SP-Arte Rotas 2025: galerias, artistas e obras da quarta edição da feira de arte
Antiga Rotas Brasileiras muda de nome para abarcar galerias da América Latina e estreia nova seção curada

Após três anos, Rotas Brasileiras passa a se chamar SP-Arte Rotas e abre sua quarta edição na quinta (28), no espaço Arca, na Vila Leopoldina. A mudança não foi à toa. A feira amplia seu escopo para receber galerias da América Latina — neste ano, Isla Flotante, da Argentina, e Xapiri Ground, do Peru. “Expandir os diálogos com os nossos vizinhos vai ampliar as leituras feitas pelo público. A ideia do Rotas é convidar as galerias a pensar fora da caixa, apresentando solos, conversas entre gerações, técnicas e linguagens e revisitando artistas históricos sob novas perspectivas. Trazer uma camada multicultural aumenta essas possibilidades”, afirma a diretora Fernanda Feitosa. Enquanto a galeria portenha vai estabelecer um diálogo entre a suíça naturalizada brasileira Mira Schendel (1919-1988) e a argentina Rosario Zorraquín, a peruana traz um solo de Gerardo Petsaín Sharup, artista de ascendência indígena Wampís. Serão 65 expositores, entre galerias, museus e projetos especiais, de doze estados brasileiros.

Outra estreia desta edição é a seção curada Transe, projeto de Lucas Albuquerque, organizada em torno da tendência da não figuração. “É um duplo negativo: nem abstração, nem figuração”, explica Lucas. “Houve um momento muito condicionado da figuração em relação à representatividade. Isso acabou sendo um lugar de clausura para os artistas, sejam eles negros, indígenas ou brancos, no sentido de que há uma demanda para que determina dos corpos falem sobre determina das coisas. Então, artistas antes condicionados a esse lugar têm optado por essa não categorização como expansão da poética.” A mostra reúne trabalhos inéditos de cinco artistas: os paulistas Caio Carpinelli e Marina Woisky, a goiana radicada no Recife Marlan Cotrim, a argentina Emilia Estrada, que vive no Rio de Janeiro desde 2014, e o português Fernão Cruz. O grupo fez residência artística em um ateliê no Campos Elíseos durante um mês para produzir as obras, com acompanhamento de Lucas.
O projeto é um passo da feira em direção a um caminho mais curatorial, sem perder o foco comercial, trajetória seguida por outros eventos internacionais do tipo, como ARCO, em Madri e Lisboa, e Frieze, criado em Londres e realizado em outras cidades. Nesse mesmo sentido, o curador do Malba, Rodrigo Moura, retorna como diretor artístico pelo segundo ano. “O Brasil tem uma posição sólida no contexto regional do mercado de arte e, olhando globalmente, está num ano espetacular, tanto com uma reconsideração da história da arte do país, quanto com a circulação de artistas contemporâneos internacionalmente”, avalia. No Mirante, espaço curado por Moura destinado a obras de grande escala, o público poderá conferir trabalhos de dezenove artistas. “Teremos tanto obras saídas diretamente do estúdio, como de Alexandre da Cunha e Ana Prata, até peças históricas de Cildo Meireles, Shoko Suzuki, Amilcar de Castro e Norberto Nicola”, adianta o curador.

Moura aponta um tema recorrente entre as galerias neste ano: o erotismo. A carioca Flexa traz um estande inteiramente debruçado sobre o tema, com obras de Adriana Varejão, Tomie Ohtake (1913-2015) e Tunga (1952-2016), entre outros. A Galeria Vermelho exibe a série A Sônia (1971), em que Claudia Andujar fotografa uma modelo nua. O espaço também revela a primeira série da fotógrafa desde 2001, O Voo de Watupari (1975-2025). As obras dialogam com outras de Carmela Gross. Na Gomide&Co, mãe e filha, Teresinha e Valeska Soares, abordam o desejo. A MaPa Foto, que debuta na feira, exibirá imagens com recorte sensual de nomes como Alair Gomes (1921-1992) e Otto Stupakoff (1935-2009). Outra estreante, Janaina Torres traz um solo de sua nova representada, Deborah Paiva (1950-2022). Outros solos incluem o baiano Marepe, na Luisa Strina; o paulistano Tito Terapia, na Galatea; e Helena Carvalhosa, em plena produção aos 87 anos, na Marcelo Guarnieri.
Dentro da coletiva Jardim da Arte, a Frente exibe Poinsettia, de Andy Warhol. A Cave, aberta no ano passado em Fortaleza (CE), traz obras de Charles Lessa, Jane Batista e Navegante. De lá também, a Galeria Leonardo Leal mostra trabalhos de oito jovens artistas. No elenco de galerias estão ainda a goiana Cerrado, a baiana Paulo Darzé e a paulistana Almeida & Dale, que vai destacar Heitor dos Prazeres, Lidia Lisbôa e Maxwell Alexandre. “E projetos especiais como o Jalapoeira Apurada, de artesãs quilombolas do Jalapão que apresentam luminárias escultóricas de capim-dourado; e o Novos para Nós com a curadoria O Popular É Pop, que tateia possíveis encontros de nomes da chamada arte popular, como Mirian Inêz, J.Borges e Gilvan Samico, com a pop art”, destaca Fernanda. O evento é coroado com uma programação de bate- papos no Palco SP-Arte, por onde vão passar nomes como Bob Wolfenson, Karola Braga, Rebeca Carapiá e Manauara Clandestina. ■
Arca. Avenida Manuel Bandeira, 360, Vila Leopoldina. Qui. (28), 13h/20h. Sex. (29) e sáb. (30), 12h/20h. Dom. (31), 12h/19h. R$ 100,00. sp-arte.com.
Confira mais obras que estarão em cartaz na quarta edição da SP-Arte Rotas

Rebecca Sharp, São Paulo. Mar de Fogo e Luz. Clitóris Estelar (2025), projeto solo na Martins & Montero.

Charles Lessa, Ceará. Eu Encontrei Deus e Todos os Seus Diabos Dentro Dela (2025), na cearense Cave, galeria que estreia na feira nesta edição.

Deborah Paiva (1950-2022), Mato Grosso do Sul. No Parque I (2015), em exposição solo da artista no estande da Janaina Torres Galeria.

Nádia Taquary, Bahia. Nanã (2025), no estande da galeria baiana Paulo Darzé, que promove um diálogo entre Taquary e Goya Lopes.

Alê Jordão, São Paulo. Obras da série Trolleys (2025), no estande da galeria Choque Cultural.

Alcides Pereira dos Santos (1931-2007), Bahia. Os Carros (2003), em exibição no estande do projeto Novo Para Nós, focado na arte popular.

Gustavo Diogenes, Ceará. Uno para Cavaggio II (2025), na Leonardo Leal, do Ceará.

Di Cavalcanti (1897-1976), Rio de Janeiro. Sem título (1969), no estande da carioca Flexa, que traz obras ligadas ao erotismo.

Genor Sales, Goiás. Vejam Como as Águas de Repente Ficam Sujas (2025), na goiana Cerrado Galeria.

Ana Amorim, São Paulo. Black Linen Drawing (2020), no estande da Galeria Superfície. Ana também está em cartaz na capital paulista em uma individual no MAC-USP.

Marepe, Bahia. Contatos Espaciais (2020), em exibição individual pela Galeria Luisa Strina.
Publicado em VEJA São Paulo de 22 de agosto de 2025, edição nº 2958.