O centenário Theatro Municipal prepara uma agenda cheia de espetáculos para o ano de 2024. Nesta extensa programação, que inclui sete óperas, dezenas de concertos e espetáculos de dança, as mulheres são protagonistas. Ganham destaque na lista de compositores.
“Tivemos uma grande preocupação em sistematizar essa participação das compositoras ao longo de todo o próximo ano. Isso é um marco nesses 113 anos do teatro”, diz Andrea Caruso Saturnino, diretora-geral da instituição.
A programação, que abrange os seis corpos artísticos permanentes — o Balé da Cidade, o Coral Paulistano, o Coro Lírico, a Orquestra Experimental de Repertório, a Orquestra Sinfônica e o Quarteto de Cordas —, foi pensada junto de um comitê curatorial formado pelo intelectual indígena Ailton Krenak, a professora Ana Teixeira, a educadora Bel Santos Mayer, a cantora Gabriella Di Laccio e a violonista Elodie Bouny.
“A ideia desse comitê sempre foi trazer, de fato, uma diversidade para dentro do teatro, no nosso cotidiano e nos carros-chefes da programação”, completa Andrea.
Até mesmo nas histórias das óperas da temporada, as mulheres estão em evidência, como em Judith’s Gaze (O Olhar de Judith), com récitas em julho. Trata-se de uma montagem comissionada pelo Municipal em coprodução com o Folkoperan, da Suécia, onde estreou em 2023, e o Muziektheater Transparant, da Bélgica.
Composta pela sueca Malin Bång e com libreto da sul-coreana Mara Lee, a história mostra o ponto de vista feminino do clássico O Castelo do Barba Azul, dos húngaros Béla Bartók e Béla Balázs — as duas versões da história, originalmente protagonizada por um duque que assassina suas esposas, serão apresentadas nas mesmas noites, em formato double bill, com direção cênica do belga Wouter Van Looy.
Do total de sete óperas encenadas em 2024, seis delas são inéditas, com novos elencos. No repertório dos concertos do próximo ano, haverá obras de, pelo menos, dez compositoras do Brasil, Cuba, Estados Unidos, França, Áustria e Finlândia, executadas pela Orquestra Sinfônica Municipal (OSM) e pelo Quarteto de Cordas da Cidade — o conjunto também formará quintetos ao longo da temporada com quatro pianistas brasileiras, Erika Ribeiro, Rubia Santos, Karin Fernandes e Martina Graf.
“Temos feito programações muito fortes em São Paulo. E o Theatro Municipal tem o melhor público do Brasil, porque reúne pessoas de todas as idades e camadas da sociedade”, afirma Roberto Minczuk, regente titular da OSM.
Devem chamar a atenção do público nesta temporada o concerto de aniversário da capital paulista, que homenageia os 200 anos do compositor austríaco Anton Bruckner, em janeiro; o espetáculo concebido pelo artista plástico paulistano Nuno Ramos com trilha sonora do filme Terra em Transe (1967), do cineasta Glauber Rocha, em outubro, e, a apresentação da ópera La Bohème, de Giacomo Puccini, em formato concerto, em dezembro.
A dança também terá o seu espaço no calendário com o Balé da Cidade, na primeira temporada de direção artística do uruguaio Alejandro Ahmed, do grupo Cena 11. O foco será em coreografias latino-americanas, com autoria majoritariamente feminina.
“Em diversas áreas da arte, o domínio é dos homens. É importante pensar uma instituição pública como um objeto de dar voz a lugares que, de alguma forma, achamos necessários”, diz o bailarino. “Queremos criar uma identidade, dentro desse elenco grande e diverso, que reflita São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo. Temos essa responsabilidade pública e artística de estarmos sintonizados com questões que atravessam a cidade”, acredita Ahmed.
Publicado em VEJA São Paulo de 17 de novembro de 2023, edição nº 2868