“Vamos ampliar a presença da Virada na periferia”, diz secretário da Cultura e Economia Criativa
Totó Parente dá detalhes exclusivos sobre projetos da pasta e comenta polêmicas, como a demolição do Teatro Vento Forte

Com um sorriso largo, o secretário de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, Totó Parente, 58, recebeu a reportagem de Vejinha em seu gabinete, no 8º andar do Edifício Sampaio Moreira, no centro. Nas paredes, quadros de artistas renomados, como Tomie Ohtake (1913-2015), dividem espaço com um grande mapa dos equipamentos culturais da prefeitura. É uma amostra do tamanho do desafio que o mato-grossense enfrenta há pouco mais de 100 dias, após aceitar o convite do prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB) e assumir seu primeiro cargo de gestão cultural. A seguir, ele dá detalhes exclusivos sobre a Virada Cultural, que acontece em 24 e 25 de maio, e outros projetos, além de comentar polêmicas recentes.
Há quanto tempo você vive em São Paulo e em qual bairro mora?
Nasci em General Carneiro, Mato Grosso, em uma reserva indígena. Meu pai era telegrafista dos Correios, a minha família é uma mistura, sou o suprassumo do Brasil. Vim para São Paulo pela primeira vez em 1990, no movimento estudantil; fui presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) durante o impeachment do Collor. Namorei, casei, constituí família, estudei aqui e depois trabalhei fora por um tempo. Em 2020, voltei definitivamente. Moro nos Jardins, na Peixoto Gomide.
A Virada Cultural faz vinte anos. O que a prefeitura está preparando?
Estamos nos espelhando muito no que foi o Carnaval neste ano, um show de civilidade, organização, segurança e limpeza. Queremos repetir esse padrão de qualidade. Vamos ampliar a presença da Virada na periferia — de doze para quinze palcos. Será, sem dúvidas, a maior Virada da história. O Sesc vai abrir vinte unidades com programação especial, e o grupo Paulista Cultural, que já tinha participado de maneira mais tímida, virá com força total, com a Japan House, o Masp, o IMS, o Centro Cultural Fiesp… A Virada nasceu com a proposta de ocupar mais o centro, mas, há cerca de dez anos, o tema é a descentralização.
Essa ideia continua na sua gestão?
Sim, a Virada será descentralizada. Mas também vamos retomar o espírito de um passeio no centro, que terá programação 24 horas. Vamos ter o palco no Vale do Anhangabaú, com grandes atrações, e você vai poder sair de um show e caminhar até uma roda de capoeira, ou ver uma apresentação de MPB, de funk ou gospel — um circuito (a pé) todo sinalizado para as pessoas percorrerem no triângulo central.
Tive o desafio de, primeiro, me apresentar. Eu era, e espero que não seja mais, uma incógnita. Hoje me sinto quase um ‘culturete’, da casa
Sobre quais outros projetos da secretaria você pode comentar?
No segundo semestre, faremos o Saudosa Maloca, que irá homenagear os grandes nomes vivos do samba de São Paulo, na Vila Itororó. Também teremos um festival circense-gospel, o Circuito Seja Luz — evento padrão Cirque du Soleil com canções gospel.
O senhor está no cargo há pouco mais de três meses. Qual o diagnóstico desse início de gestão?
Parecem três anos para mim. Eu não tinha um fio de cabelo branco, agora começaram a aparecer muitos. Sou uma pessoa da política, mas nunca tinha enfrentado esse desafio da cultura. Foram os meses mais desafiadores da minha carreira. Em uma megalópole como São Paulo, a questão territorial é muito forte. O jovem da Zona Leste curte o som da ZL, claro que ele ouve qualquer tipo de música, mas dá valor à sua região. Tive o desafio de, primeiro, me apresentar. Eu era, e espero que não seja mais, uma incógnita. Hoje me sinto quase um “culturete”, da casa.
Como você rebate as críticas que recebe por nunca ter ocupado um cargo na cultura?
Nunca rebati, expliquei o que já fiz e o que acho que deveria ser feito pela cultura de São Paulo. A cidade já é e tem tudo para se firmar ainda mais como um dos maiores polos culturais do planeta. O poder público, o setor privado e os artistas, juntos, podemos fazer um jogo em que São Paulo ganhe.
O Teatro Vento Forte, no Parque do Povo, foi demolido, sem a aprovação do Condephaat, em fevereiro. Nas suas redes, você confirmou que a prefeitura vai “reconstruir um espaço cultural” ali. O projeto de reconstrução surgiu após a demolição?
Tem que esclarecer que a casa foi demolida com ordem legal. Ali, foi o Teatro Vento Forte, mas há alguns anos tinha perdido um pouco o seu sentido, desde o falecimento do proprietário, o Ilo (Krugli, fundador). Estavam acontecendo festas, venda de drogas e bebidas alcoólicas. Fomos procurados por vários artistas e o que queremos é manter. Começamos uma discussão, ainda que muito preliminar, com as pessoas que viveram e trabalharam lá, para construir um projeto.
Também em fevereiro, artistas de rua relataram que foram impedidos pela PM de tocar na Avenida Paulista. Como a prefeitura pensa em coordenar a fiscalização com a manutenção da arte de rua?
Há uma diferença entre artistas de rua e eventos na rua. Naquele dia, aconteceu um evento de samba em que foram 4 000 pessoas, e nós temos um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público que impede essa programação na Paulista. Os artistas estão se organizando, em discussão com a associação de moradores, e terão seu espaço. Uma das minhas prioridades é trazê-los para perto e valorizar a cultura dos territórios. Um exemplo: na Virada de 2024, escolheram para um determinado palco a Sandra Sá, uma cantora maravilhosa. Foram 74 pessoas. Por quê? Ela não comunica com aquele lugar. Recentemente, fizemos um festival de hip-hop com dois artistas identificados com a Cidade Tiradentes e o Grajaú. Compareceram multidões.
Ao menos 60% do repasse da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) deve ser executado até julho. Por que isso ainda não foi feito? E o plano de ação inclui chamamentos para OSCs (Organizações da Sociedade Civil) que representam mais que 5% do valor total, que é o limite para empresas terceirizadas. O que você tem a dizer sobre isso?
O MinC estabeleceu esse prazo para aferição anual da execução da política, ou não seria recebido um novo valor. Nós estamos repassando os recursos para OSCs e vamos cumprir todo o programa que foi discutido em audiência pública, de contratação de shows, reforma de equipamentos, festivais, entre outros. Esses 5% da PNAB serão mantidos dentro do limite. O valor a mais, que vamos fazer a título de compensação administrativa, será pago com recursos da SMC. Não será gasto nenhum centavo da PNAB para viabilizar essa nova proposta.