentos vizinhos”, completou. Essa repressão mais efetiva ganhou força com ajuda da lei do desmanche, como ficou conhecida uma norma criada em2014 pelo governo estadual. Segundo ela, as empresas que comercializam peças veiculares de segunda mão precisam fazer um cadastro no Detran e na Secretaria da Fazenda. Além disso, cada item oferecido aos clientes necessita de uma identificação específica, incluindo o número de protocolo do veículo desmontado. O objetivo foi tirar da informalidade o comércio de desmanches e facilitar a fiscalização.

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“Antes disso, a 3ª Divisão de Investigações sobre Furtos, Roubos e Receptações de Veículos e Cargas (Divecar) atuava sozinha. Agora, com o envolvimento de vários órgãos, o monitoramento se tornou melhor”, afirma Valter Sérgio de Abreu, delegado divisionário da Divecar.

 

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O efeito das blitze recentes na boca das motos do centro da cidade é visível para quem passa na região. Vários pontos estão lacrados com paredes de tijolos e outros fecharam a porta com medo de novas ações policiais. Vias inteiras que eram tomadas pelo movimento de motos, vendedores e compradores ficaram vazias, com ar de desolação.

 Os moradores da vizinhança andam contentes com a transformação. Cerca de oitenta deles acompanham o movimento no Conselho Comunitário de Segurança do Centro (Conseg) e viraram colaboradores das autoridades. “Já protocolamos mais de quarenta denúncias na prefeitura”, diz o metalúrgico José Maria Severino, de 54 anos, morador da área há mais de duas décadas.

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Gente como ele sofre com problemas como o barulho de caminhões na madrugada descarregando produtos e a sujeira de óleo e graxa ocasionada por desmanches feitos nas calçadas, quando centenas de motos e carcaças são emparelhadas até mesmo nas portas dos condomínios. “Acabar com essa farra significa revitalizar e trazer qualidade de vida para cá”, entende Antonio de Souza Neto, presidente do Conseg Centro.

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Apesar dos avanços, a batalha contra a ilegalidade está longe de acabar. Mesmo depois de interditadas, algumas lojas voltam a funcionar, ainda que discretamente. Na semana passada, a reportagem de VEJA SÃO PAULO flagrou vários vendedores desses pontos atuando escondido. Quando um cliente se aproxima e faz o pedido, a pessoa abre o comércio para pegar a mercadoria e, na sequência, baixa a porta de novo, rapidamente.

De acordo com a polícia, há casos de gente presa que, um mês depois de sair da prisão, está novamente na ativa no mesmo local. “Essa é uma cadeia ilegal que se fincou na área de uma forma muito dinâmica”, analisa o advogado Alamiro Salvador, do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. “Os que saem de circulação rapidamente são substituídos ou reinseridos para fazer o negócio girar. Acabar com isso exige persistência.”

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