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Supla: “Eu inventei a minha profissão”

O astro punk paulistano fala sobre seu cabelo, seus bordões, sua música e sua cidade, fonte de inspiração que atravessa os quarenta anos de carreira

Por Tomás Novaes
28 nov 2025, 08h00 •
Supla
Supla, 59: patrimônio paulistano (Masao Goto Filho/Veja SP)
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  • Há quarenta anos, a primeira edição de VEJA SÃO PAULO anunciava: “Supla, diferente de tudo o que está aí”. Muito mudou desde a entrevista de 1985 — menos o cabelo platinado e as roupas extravagantes. Em um de seus restaurantes favoritos, o Almanara do centro, o cantor, compositor e ator paulistano recebeu a reportagem para falar sobre passado, presente e futuro. Ele vive há quinze anos a poucos passos dali, em uma esquina no coração da República.

    Desde os anos 80, traça seu caminho na música, com as bandas Tokyo e Psycho 69, a dupla Brothers of Brazil, com seu irmão João, ou solo. Após se aventurar no universo punk de Nova York, onde viveu por seis anos, deixou sua marca na televisão brasileira em programas como o reality Casa dos Artistas (2001) e hoje alcança gerações mais novas com seu carisma nas redes sociais.

    Em julho, lançou seu vigésimo disco, Nada Foi em Vão, com a banda Os Punks de Boutique. Obs.: se, no papo a seguir, encontrar alguma palavra em inglês, não se preocupe, Supla traduz prontamente.

    De onde veio esse cabelo?

    Quando criança, tinha cabelo loiro e liso. Com o surf, vendo os surfistas parafinados, comecei a pintar de branco. Quando montei o meu estilo na música, era uma mistura da elegância, meio Fred Astaire e David Bowie, com uma coisa meio punk, Billy Idol.

    E o seu apelido, Papito?

    Vem do meu síndico em Nova York, Jerry, que faleceu. Ele me chamava assim. Eu era uma espécie de prefeito do Lower East Side, parte bem porto-riquenha de Manhattan. Vivi lá de 1994 a 1999. Eu era muito querido por eles, que me viam passando de moto com uns punks loucos, me chamando de Papito. Adaptei e comecei a chamar todo mundo assim.

    Como nasceu o bordão “C’mon kids”, que você usa sempre?

    No meu inconsciente, veio dos Beatles, da música Please Please Me. Sempre amei eles.

    O que o título do seu disco mais recente, Nada Foi em Vão, representa para você?

    De tudo que você passou até agora, nessa jornada, nada foi em vão — das coisas ruins e boas. É nisso que acredito.

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    Há exatos quarenta anos, você lançava as primeiras músicas com a banda Tokyo. Foi uma virada na sua vida?

    Foi uma das primeiras vezes que comecei a sentir um pouco o gosto da fama. Mas a virada veio logo depois, quando lançamos pela gravadora Epic. Comecei a ganhar dinheiro, ainda estava na faculdade, morando com os pais. Resolvi trancar, o que não recomendo. Mas foi uma oportunidade que eu mesmo inventei, não veio do meu pai, da minha mãe. Eu que inventei a minha profissão.

    Moldar esse caminho próprio foi penoso em algum sentido?

    Não posso comparar a minha vida com a de outra pessoa, que seja até negra ou more em uma periferia. Eu tive as oportunidades. Nunca escondi isso, sei da diferença. Mas também acredito no meu valor. Até como jogador de futebol, antes da música, eu entortava um monte de gente (risos). É importante ter essa noção, porque as pessoas merecem caminhar com as próprias pernas. Não vou ficar reclamando dos meus pais. Eu poderia ser político — não sei se seria eleito, talvez só por causa deles. Mas preferi seguir my own path, o meu próprio caminho.

    1° edição Vejinha
    Há quarenta anos: entrevista com Supla na primeira Vejinha (Acervo/Veja SP)

    “Não vou ficar reclamando dos meus pais. Eu poderia ser político — não sei se seria eleito, talvez só por causa deles. Mas preferi seguir meu próprio caminho”

    Supla

    E você conseguiu.

    Acredito que sim. Os shows que a gente faz… Carisma é uma coisa que você nasce com, não dá para aprender. Fui para Nova York por isso, para ver se eu era louco mesmo. No sentido de tocar nos lugares hardcore, ganhar o respeito daqueles caras e bandas, como Agnostic Front, Madball, Bob Gruen. Até o próprio Billy Idol elogiou o meu show.

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    Por que gosta de morar no centro?

    Me mudei para cá porque gosto de ter contato com as pessoas. Acho importante estar presente. Todos os protestos que acontecem, seja lá do que for, passam na frente de casa. Você fica atento ao que está ocorrendo. E acabei adaptando isso como minha fonte de inspiração. No álbum Supla e os Punks de Boutique (2023), tem a música Ratazana de iPhone (sobre furtos de celulares). Me inspiro nas coisas boas e negativas da cidade.

    Um pilar do rock é a juventude. Você acredita que a energia jovem pode independer da idade?

    Lógico que não tenho mais 18 anos. Vi pessoas falarem que o rock não faz você envelhecer. Mas teve gente que abusou demais e morreu, como Janis Joplin, Jim Morrison e Jimi Hendrix. É até presunçoso acreditar que vai ser jovem o resto da vida. Não é verdade. O que te mantém jovem é cuidar da mente e da saúde. Não dá para fugir.

    No ano que vem você faz 60. Como está a sua relação com o futuro?

    Olha, vou tentar fazer o máximo que puder. De arte, de música, de cinema, do que aparecer. Quando a gente morre, o que fica é isso, as canções, os clipes.

    E como cuida do corpo? Na entrevista de 1985, disse que gostava de correr.

    Diminuí a corrida, porque tenho dois pinos na perna, desde 1996. Dói muito, desde aquela época do Rockgol, da MTV. Mas mantenho a forma física com fisioterapia. Preciso estar bem para os shows, sempre entrego 100%.

    Teve algum receio de o seu lado mais engraçado, que viralizou nas redes sociais, ofuscar sua história na música?

    Não, nunca. Porque, enquanto coloco isso, também mostro o meu som. São coisas que caminham juntas. Até pensei em parar com isso de falar inglês, achei que podia ficar cafona. Mas o pessoal adora. Tem gente que diz que aprende mais inglês comigo do que em curso da internet, porque dou a tradução imediata. Pensei em parar, mas não seria eu. Eu sou assim — e as pessoas abraçam.

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    Publicado em VEJA São Paulo de 28 de novembro de 2025, edição nº 2972.

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