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Alta do dólar obriga paulistanos a mudar férias e evitar os importados

Moeda americana é responsável pela definição do preço dos produtos, o que faz com que viagens programadas sejam reorganizadas

Por Jussara Soares
Atualizado em 1 jun 2017, 16h40 - Publicado em 22 ago 2015, 00h00
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FPF20150805012 (Cris Fraga/Fox Press Photo/Agência Estado/)
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Há alguns meses, a arquiteta Suzana Braga planejou tirar uma semana de descanso em setembro para viajar para Cancún, o principal destino turístico do México. Quando fechou o pacote de 4 500 reais pela passagem e acomodação em um resort, em junho, a cotação do dólar comercial estava em 3,10 reais. No começo de agosto, no entanto, ela foi pega de surpresa pela escalada cambial que elevou a moeda americana para 3,50 reais, um crescimento de13% no período – no acumulado de um ano, a alta já é de 54%. Assim, os 3 000 reais reservados inicialmente tornaram-se insuficientes para bancar as férias. Diante da situação inesperada, Suzana viu-se forçada a mudar de planos. “Fui obrigada a adiar esse sonho”, lamenta.

Casos como esse se multiplicaram nos últimos tempos. O número de voos de paulistanos para Nova York, Orlando e Miami caiu 20% desde janeiro, segundo dados da Associação Brasileira de Agências de Viagens-SP (Abav-SP). Cerca de 40% das vendas da CVC são para destinos internacionais. Para estimular o consumidor, a companhia passou a oferecer uma taxa de câmbio reduzida, abaixo da cotação oficial. No início do mês, os pacotes eram vendidos com o dólar a 3,09 reais – quando o índice oficial já apontava 3,50 reais. No último dia 11, a empresa baixou ainda mais a cotação, para 2,99 reais. Quem decide hoje ir ao exterior procura fechar a carteira durante a viagem. No ano passado, o paulistano que embarcava para os Estados Unidos gastava 3 810 reais, em média, entre passageme acomodação. Hoje desembolsa 2 554 reais. “Os turistas estão reduzindo a quantidade de dias que passam fora do país”, diz Viviane Piovarcsik, gerente sênior de vendas da CVC em São Paulo.

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Uma alternativa é trocar a sonhada ida ao exterior por um passeio doméstico. No Hotel Urbano, site de pacotes turísticos, a busca por destinos nacionais, com destaque para o Nordeste, cresceu 70% em julho deste ano, em comparação ao mesmo mês do ano passado. A gerente de logística Taís Zacchello viajaria com a família para Orlando em julho. Havia desembolsado 18 000 reais entre passagens, hospedagem e entrada dos parques, mas desistiu no último momento e levou a tropa para Caldas Novas, em Goiás, por 6 000 reais. “Ficou inviável”, explica. Com menos pessoas embarcando para fora do Brasil, as casas de câmbio têm apresentado queda no faturamento. Em algumas, como na 3AV, com três unidades na capital, a diminuição no movimento neste ano é de 30%. “Para quem consegue se planejar, o ideal é comprar dólares em vários momentos. Isso ajuda a conseguir uma taxa média”, aconselha o sócio-proprietário Diego Guimarães.

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O turismo não é o único setor da economia no qual o paulistano vem sendo obrigado a mudar de comportamento. Nos restaurantes em que o tíquete médio varia de 40 a 80 reais, o movimento neste ano é 10% menor, devido à crise econômica, segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes-SP (Abrasel-SP). Nessa maré adversa, estabelecimentos que trabalham com bebidas e alimentos importados esforçam-se para não repassar o aumento dos custos aos fregueses. Sócia do português Tasca da Esquina, nos Jardins, Erica Maiera diz pagar 25% a mais pelo bacalhau desde o início do ano. Para não assustar a freguesia, ela elevou em apenas 5% o prato do peixe (a versão ao forno custa 87 reais e é individual). “Não dá para simplesmente mudar o valor no cardápio e perder movimento”, afirma. Ainda assim, não foi possível impedir que os clientes passassem a gastar menos por ali. O tíquete médio na casa caiu de 120 reais para 100 reais desde maio. “Em um cenário de incerteza, o consumidor aumenta a cautela e reduz gastos”, afirma o analista financeiro Felipe Miranda, da Empiricus Research.

Outros segmentos também sentem os reflexos da flutuação cambial. “Para o empresário que lida com importados e negocia em dólar, é quase inevitável repassar a alta da moeda ao consumidor”,diz Jean Paul Rebetez, diretor da GS&MD, consultoria especializada em varejo. No mercado automobilístico, por exemplo, o aumento de preço de alguns modelos desde o início de 2015 supera 15%, segundo levantamento do site especializado Webmotors. Em janeiro, um Range Rover Evoque zero- quilômetro, da Land Rover, custava 202 000 reais. Em agosto, o modelo está saindo por 233 000 reais. Assim, a venda de carros importados caiu 29% entre janeiro e julho. No ramo de eletrônicos, a procura por smartphones também é menor. Entre abril e junho, as vendas diminuíram13% em relação ao mesmo período do ano passado. “A previsão é que caiam mais 7% nos próximos dois trimestres”, projeta Leonardo Munin, analista de pesquisa da consultoria IDC Brasil.

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Nos grandes magazines e em muitas lojas do Brás e do Bom Retiro que exibem roupas fabricadas no exterior, ocorre o mesmo problema. Nesses estabelecimentos, o custo médio subiu 10% e o movimento caiu 30% desde março.“O preço vai aumentar ainda mais nos próximos meses”, acredita Roberto Chadad, presidente da Associação Brasileira do Vestuário. Na última quarta (19), o dólar estava a 3,50 reais. Segundo especialistas, a tendência é de alta. No campo das projeções otimistas, a aposta é na estagnação da moeda em torno de 3,60 reais daqui para a frente. Há quem acredite, no entanto, em uma cotação de 4 reais para a moeda americana até o fim deste ano.

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