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OLÁ,

Uma fábula de Páscoa

A Páscoa relata, na verdade, o processo de nossa completa regeneração

Por Pere Sánchez Ferré
Atualizado em 10 abr 2023, 10h17 - Publicado em 8 abr 2023, 10h15

Como poderíamos interpretar o Ciclo Pascoal, a fim de entender seu significado mais profundo, gnóstico, cabalístico, hermético? E não apenas entende-lo, mas vive-lo? Oras, poderíamos começar por recuperar seu sentido original e captar o espírito que o inspirou…

A Páscoa relata, na verdade, o processo de nossa completa regeneração. Começa com a Quaresma, quarenta dias para emagrecer, isto é, para humilhar nossa razão, nosso ego, e nos pormos totalmente nas mãos de Deus, a fim de que seja Ele o protagonista de nossa vida. Um tempo para nos alimentarmos de palavras sagradas, de discursos edificantes, de bons pensamentos, e não do ruído deste mundo e seu caos sempre renovado. Um tempo para abandonar as múltiplas ocupações vãs que distraem da única coisa importante, que é nossa vida espiritual.

É o que ocorreu a uma pessoa que, na Semana Santa – depois de cumprir rigorosamente a Quaresma – foi a Jerusalém com o objetivo de reviver o que tinha acontecido há mais de dois mil anos. Uma vez ali, de repente – oh, maravilha! – viu-se montado num jumento puro e, para seu assombro (era Domingo de Ramos), entrou triunfante na bela Jerusalém, a cidade de Deus reservada aos muito magros, aos muito puros. Era um asno muito manso, branco, enviado diretamente pelo Altíssimo.

E o extraordinário não cessava. Chegou a quinta-feira santa e, sem saber como, viu a si mesmo tendo seus pés lavados por Cristo, e ele mesmo lavava os pés a outros, pois entendeu que o dia do amor fraterno consistia também em transmitir o que tinha sido recebido. Mistério atrás de mistério.

A aventura parecia interminável, além de fantástica, exultante e incrível. Para cúmulo de seu assombro, encontrou-se sentado na mesa com Cristo e seus doze apóstolos; estava participando do banquete sagrado da Santa Ceia. Ali comeu um corpo e um sangue divinos como se fossem pão e vinho deste mundo. Completamente transmutado, recordou um verso do poeta Francisco de Quevedo: «Com os doze ceei; eu fui a ceia».

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Porém ainda havia mais, muito mais, embora só pudesse compreender que ele era a cruz onde gemia aquele que haveria de ressuscitar ao terceiro dia. E efetivamente, ressuscitou nele graças ao dom divino que tinha recebido por ter desejado viver o mistério supremo da vida, a paixão, morte e ressurreição do Cristo. O Todo-poderoso tinha criado uma Páscoa só para ele.

E igualmente extraordinário foi que, na realidade, não tinha se movido de seu pequeno apartamento no centro da ruidosa e agitada cidade.

Então abriu ao acaso o livro da regeneração, A Mensagem Reencontrada, que lhe deu este versículo:

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«A ressurreição recomeça, e já recomeçou, como uma nova promessa de Deus. Eis um sinal maravilhoso para aqueles que compreendem». (XXVI, 23)

Portanto, tinha estado realmente na verdadeira Jerusalém. E nela permanecerá para sempre em corpo glorioso ressuscitado.
………..

O escritor e historiador catalão Pere Sánchez Ferré, autor desse conto, chega a São Paulo em 12 de Abril para lançar a nova edição do livro A Mensagem Reencontrada, na Livraria da Vila, em Pinheiros. No dia seguinte fala do Segredo das Fábulas e do Conto de Cinderela, na Livraria Nove Sete, na Vila Mariana.

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