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OLÁ,

Prefeitura amplia ritmo de criação de ciclovias

São 29 quilômetros novos neste ano e 38 quilômetros previstos só para este mês

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 17 Maio 2024, 10h58 - Publicado em 8 ago 2014, 23h00
Ciclovias
Ciclovias (Arte VEJA SAO PAULO/)
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Todo dia, o estudante de direito Pedro Keese faz o trajeto entre sua casa, na Granja Viana, e a PUC, em Perdizes, de carro. No fim de junho, notou algo diferente enquanto trafegava pela Avenida Escola Politécnica, no Butantã. “Apareceu uma ciclovia no meio da rua”, diz. “Achei tão legal que comprei uma bicicleta na mesma semana.” Desde então, o jovem de 21 anos tem circulado por ali, pela Avenida Pedroso de Morais e pela Avenida Sumaré, para se exercitar. A empolgação com a novidade, no entanto, o leva a ter ideias mais ousadas. “Assim que esses três trechos forem interligados, irei pedalando direto até a faculdade.” Para estimular o surgimento de mais paulistanos como Keese, dispostos a trocar o volante pelo guidão, a prefeitura tem apostado na implantação de um número recorde de faixas exclusivas para ciclistas. Em 2013, foram abertos 10 quilômetros para o modal; até a metade deste ano, já são 29 quilômetros. Em agosto, a expectativa é que o índice cresça mais. Se a meta da administração para o mês for cum prida, a capital ganhará 1,3 quilômetro de ciclovias por dia, em média. Até dezembro, seriam 200 novos quilômetros.

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Segundo a última pesquisa Origem-Destino, coordenada em 2012 pelo Metrô, 333 000 viagens de bicicleta são realizadas por dia em São Paulo, o que representa 2% do total de deslocamentos. Estima-se que o número seja maior, porque, se uma pessoa percorre um trecho em duas rodas e outro de ônibus, metrô, trem ou carro, apenas o outro meio de transporte é contabilizado. Ainda assim, estamos bem longe de outras cidades do mundo. Em Amsterdã, na Holanda, por exemplo, 30% dos trajetos são vencidos à base dos pedais. As duas maiores redes do mundo estão em Berlim, na Alemanha, com 750 quilômetros, e Nova York, nos Estados Unidos, com 675 quilômetros. “Não alcançaremos esses índices tão cedo, mas nos aproximaremos bastante deles nos dois próximos anos”, diz o superintendente de planejamento e projetos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Ronaldo Tonobohn.

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E dá-lhe tinta para traçar essa meta. Até dezembro de 2015, serão aplicados aproximadamente 335 000 quilos de pó em spray nas ruas durante a madrugada para viabilizar o plano de implantar mais 400 quilômetros de ciclovias. Hoje, a cidade tem 150 quilômetros fixos — sem contar as faixas de lazer aos domingos e feriados. A previsão é que essa malha atinja 743 quilômetros até dezembro de 2016 (detalhes no quadro). Nessa conta, soma-se ainda um projeto do Metrô para a construção de 43 quilômetros sob os monotrilhos das linhas Vila Prudente- Hospital Cidade Tiradentes, na Zona Leste, e Aeroporto de Congonhas-Morumbi, na Zona Sul, além de 150 quilômetros de corredores de ônibus que serão adaptados para receber também os ciclistas. “É complicado unir os dois no mesmo espaço. Ainda estamos estudando a logística disso”, afirma Tonobohn.

 

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A proliferação das ciclovias tem seduzido usuários mesmo em regiões onde já havia essa opção, como no caso da Avenida Sumaré, em Perdizes. “A pista já está ali há alguns anos, mas só me encorajei a utilizá-la depois que vi a sua nova pintura e os trechos inaugurados recentemente”, diz a advogada Tatiana Lowenthal. Desde a semana passada, ela percorre aproximadamente 14 quilômetros entre sua casa, no Imirim, na Zona Norte, e o escritório, na Avenida Paulista. Faz o percurso ao lado do marido, Paulo Lowenthal, que trocou o carro pela bike há dois anos. “Eu levava até duas horas para ir ao trabalho, dependendo do trânsito. Agora tenho certeza de que chegarei no meu destino em no máximo uma hora”, afirma. “De quebra, perdi 8 quilos.”

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Investir na bicicleta não sai barato aos cofres públicos. Cada quilômetro de ciclovia custa 200 000 reais, quatro vezes mais que a média das faixas de ônibus. A prefeitura justifica o acréscimo pela necessidade de recapeamento de diversas ruas, que não estariam aptas a receber os ciclistas sem a realização das obras. Foi o caso, por exemplo, no Grajaú, na Zona Sul, e no Jardim Helena, na Zona Leste. “As calçadas são estreitas nessas regiões, tivemos de readequar as vias”, diz o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto. Além da intervenção física, estão a caminho outros estímulos para quem pedala. A Câmara Municipal aprovou um projeto para reverter o valor pago em impostos na compra de uma bicicleta — cerca de 45% do preço final — em créditos no Bilhete Único. O prefeito Fernando Haddad deve sancionar o programa nesta semana, e o resgate do benefício começaria em janeiro. “Finalmente caiu a ficha de que é preciso investir nessa área”, diz o músico Daniel Labadia, que tem utilizado a faixa na Praça Júlio Prestes, no centro, inaugurada há menos de um mês.

Assim como ocorreu no ano passado no período de ampliação dos corredores de ônibus, nem tudo no projeto recente é uma mão na roda. Entre os maiores problemas estão a sinalização deficiente e a pavimentação ainda ruim, apesar das obras de recuperação. Além, é claro, da educação no trânsito. “A intenção é boa, mas a população precisa se acostumar a dividir espaço com as bicicletas”, diz o ativista Willian Cruz, presidente do site Vá de Bike. Até o fim do ano, a CET pretende lançar um programa de conscientização para melhorar o convívio entre motoristas, pedestres e ciclistas.

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No embate no trânsito, 35 ciclistas morreram em 2013, uma queda de 30% em relação a 2012. A relação com comerciantes também é tumultuada. “Perdi as vagas de descarga na minha porta e tenho de começar a trabalhar no meio da madrugada para receber as mercadorias”, afirma o empresário Luiz Coelho, dono de uma padaria na Alameda Barão de Limeira, nos Campos Elíseos, que ganhou uma ciclovia em sua porta há poucas semanas. “A prefeitura deveria ter me consultado antes.” Também contrário, um grupo de cinquenta integrantes do Conselho de Segurança de Santa Cecília registrou um boletim de ocorrência na quinta (7) e pretende entrar com uma ação no Ministério Público contra as ciclofaixas.

Aro torto

Aspectos em que o projeto da prefeitura precisa avançar

Sinalização: em determinados trechos, especialmente no centro, faltam semáforos nos cruzamentos; há também vias compartilhadas sem a delimitação do espaço para ciclistas e para pedestres

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Piso: apesar das obras de recapeamento, existem falhas em algumas emendas do asfalto, rachaduras e buracos, principalmente em trechos da região central, o que aumenta o risco de acidentes

Isolamento: falta interligação entre a maior parte das ciclovias

Educação: é preciso investir para criar uma cultura de respeito entre motoristas, pedestres e ciclistas

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