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Justiça tira do ar o perfil do Instagram que denunciava o suposto envolvimento de grandes agências com prostituição

As empresas citadas negam e se dizem vítimas de extorsão

Por João Batista Junior
Atualizado em 1 jun 2017, 16h40 - Publicado em 15 ago 2015, 00h00
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No mercado de manequins não faltam ingredientes como glamour, cachês vultosos, línguas afiadíssimas e inveja. Na capital, nas últimas semanas, o burburinho característico desse universo ganhou um ingrediente extra — e explosivo. Tudo começou com uma conta no Instagram criada pelos produtores de eventos Alexandre Piva, de 24 anos, e Marco Negry, 22. O perfil nasceu com o objetivo de divulgar as agências de modelos que atuariam também no mercado de prostituição, oferecendo a seus clientes programas com moças e rapazes de seu casting. Sempre se suspeitou desse tipo de prática, tema da novela global Verdades Secretas, no ar desde junho, mas é a primeira vez que aparece alguém disposto a dar o nome das pessoas supostamente envolvidas na venda dos chamados serviços de “book rosa” e “book azul”, dependendo do sexo do modelo contratado.

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Duas empresas citadas nos posts polêmicos estão entre as maiores e mais tradicionais do país. Uma delas, a Mega, opera desde 1995, fatura pelo menos 1,5 milhão de reais por mês e é responsável por nomes como Isabeli Fontana e Izabel Goulart. Também apareceu nas acusações outro gigante do setor, a Joy. Fundada em 2008, é a casa de Lais Ribeiro, recém-eleita angel da grife Victoria’s Secret. As companhias negam a acusação e registraram o caso no 15º Distrito Policial e na Divisão Antissequestro do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) como tentativa de extorsão.

Segundo os donos da Mega e da Joy, os acusadores queriam dinheiro para não citá-los mais no Instagram. “Não cedo a chantagistas”, diz Eli Hadid, da Mega. Um dos últimos desdobramentos da celeuma ocorreu na segunda 10, quando a juíza Maria Fernanda Belli, da 25ª Vara Cível, em resposta a um pedido de liminar feito pelo advogado da Mega, ordenou que a página com as denúncias fosse retirada do ar. “O perigo de dano irreparável ou de difícil reparação decorre da manutenção das informações tidas por ofensivas divulgadas através do mencionado endereço eletrônico, importando em maior disseminação, sobretudo porque se trata, em princípio, de conteúdo inverídico”, justificou a juíza no despacho. 

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Os donos da conta negam a tentativa de extorsão e dizem que vão recorrer na Justiça para poder voltar com o perfil. Posta no ar no fim de julho, a página conquistou em duas semanas quase 30 000 seguidores. “Vamos até o fim com essa história”, promete Piva. “Várias pessoas nos procuraram para fazer mais denúncias contra essas e outras empresas”, afirma. Ele e seu parceiro de Instagram dizem ter como objetivo “moralizar o mercado”. “Todos nós sabemos que algumas agências oferecem modelos a investidores e homens de negócios e que têm prostitutas em seu elenco”, afirma Negry. “Queremos mudar essa realidade.” Ambos atuaram na área como produtores de eventos e como bookers (os responsáveis por vender o trabalho das manequins).

O empresário Elian Gallardo, dono de uma agência batizada com seu nome e especializada em modelos masculinos, foi um dos que tiveram relações profissionais com a dupla. A proximidade gerou a suspeita de que Gallardo estaria por trás das denúncias. “Isso não tem o menor cabimento”, garante ele. 

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Os acusados de envolvimento com prostituição dizem que os criadores da conta no Instagram são pessoas sem credibilidade. Há seis anos, por exemplo, Negry criou o blog TNN Brasil, no qual abordava práticas inadequadas do mundo da moda. Na época, escreveu que a agência Elo, do empresário José Roberto Tavares, atrasava o salário das modelos. “O Tavares começou a patrocinar o meu site, e não falei mais dele. Passei a lhe dar uma consultoria”, justifica. Negry não acha estranha sua postura heterodoxa de calar a boca depois da parceria comercial. “Meu objetivo era divulgar o problema para que o responsável tomasse medidas, e isso acabou acontecendo”, diz. Tavares confirma que foi alvo de críticas e que sentou para conversar com o blogueiro de língua afiada, mas nega ter lhe dado dinheiro. O site TNN foi desativado algum tempo depois. 

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No caso atual, há ausência de provas à altura das denúncias. Um dos itens mais picantes divulgados mostrava trechos de uma conversa do chat do Facebook entre um booker da Joy instalado na Argentina e um modelo, ex-namorado de Piva. No diálogo, o agente convidava o rapaz para fazer programas. O profissional foi desligado após a divulgação da história. “É impossível ter o controle do que a minha equipe faz em suas contas particulares nas redes sociais”, argumenta Liliana Gomes, da Joy. “Mas acho que, se de fato eles quisessem moralizar algo, fariam as denúncias à polícia.” 

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Contra a Mega, a página levou ao ar um áudio de um funcionário do local. Booker da agência por catorze anos, Gelbh Costa foi ao encontro de Piva e Negry em um apartamento na Vila Nova Conceição. Ele não sabia que a conversa estava sendo registrada. Em determinado momento, a dupla do Instagram afirma que meninas do casting da Mega fazem programas. “A maioria, né?”, diz Costa. Hoje, o funcionário se defende alegando que havia sido dopado.

“Tomei dois copos de Fanta e não lembro de nada”, contou a um conhecido. Ele acabou sendo dispensado e teve de deixar o apartamento onde vivia, bancado pela empresa. “A demissão foi preventiva”, explica Hadid. “Se ficar comprovada sua inocência no fim da investigação, ele poderá voltar.” O empresário jura combater a jornada dupla das modelos em seu negócio. “Posso garantir que minha agência não faz programas”, diz. “Agora, se uma menina realiza esse tipo de atividade por fora, eu não posso ser responsabilizado.” Hadid revela já ter demitido garotas da Mega Talents, braço da empresa voltado para trabalhos de figuração, ao saber que elas trabalhavam como prostitutas. 

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Entre as pessoas citadas no Instagram, apenas o badalado cabeleireiro Eron Araujo confirma as denúncias. Ele apareceu em um post como um “cliente” de modelos que fazem programas. “Sou gay e solteiro, então não tenho problemas com isso”, diz. “Mas esqueceram de falar que eu contratava os meninos do Elian Gallardo”, completa.

“Não trabalho com isso”, defende-se Gallardo. “O que existe é parceria. Os rapazes iam ao salão dele para cortar o cabelo de graça.” A reportagem de VEJA SÃO PAULO teve acesso a fotos de modelos nus feitas dentro da agência Gallardo, na Vila Olímpia. O empresário nega que elas seriam o “cartão de visita” para apresentá-los a potenciais clientes. “Essas imagens foram produzidas para eles tentarem uma vaga na campanha de um perfume Lady Gaga. Sou um profissional respeitado por todos.”

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Nas próximas semanas, os envolvidos no caso devem prestar depoimento. Negry e Piva dizem que estão sendo acuados. Segundo eles, carros com policiais armados estacionaram na porta do prédio de Piva, em uma suposta tentativa de intimidação. Negry conta ter sido agredido na rua por um desconhecido na terça 11, mas não registrou nenhum boletim de ocorrência sobre isso. Se não comprovarem as denúncias, correrão sérios riscos. Em caso de condenação por tentativa de extorsão, a pena pode variar de quatro a dez anos de detenção. As agências Mega e Joy também se preparam para mover ações por calúnia e difamação. “O lugar desses caras é na prisão”, indigna-se Hadid.  

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