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As novidades do Aquário de São Paulo

Vindo de terras geladas em uma viagem de quinze horas de avião, um casal de ursos-polares é uma das estrelas da nova área de 6 000 metros quadrados que o lugar, na Zona Sul, deve inaugurar na quinta (16), depois de um investimento de 15 milhões de reais

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 1 jun 2017, 16h57 - Publicado em 11 abr 2015, 00h00
Aquário
Aquário (Mario Rodrigues/)
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Em dezembro, um casal de ursos nascido na gélida Moscou embarcou rumo ao verão brasileiro. Foram quinze horas de viagem até o Aeroporto de Guarulhos. Um veterinário e um biólogo estrangeiros acompanharam o percurso, realizado a bordo de um avião de carga. Os animais vieram em compartimentos separados e climatizados. Chegando aqui, os bichos, que somam 730 quilos, foram transportados de caminhão até o bairro do Ipiranga.

As caixas em que estavam foram movidas por um guindaste acoplado ao veículo e levadas em um carrinho até um recinto de 1 500 metros quadrados também climatizado. A nova casa de Aurora e Peregrino, de 4 e 5 anos, respectivamente, possui temperatura média de 15 graus (podendo atingir -5) e uma grande piscina.

 

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O público poderá acompanhar a rotina deles a partir de quinta (16), data prevista para a abertura da nova ala do Aquário de São Paulo, com quase o dobro de sua área anterior. O endereço da Zona Sul já era o campeão do gênero no país. Com 4,5 milhões de litros de água, o local recebe cerca de 30 000 visitantes por mês e ostenta 3 000 exemplares de 300 espécies. O pacote de novidades conta com mais 36 moradores de sete tipos.

Dedicados aos mamíferos, os recintos recém-construídos consumiram um investimento de aproximadamente 15 milhões de reais. Nos espaços, além dos bichos vindos da Rússia, será possível observar animais inusitados por aqui, provenientes de regiões como Austrália, África e Indonésia, a exemplo de lêmures, suricatos, cangurus e vombates. Veterinários e biólogos fizeram estágio no exterior para aprender a lidar com a turma estrangeira.

Não foi moleza trazer animais tão inusitados para a capital. Os ursos, por exemplo, habitavam um zoológico na Rússia sem espaço suficiente para que vivessem de forma adequada. Após dois anos de negociação, vieram para cá como parte de um projeto de preservação e reprodução — por isso, o Aquário pagou apenas os 22 000 dólares necessários para o transporte a fim de tê-los como atração. A questão da reprodução está praticamente resolvida.

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O casal copulou no mês passado, e mostram-se altas as chances de a fêmea estar prenhe. Caso isso se confirme, o que deve acontecer nas próximas semanas, existe uma maternidade anexa pronta. Nessa fase, ela procura temperaturas mais baixas e chega a dobrar de peso. “É possível ter o animal que se quiser no país, basta que seja permitido por lei, é claro, e dar as condições adequadas para promover seu bem-estar”, afirma Anael Fahel, dono do aquário.

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Em cativeiro, a dupla de grandalhões come 43 quilos de alimentos por dia, entre carnes de boi, porco e frango, peixes como sardinha e salmão, verduras, legumes, frutas como melancia e melão, trigo e pão de centeio. Eles devem arrancar suspiros dos frequentadores, graças à aparência graciosa e à mania de brincar feito crianças, mordendo piões e bolas. Mas o jeito fofinho engana. Trata-se de carnívoros ferozes. Na natureza selvagem, eles caçam principalmente focas, quase sempre na água, onde se mostram nadadores exímios.

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Vindos da Oceania, seis cangurus adultos têm potencial para rivalizar em ibope com Aurora e Peregrino. Eles passam o tempo saltitando em um cercado de terra batida. Há ainda dois recém-nascidos que se acomodam na bolsa da mãe, para lá e para cá, prometendo atrair os flashes do público. Espere também ver filhotes paulistanos de outro gênero, os suricatos. Da Austrália, chegaram sete. Hoje, totalizam treze, divididos em duas famílias, separadas em recintos distintos. A maior parte dos animais desembarcou aqui no esquema de parceria com zoológicos estrangeiros que possuem excedente de espécies e conseguem fazer concessões. Em troca, quem os recebe tem de dar boas condições de vida a eles e não deve se configurar como dono. Por isso a qualquer momento os bichos, em tese, podem voltar ao lar original. Mas, na prática, é algo bastante difícil de acontecer.

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No exterior, o mercado de entretenimento com animais aquáticos é bem mais sofisticado que o do Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, há o gigante Georgia Aquarium, com 100 000 criaturas marinhas. Fora de São Paulo, existem aquários bacanas em Santos, Ubatuba e Guarujá. Mas a atração do Ipiranga é a maior em tamanho em comparação com todas as outras do país. Alguns projetos em andamento podem roubar seu lugar. Com inauguração prevista para o fim do ano, o AquaRio deve reunir 8 000 exemplares em uma área de 22 000 metros quadrados. Um empreendimento no Pantanal, em Mato Grosso do Sul, tem obras atrasadas, ao custo de pelo menos 105 milhões de reais. Em Fortaleza, o Acquario Oceânico do Ceará, que está com a construção paralisada devido a imbróglios governamentais, promete esbanjar 15 milhões de litros de água.

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Para não ficar para trás, o Aquário de São Paulo realizou duas expansões desde sua inauguração, em 2006. A atual é o terceiro projeto do tipo. O negócio começou com uma acanhada área de água doce de 3 000 metros quadrados. Em 2008, foi inaugurado um oceanário, lar de oito tubarões-lixa e de um tubarão-mangona. Um ano depois, surgiu por lá uma ala especial para os mamíferos aquáticos. Tornou-se o queridinho da época o peixe boi, de 450 quilos, ameaçado de extinção e vindo da Amazônia. Um sucesso recente, responsável por alavancar o público do lugar, foram as sereias. Moças vestidas a caráter mergulham em um grande tanque e fazem a alegria das crianças. Agora, com a nova fase, o local fortalece a vocação para receber não apenas animais aquáticos. Isso já podia ser percebido em razão da presença de morcegos, cobras e uma preguiça.

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A cenografia da renovação do espaço ficou aos cuidados do artista plástico Lee Oliveira. Logo na entrada, o visitante dá de cara com algo similar a um saguão de aeroporto, que indica como destino aos frequentadores o país de origem dos bichos. Parceiro do aquário há uma década, o profissional assina outros trabalhos por ali, como um passeio inspirado na era do gelo. Um carrinho passa pela réplica eletrônica de figuras do período, como mamutes que se mexem. Há chuva de espuma similar à neve e um trecho de paredes oscilantes, para dar a impressão de uma avalanche. Trata-se de uma das duas atrações ainda inéditas para o público com custo além do ingresso, a 10 reais. A outra é um cinema 4D.

No caso dos locais reservados para os bichos, Oliveira diz ouvir especialistas antes de desenhar as criações. “Converso com os biólogos para saber as necessidades do ambiente de cada animal e a partir disso penso em algo atrativo”, diz. No espaço dos ursos, ele instalou piso liso, para lembrar o gelo, e colocou um submarino cenográfico encalhado. Na área dos morcegos, pensou em um avião caído, com o toque de ruínas. No setor da África, pintou temas baseados em uma aldeia indígena local.

Devido às obras recentes, os responsáveis pelo Aquário aproveitaram para elevar os preços em aproximadamente 15% para crianças (o novo valor é de 40 reais) e 30% no caso de adultos (60 reais). Com isso, virou um programa ainda mais salgado para as famílias. A justificativa é que os custos de operação subiram muito com os ursos-polares e outros animais. A nova ala fez aumentarem quase 100% o número de funcionáriosda empresa. Atualmente, a brigada possui cerca de 150 pessoas. Ajuda no bem-estar dos habitantes, por exemplo, o biólogo Rafael Gutierrez, supervisor de manejo de aquarismo. Munido de traje e equipamentos de mergulho, ele se aventura no tanque dos tubarões. “Para promovermos o enriquecimento ambiental e a aproximação com os profissionais, usamos bolhas, algas e uma cortina de CDs que reflete a luz”, explica.

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O dono do Aquário, o paulistano Anael Fahel, de 53 anos, começou a empreitada por acaso. Após pequenos trabalhos, o empresário, que desistiu da faculdade de física, começou a ganhar dinheiro ainda jovem, vendendo passeios monitorados a turmas escolares a pontos como museus, parques e o Zoológico. Fazia ligações por meio de orelhões no Terminal Jabaquara. A atividade foi dando certo e cresceu — chegou a seu pico com as apresentações do Holiday on Ice —, mas apareceram muitos concorrentes. Percebendo que seu trabalho poderia se tornar um negócio, investiu, em 1997, dinheiro em um planetário no Ipiranga, no terreno de um clube desativado.

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A ideia do investimento no Aquário surgiu, ainda, pela falta de uma opção como essa na cidade. Aos poucos, foi ganhando espaço no imóvel onde funcionava o planetário, porque chamava mais público, até que esse último acabou, em 2008. Há cinco anos, Fahel opera também o parque Cidade da Criança, em São Bernardo do Campo. “É curioso, porque vim de uma família pobre e não íamos muito a lugares de diversão”, lembra. Criativo e exigente, ele investe agora na construção de um zoológico coberto em Cotia. Deve levar pelo menos três anos para ficar pronto. “Quando ponho em prática meus planos, não penso tanto no dinheiro, mas na adrenalina”, diz. “Para Cotia, planejo conseguir um urso panda.”

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