Tudo começou como uma brincadeira na faculdade. Em 2005, dois estudantes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) se juntaram para fazer um curta de animação como trabalho de conclusão de curso, chamado Para Chegar até a Lua.
Acabou que a obra alavancou a carreira dos universitários ao seleto grupo dos principais estúdios no país. É a Split Studio, empresa criada formalmente em 2009, que produz hoje, com 120 funcionários, animações para as séries Turma da Mônica, Hello Kitty e Rick and Morty, além de outros trabalhos para clientes como Cartoon Network, Disney Junior, Instituto Ayrton Senna e Canal Futura.
Eles participaram até da criação de O Menino e o Mundo, dirigido por Ale Abreu, que foi nomeado ao Oscar de 2016 na categoria melhor filme de animação.
Para Guille Hiertz, produtor-executivo e cofundador do estúdio, um dos diferenciais da Split é a valorização da cultura brasileira como um ativo no mercado internacional. “Uma meta que nós temos é mostrar como o produto brasileiro pode ser competitivo”, afirma. “Não dá para competir com a Pixar hoje, mas quem sabe daqui a cinquenta anos…”
Essa abordagem pode ser vista no projeto mais recente da empresa, que também marca o início da aposta em um novo segmento: o Entre as Estrelas, primeiro game autoral do estúdio.
O jogo 2D de aventura conta a história de duas irmãs indígenas que vivem uma jornada. Elementos da cultura dos povos originários — mais especificamente dos Kadiwéus, no Pantanal — estão presentes na narrativa, cujo roteiro é chefiado por Graciela Guarani, uma mulher indígena. “É uma maneira de humanizar quem sempre foi historicamente desumanizado”, comenta.
A primeira etapa da produção foi financiada por uma campanha de crowdfunding, que arrecadou 270 000 reais, dos quais 40 000 serão doados a cursos de formação para indígenas interessados em trabalhar no setor. A previsão de desenvolvimento do jogo é de dois anos.
Publicado em VEJA São Paulo de 15 de março de 2023, edição nº 2832
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