Desde 18 de agosto, um pequeno acampamento começou a se formar diante da Arena Anhembi. Na semana passada, cerca de trinta jovens faziam revezamento para ser os primeiros a passar pelos portões do local na próxima sexta (26), data marcada para o aguardado show da cantora americana Miley Cyrus.
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Trata-se de um dos ídolos dos adolescentes que mistura atitude libertária e irreverente, dentro e fora dos palcos, a roupas de grife e estilo de vida glamouroso. De certa forma, ela reinterpreta e atualiza o papel desempenhado por Madonna nos anos 80, quando a estrela pop chocava com suas coreografias e vídeos erotizados.
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“Não compensaria gastar tanto para ver tudo de longe”, afirma o estudante Luis Henrique Zerbinatto, de 20 anos. Um dos que fazem parteda vigília na Avenida Olavo Fontoura, dormindo em barraca, improvisando banhos com garrafinhas d’água e sobrevivendo de esfihas e bolachas de água e sal, ele gastou cerca de 400 reais no ingresso.
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Os preços, sem a taxa de conveniência, variam de 280 a 650 reais (pista normal e pista premium, respectivamente). Até a quarta passada, 17, ainda havia locais disponíveis nos dois setores. Na noite do espetáculo,a promotora do evento, a Time for Fun, espera reunir por lá uma plateia de aproximadamente 35 000 pessoas.
O séquito formado em torno da artista espera com ansiedade por canções como We Can’t Stop e Wrecking Ball, hits da turnê mundial que ganhou a estrada depois do lançamento do álbum Bangerz, no ano passado. O circo pop já passou por 21 países.
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No palco, uma banda formada por sete integrantes divide o espaço com quinze dançarinos. O cenário é composto de uma estrutura de 16 toneladas, aí incluídos a iluminação, as caixas de som e um telão. Em uma apresentação recente, realizada em Porto Rico e acompanhada pela repórter Daniela Pessoa, a espevitada cantora de 21 anos surgiu no palco rebolando freneticamentee alvoroçando cerca de 10 000 fãs entre 12 e 25 anos que assistiram à estreia do espetáculo na fase latino-americana da turnê.
Muitas das moças ostentavam um corte de cabelo idêntico ao da popstar e o mesmo tipo de roupa curta e insinuante que ela costuma exibir fora dos shows. Enquanto isso, em frente à casa de espetáculos, outros jovens, dessa vez militantes de grupos religiosos, gritavam e protestavam contra a forasteira famosa por sua atitude iconoclasta e debochada.
Trajando um maiô branco e amarelo muito cavado, decorado com plumas nos ombros, a garota nascida no Tennessee conduziu uma apresentação de arrepiar, não tanto pela qualidade musical, mas sim pela ousadia. Ela dançou o twerk, passo que lembra os movimentos dos funks mais proibidões daqui, praticou contorcionismo com a língua, acariciou o próprio corpo com as mãos e simulou ações com seus parceiros de palco capazes de assombrar espectadores desavisados.
Dizendo-se de ressaca, bebeu água e cuspiu jatos na plateia e provou da piña colada oferecida por um fã. Na canção de encerramento, Party in the USA, fez apologia do uso da maconha. A apresentação que a cantora fará no Anhembi será praticamente idêntica à feita em Porto Rico.“Como em todo show pop, eu me permito brincar e fazer graça com a sexualidade e coisas do tipo”, afirmou Miley à repórter Daniela Pessoa em entrevista realizada por telefone na última quarta (17).
“O espetáculo é hipersexualizado justamente para ser engraçado. Mas, acima de tudo, meu objetivo é educar. Quero levar educação às pessoas com boa música. Quando eu era mais nova, da idade de muitos dos meus fãs, escutava Led Zeppelin, Beatles… Meu pai também gostava de me fazer ouvir e cantar músicas de mulheres poderosas como Joan Jett e Etta James. No show, faço muitos covers legais. Acho muito rasas e superficiais as pessoas que vão me ver e prestam atenção apenas no que é chocante.”
Filha do astro da música country Billy Ray Cyrus, Miley despontou para o estrelato aos 13 anos no seriado infantil Hannah Montana, que estreou em 2006 e foi exibido até 2011 pelo canal pago Disney Channel. Depois do fim do contrato, a garota decidiu mudar radicalmente. Contratou o empresário Larry Rudolph, conhecido pelo trabalho com Britney Spears, cortou e tingiu os cabelos e lançou o disco Bangerz, em outubro de 2013.
O clipe de Wrecking Ball, no qual ela aparece completamente nua sobre uma bola dedemolição, e um editorial fotográfico repleto de poses ousadas, ambos produzidos pelo fotógrafo Terry Richardson, aumentaram o burburinho. Deu certo: a música rendeu o topo das paradas americanas pela primeira vez e o tal clipe teve mais de 19 milhões de visualizações só no dia em que foi lançado – hoje já são mais de 700 milhões.
No embalo do sucesso, a cantora passou a ser figurinha carimbada das colunas de celebridades. No início do mês, por exemplo, foi notícia ao aparecer de topless na disputada festa que o estilista americano Alexander Wang promoveu durante a semana de moda de Nova York. Dias depois, postou no seu Instagram uma foto na qual está nua, tomando banho, coberta apenas pelo desenho de um coração.
No Brasil, um dos indicadores do furacão é o aumento de páginas dedicadas à cantora na internet. As maiores são a TudoMiley e o site MileyBR, que somam 434 000 adeptos no Facebook e 39 500 seguidores no Twitter. “A chegada da turnê éum sonho”, comenta a estudante paulistana Karoll Nunes, de 19 anos, uma das responsáveis pelo MileyBR.
A garota lembra que a turma aguarda o retorno de Miley desde 2011, ano da primeira passagem dela por aqui, e conta que os fãs vão levar lanternas e placas com mensagens, além de fazer coreografias para celebrar o momento. São planos bem menos ambiciosos que o das pessoas acampadas em frente ao local do evento. “Queremos invadir o palco”, planeja Bruna Cavelagna, de 19 anos. A jovem está no grupo que espera o espetáculo na porta da Arena Anhembi e guarda a terceira posição da fila. “A ideia é abraçar, beijar ou pelo menos tirar uma selfie com a Miley”, sonha.