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Favela Galeria vende obras para arrecadar cesta básica em São Mateus

Val Opni, um dos expoentes de movimento cultural que colore ruas da periferia da Zona Leste, direciona seu trabalho para ajudar comunidades

Por Guilherme Queiroz
Atualizado em 27 Maio 2024, 20h16 - Publicado em 14 Maio 2021, 06h00
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  • A campainha é na base do gogó na sede da Favela Galeria, localizada em São Mateus. Em tempos de pandemia, o mexer impaciente de pés dos que aguardam o atendimento de algum integrante do espaço não costuma ser por obras de arte: a fome bate na porta. Espaço gerido pelo OPNI, entidade que reúne lideranças culturais, o ateliê com obras dos grafiteiros Valdemir Pereira Cardoso, 38, o Val, e Carlos Moreira dos Santos, 37, o Toddy, se tornou centro de distribuição de alimentos para a comunidade que vive no entorno: desde o ano passado, mais de 40 toneladas de cestas básicas passaram por ali.

    A meta é sempre dobrar a meta: na tentativa de angariar mais recursos, 234 obras de Val, parte da Exposição Vida, são vendidas pelas redes sociais para a arrecadação de alimentos. “A gente faz sem poder”, diz Val, que conta que o aluguel do sobrado do ateliê está atrasado há dez meses. Os quadros custam entre 60 e 3 000 reais e foram feitos desde o início da pandemia. “Mas não é só dinheiro, aceitamos o valor equivalente em doações de alimentos”, explica o artista Ezequias Jeiel, 34, o Catata, que gerencia o espaço.

    Paredes da Favela Galeria. Estão pintadas com grafites, que retratam pessoas negras e favelas
    Paredes da Favela Galeria, em São Mateus: 200 grafites no bairro (Alexandre Battibugli/Veja SP)

    Com técnicas de pintura que envolvem o uso de caneta esferográfica, aquarela e spray, retratam moradores das favelas da região e personalidades como os rappers Dexter, Mano Brown e a cantora Sandra de Sá. Com os recursos, a expectativa é continuar o atendimento das 400 famílias que estão cadastradas para receber cestas básicas na Favela Galeria.

    O trabalho vem de uma união com o coletivo São Mateus em Movimento e o Complexo Jardim Elba, parte da Central Única das Favelas (Cufa), que se uniram para a arrecadação e distribuição dos alimentos, em um grupo que reúne cerca de trinta pessoas. “Muitos dos nossos voluntários são artistas da região, pessoas do cinema, arte visual, que hoje estão sem trabalho nenhum. Também ajudamos eles, alguns estão em situação difícil”, diz Val.

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    “A gente tem uma prioridade local, mas nós já distribuímos alimentos para Guaianases, Perus e Itapecerica da Serra”, explica o ator e rapper Fernando Macario, 42, um dos voluntários, que trabalhou em filmes como Ensaio sobre a Cegueira (2008) e em novelas da TV Globo. “Eu ajudo na logística e também tenho um auxílio, graças a Deus não estou passando fome, o resto a gente dá um jeito”, diz Tatiane Coelho, 37, voluntária e desempregada há dois anos. “(A pandemia) leva a um transtorno psicológico: (a favela) precisa saber que alguém corre por eles”, diz Macario.

    Lado de uma casa pintado com um grande grafite de uma baleia bem colorida
    A baleia-jubarte: por Sebad, Haio, Ale 140, Ivan Hua Chuen, Gamão Raxa Kuka e Miragem (Guilherme Queiroz/Veja SP)

    O grupo OPNI surgiu em São Mateus, em 1997. Hoje com Val e Toddy como figuras principais, a entidade participou de exposições no exterior, realizou trabalhos para grandes marcas e, apesar de ter rodado o mundo, segue na Zona Leste: é impossível não notar a presença do grupo em São Mateus, em especial na Vila Flávia, bairro onde fica a Favela Galeria. Uma caminhada pelas ruas da redondeza leva ao descobrimento de cerca de 200 grafites.

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    Obras do OPNI e também de convidados como Bobi, Magrela e Nunka estampam os muros das casas do entorno. A poucos metros do ateliê, falta saneamento básico, mas o córrego com esgoto a céu aberto que passa por uma viela ganhou uma enorme e colorida baleia- jubarte, que dá esperança de dias melhores. “A gente alimenta o povo não só com alimento, mas com cultura”, explica Macario.

    Perto da Favela Galeria fica a sede do São Mateus em Movimento, que em tempos não pandêmicos oferece aulas de capoeira, música e reforço escolar em um local que conta com uma organizada biblioteca de gibis, com uma seção para cada super- herói. “É uma ação ombro a ombro com a quebrada. Somos mais cobrados que políticos, porque a gente faz acontecer”, finaliza Val.

    PARA COMPRAR AS OBRAS DE VAL OPNI: @VALOPNI, @OPNI97, @FAVELAGALERIA

    Quadro em cavalete. Pintura mostra uma menina e três meninos negros sorrindo. Folhas rodeiam eles e há casinhas atrás
    A obra Vida 2 (à esq.): à venda por 3 000 reais (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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    Publicado em VEJA São Paulo de 19 de maio de 2021, edição nº 2738

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