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Desfile com peruca de bombril provoca discussão sobre racismo

Metralhado nas redes sociais, estilista Ronaldo Fraga afirma que uso da palha de aço foi uma “crítica ao racismo”

Por Mayra Maldjian
Atualizado em 1 jun 2017, 17h47 - Publicado em 21 mar 2013, 00h31
Bombril Ronaldo Fraga
Bombril Ronaldo Fraga (Reprodução/Twitter Emicida/)
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“Pra você que achou que pintar modelo branca de negra era o auge do racismo olha aí outra ‘homenagem’”, ironizou Emicida, logo cedo, no Twitter. O rapper paulistano referia-se ao desfile de Ronaldo Fraga, na última terça (18), que levou à passarela da São Paulo Fashion Week modelos com “cabelo” de palha de aço.

As perucas, idealizadas em parceria com o beauty artist Marcos Costa, faziam parte do conceito da coleção de verão apresentada pelo estilista, cujo tema era o futebol de várzea e a cultura negra. Em poucos minutos, anônimos e famosos travaram uma discussão sobre racismo nas redes sociais, marcada por “deixa disso” e “Ronaldo Fraga racista!”.

A repercussão virtual foi tanta que Ronaldo Fraga, mais tarde, recorreu ao Facebook para se explicar. “O meu desfile é uma crítica ao racismo e ao preconceito que respinga até os dias de hoje. Em nenhum momento falo em homenagem”, explica. “Voltei para um tempo em que o futebol, o tema que escolhi para esta coleção, deixava de ser um esporte exclusivamente branco, de elite, para se ajoelhar diante da ginga, da dança que os negros emprestavam da capoeira pra driblar o time adversário.”

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O comunicado esquentou o debate. “Quem vive no Brasil, lê um mínimo de jornal e tem qualquer senso crítico entende que ‘cabelo de bombril’ reforça um estereótipo racista e muito antiquado, pra não dizer deselegante”, contrapõe a cantora Serena Assumpção, filha do também cantor Itamar Assumpção (1949-2003), cujo apelido era Nego Dito. “Acredito que Ronaldo não seja racista. Mas foi bastante infeliz na concepção do estilo pra este desfile. E quem não enxerga isso precisa dar uma voltinha fora de Higienópolis.”

Marcos Costa também se manifestou no Facebook. “A ideia para o look do desfile era ressaltar a beleza de cabelos que podem ser moldados como esculturas, não importando o fato de serem crespos”, contestou em um post acompanhado de uma foto antiga de um negro. “Depois de testarmos alguns materiais, o Ronaldo Fraga sugeriu a palha de aço. Foi também uma forma de subverter um preconceito enraizado na cultura brasileira. Por que o negro tem de alisar seus fios? Eles são lindos!”

Bombril Ronaldo Fraga
Bombril Ronaldo Fraga ()
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Papo de corredor

Nos corredores da Bienal, palco da semana de moda, pouco se falou sobre o assunto na tarde de hoje. “É uma produção diferente, claro, ousada. Mas acho que o pessoal está pegando pesado ao dizer que é uma ofensa. Hoje qualquer coisa é racismo. Eu sou negro, tenho o maior orgulho da minha pele. Tem muito negro que tem preconceito de si mesmo também”, justificou Romulo Souza, 22, que havia acabado de desfilar para João Pimenta.

Morena de cabelo crespo, porém escovado, Mariana Nery, 18, uma das modelos que usou a tal peruca, concorda com o colega. “Óbvio que tem muita gente que gosta de criar polêmica. O Ronaldo é um cara que está sempre homenageando as mulheres brasileiras, já homenageou a Amazônia, agora está trazendo para gente o futebol negro. Não foi ofensivo de jeito algum. Tanto que no desfile havia modelos negras”.

A top loira Viviane Orth, 22, também vestiu a coleção de Fraga. “As pessoas sempre veem que o desfile dele é aquela coisa linda, aquele teatro, ele homenageia o Brasil em todas as temporadas. O Ronaldo é a última pessoa que faria uma coisa maldosa.”

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