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OLÁ,

A hora dos relógios finos

Com design tradicional e caixas de espessura mínima, os novos modelos masculinos marcam o retorno da finesse ao pulso

Por Rosane Queiroz
Atualizado em 5 dez 2016, 18h10 - Publicado em 15 abr 2011, 17h31

Nem todos os desdobramentos da recessão econômica iniciada em 2008 foram negativos para o mercado de luxo. Que o digam, por exemplo, as empresas que atuam no segmento de alta relojoaria. Em casos como o da marca cult e independente Richard Mille, da Suíça, as vendas cresceram 22% no ano subsequente à crise. Em 2010, ela fechou as contas ainda mais no azul. Se no quesito dinheiro o apertar de cintos passou longe dos relógios de primeira, do ponto de vista estético não se pode dizer o mesmo. Em janeiro, no Salão de Genebra, ponto de encontro de lançamento das marcas mais exclusivas da indústria AAA, os modelos masculinos deram duplo sentido à palavra “fino”. A principal novidade foi o aparecimento da caixa diet — ou, como indicam os jargões dos iniciados nesse ramo, “ultra-light”, “extra-flat” ou, em bom português, extraplanos —, embalada num desenho tradicional, com direito a classudas pulseiras de couro. Vista de perfil, a espessura dessas peças é quase a de um fio de cabelo. “Ostentação, hoje, é a coisa mais out que existe”, diz Christian Hallot, da H.Stern.

A ascensão dos ultrafinos foi uma resposta, típica de períodos de recessão econômica, aos excessos dos anos anteriores, marcados por relógios cada vez mais pesadões. A indústria decidiu rever a estratégia e apostar no estilo low profile, estudando modelos mais simples. Nos extraplanos, o luxo se reduz ao essencial: movimento técnico de alta precisão, uso de metais preciosos, design clean e elegante. Sem mexidas drásticas em preços, no entanto. O Patek Philippe Calatrava, clássico dos clássicos criado em 1932, ganhou uma versão delgada que sai hoje por 54.400 reais. O modelo simples, com 7 milímetros de espessura e movimento manual — tem 44 horas de reserva de marcha —, é o preferido do embaixador da H.Stern. “A simplicidade salta aos olhos”, diz Hallot.

Os novos grã-finos começam a reluzir nas vitrines agora. Feitos a mão, podem demorar de oito meses a dois anos para ficar prontos. Fabricantes lendários como Vacheron Constantin, a mais antiga relojoaria em atividade — data de 1755 —, Piaget e Patek Philippe, pioneiros na manufatura dos extraplanos, logo acertaram seus ponteiros com o momento atual. “O extraplano resume nosso estado de espírito”, afirma Franck Touzeau, chefe do departamento de relojoaria da Piaget, em Genebra, na Suíça. Nos últimos doze anos, a Piaget desenvolveu mais de trinta movimentos, dos quais dezessete são extraplanos.

Uma busca que, na verdade, começou há mais de cinco décadas, quando a empresa desenvolveu um movimento mecânico de 2 milímetros de espessura. A inspiração para as atuais versões vem dos modelos antigos. Os primeiros calibres ultrafinos da Vacheron Constantin foram feitos no século XIX. A era dourada dos fininhos, contudo, foi o século XX, quando os relógios saltaram do bolso para o pulso — e o peso se tornou um fator crucial para o conforto dos clientes. Na década de 60 houve uma corrida pelo mais fino do mundo. O Historique Ultra-Fine 1955, de apenas 4,1 milímetros de espessura, equipado com o movimento mecânico a corda manual de 1,64 milímetro (atualmente “o mais fino do mundo”), é um dos modelos reeditados em 2010 pela Vacheron Constantin na coleção “Historiques”.

A Cartier anuncia para junho a chegada do Cartier Ballon Bleu Extra Flat, com 7,05 milímetros de espessura e acabamento de ouro rosa — outro revival forte, aliás, bem anos 50. O Zenith Ultra Thin, por sua vez, possui movimento automático que cabe em uma caixa de 7,6 milímetros. Coisa que o Audemars Piguet Extra Thin, modelo 2011, consegue colocar em um espaço de 6,7 milímetros, e o Piaget Altiplano, ícone da marca desde 1998, reeditado em 2010, faz em uma caixa de 5,25 milímetros — o movimento de carga automática mais fino do planeta. “Trata-se de uma proeza”, deslumbra-se o especialista César Rovel, do site Relógios e Relógios. O espanto resulta do fato de que a maioria dos mecanismos dos extraplanos possui corda manual ou um microrrotor embutido. “Complicações adicionais engordam a caixa”, resume Rovel.

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Em outras palavras, o tamanho e a espessura dos componentes fazem com que o extraplano, portanto, seja mais difícil de montar. “Isso porque o número de componentes necessários para o perfeito funcionamento do relógio continua o mesmo. A complexidade está em produzir o mecanismo miniaturizado e, ainda assim, manufaturado”, explica Touzeau, da Piaget.

A resistência dos ultrafinos à água é de cerca de 30 metros, o que faz com que marcas esportivas, como Rolex, hesitem em aderir à tendência. “A proposta dos ‘extrachatos’ é mais social”, avalia Luiz Carlos Granieri, concessionário da Rolex no Brasil. Para David Zilberman, sócio da Sara, concessionária de marcas como Audemars Piguet e Jaeger-LeCoultre, o perfil dos amantes dos ultrafinos é bem definido. “Principalmente médicos, advogados, ou aqueles que se vestem de forma clássica”, pondera ele. Para essa elite, “extrachatos” estão longe de virar sinônimo da palavra tédio. “Significa, sim, o retorno da elegância”, diz o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, dono de um clássico Vacheron Constantin e de um Omega military. “Relógio é relógio, afinal — não é munhequeira.”

 

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