No filme O Mágico de Oz, de 1939, Dorothy, a mocinha do Kansas, dividia as atenções do público com Totó, até hoje um dos cãezinhos mais famosos do cinema. Na vida real, a mascote chamada Terry era fêmea e tinha 6 anos. Durante as filmagens, ela foi pisoteada acidentalmente por um dos atores, que interpretava um guarda da bruxa do mal, e quebrou a pata. Precisou ser substituída por um dublê durante quinze dias. Ao final das gravações, que rendiam ao seu dono 125 dólares por semana, esteve perto de ser adotada pela estrela Judy Garland. O treinador, Carl Spitz, porém, não abriu mão de Terry, já que a havia adestrado para outras sete produções no passado e a treinaria para outras sete antes de sua morte, em 1945. Ela foi quase tão estrela quanto os outros atores do clássico e chegou a participar da estreia do longa em Hollywood, com direito a tapete vermelho.
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Sage, fêmea de 3 anos, e Fergus, macho de 5, estão indo pelo mesmo caminho. Da raça cairn terrier, igual à da cachorrinha do filme, a dupla se reveza nas cenas do musical O Mágico de Oz, que, após uma temporada de quatro meses no Rio de Janeiro no ano passado, estreia no Teatro Alfa na sexta (22). “Eles são a alma do espetáculo”, afirma Charles Möeller, que divide a direção da montagem com Claudio Botelho e adora mimá-los. Para não se cansarem, em uma mesma sessão, os dois peludos executam os números que mais se adaptam a cada um. Eles têm até camarim exclusivo, com o nome Totó em uma placa na porta. Ali, descansam em caminhas e contam com uma pequena cadeira de balanço para relaxar. Uma caixa guarda brinquedos, lenços umedecidos, coleiras estilosas…
Ambos estão acostumados a ocupar o centro das atenções. São animais que concorrem em exposições e possuem no currículo diversos prêmios internacionais. Para o musical, eles precisaram enfrentar uma mudança de visual que os deixou parecidos com Totó, que é um cão de fazenda, mais rústico, com os pelos desgrenhados. Dispensaram, então, o laquê tradicional das competições e começaram a ser tosados semanalmente com uma navalha especial, em um penteado irregular. Todo o procedimento é realizado no canil Hampton Court Kennel, localizado em Itatiba, a 89 quilômetros da capital, comandado pelo empresário Victor Malzoni Jr. Lá também fica Donatella, cadela que participou da peça no Rio de Janeiro, mas que, por questões logísticas, só será chamada para o Teatro Alfa em caso de algum problema com os outros animais. Durante a semana, Sage e Fergus ficam no interior. Com o início da temporada, permanecem na capital de sexta a domingo para subir ao palco. Por aqui, dormirão em um quarto de uma clínica veterinária, com ar condicionado, supervisão 24 horas e todo o conforto.
Inteligentes, embora um pouco rebeldes, esses cairn terriers devem muito desua obediência exemplar à treinadora In-Coelum Perdigão, mineira radicada no Rio que os chama de “meus nenês”. Diz ela: “Por mais que eles costumem fazer o que querem, nunca pensei em usar outra raça que não a do filme, pois queria que o público se identificasse”.Uma das principais profissionais da área, com trabalhos na Austrália, no Canadá e nos Estados Unidos, a treinadora adestrou animais para novelas, comerciais,peças de teatro e atrações de televisão, a exemplo da abertura do seriado TV Colosso. Passaram pelas suas mãosdesde ovelhas até um peru. “Usando afeto, brinquedos e comida, dá para tiraro que quisermos de qualquer bicho”, explica. “Sou adepta de uma técnica que prega a naturalidade em cena.”