Clima fica quente nos bastidores das eleições do Clube Pinheiros
A obra milionária e outras polêmicas que agitam a votação que deve ser realizada em 10 de maio
As eleições de um clube de campo costumam despertar pouco interesse entre os sócios e movimentam, quando muito, uma ou outra discussão entre os praticantes de bocha. No Pinheiros, no entanto, um dos mais tradicionais e bem equipados clubes da capital, a votação que deve ser realizada no dia 10 de maio foge à regra e envolve muitas discussões, algumas delas tão acaloradas que acabaram indo parar na delegacia.
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O pleito vai renovar um terço do corpo conselheiro, de um total de 215 membros. Eles é que vão escolher em 2015 o novo presidente. O atual, o engenheiro Luís Eduardo Dutra Rodrigues, cumpre o segundo mandato e sua turma tem dado as cartas na agremiação nos últimos sete anos. Três chapas estão dispostas a conquistar a maioria no próximo mês para apeá-lo do poder. Segundo a oposição, Rodrigues é autoritário e um mau administrador.
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“Nunca o Pinheiros esteve tão bem”, rebate ele, citando dados como o orçamento anual de 200 milhões de reais e a ausência de dívidas. Algumas obras e ações recentes da diretoria esquentaram o clima da campanha. Em março, Rodrigues ordenou a troca do piso de mosaico português, da década de 50, em uma das principais alamedas do clube, por outro, mais moderno. “Muitos idosos sofrem por causa da irregularidade das pedras”, explica o presidente.
“Foram mais de 100 quedas em um ano.” Para a realização da obra, que deve custar 80 000 reais, ele dispensou a aprovação do corpo conselheiro. Sócia do clube desde que nasceu, a arquiteta Ana Cláudia Sá contesta a medida. “Quando nos demos conta, um trator fazia a remoção das pedras onde muitos de nós caminhamos durante toda a vida”, critica.
Outro ponto de discórdia envolve a construção do novo estacionamento subterrâneo, com 860 vagas. Ele foi inicialmente orçado em 27 milhões de reais, mas custou 58 milhões. O conselho aprovou tudo. Atualmente, mais de 50% de seus membros apoiam o presidente. “Queremos mudar isso”, afirma o engenheiro Carlos Miller, da oposição. “Os minoritários não têm nenhuma voz, eles passam o que querem.”
Uma das chapas mais barulhentas contra Rodrigues é a Transparência. Ela começou como um grupo do Facebook e ganhou força em 2013, quando foi instituída uma taxa de 300 reais por semestre para obter a autorização da entrada no clube de funcionários dos sócios, como babás. A justificativa da diretoria era reduzir a movimentação de gente de fora dentro do complexo. Segundo a presidência, embora não possam usar os aparelhos esportivos, os não sócios acabam ocupando lugares em restaurantes e banheiros.
“Algumas amigas tiveram de prestar depoimento na delegacia, pois o clube abriu queixa e processo pelos protestos que elas fizeram pelo Facebook contra a medida”, conta a sócia Flavia Ferronato. Indignada, ela passou a engrossar o time da Transparência. Até os atletas do clube entraram na discussão. “Eles trazem visibilidade, mas a diretoria não nos informa quantos deles usam o local”, diz o advogado e sócio Márcio Moraes Barros.
De acordo com frequentadores do Pinheiros, a turma da competição tem privilégios e ocupa grande parte das instalações. “Existe uma fila de espera de anos para que as crianças consigam vaga nas aulas de natação”, critica Flavia Ferronato. Hoje, 336 filhos de sócios entre 3 e 5 anos aguardam uma oportunidade para frequentar os cursos. O presidente reconhece o problema e afirma que vai construir ainda neste ano outra piscina infantil.
Fundado pela colônia alemã em 1899, no bairro da Mooca, o Pinheiros chamava-se originalmente Sport Club Germânia. Durante a II Guerra Mundial, foi obrigado a mudar o nome e adotou o atual. O clube faz parte da história esportiva da cidade. Seu time disputou os primeiros campeonatos paulistas de futebol e, em 1909 e 1911, contou com Arthur Friedenreich, o maior artilheiro brasileiro antes de Pelé.
Em 1920, a entidade se mudou para a região da Faria Lima. Dez medalhas olímpicas brasileiras foram conquistadas por nomes que treinaram nas suas dependências. Em uma área de 170 000 metros quadrados dentro de um dos pontos mais valorizados da capital, o Pinheiros tem uma infraestrutura invejável, com direito a oito piscinas e 24 quadras de tênis. O título individual custa 78 000 reais (não existe a opção familiar). O valor desse patrimônio ajuda a entender por que anda tão quente a briga para comandar o clube nos próximos anos.
Alguns dos temas que estão esquentando a campanha…
› Construção do estacionamento com 860 vagas: a presidência orçou a obra em 27 milhões de reais, mas ela custou 58 milhões e demorou mais de dois anos para ser entregue.
› Troca do piso de mosaico português: instalado nos anos 50 em uma alameda de 1 400 metros quadrados, o pavimento foi removido para dar lugar a um “piso ecológico”. A oposição diz que a obra descaracterizou a arquitetura original.
› Cobrança de uma taxa de 300 reais por semestre para quem quer levar babá ou motorista às dependências do clube. “Alguns sócios abusavam e traziam quatro empregadas, uma para cada filho”, justifica o presidente, Luís Eduardo Dutra Rodrigues.
Alguns dos temas que estão esquentando a campanha…
› Ano de fundação: 1899
› Orçamento: 200 milhões de reais por ano
› Área: 170 000 metros quadrados
› Sócios: cerca de 38 000
› Preço de um título individual: 78 000 reais (compra e transferência)
› Taxa de manutenção: 320 reais por mês
› Esporte: dez medalhas olímpicas vieram de atletas que treinaram no clube, como Rafael Silva (bronze no judô em 2012, em Londres) e Cesar Cielo (ouro e bronze em Pequim, 2008)